O 5G e as escolas: ‘sem equipamento, não adianta conectividade’, ressaltam gestores
A pandemia da Covid-19 forçou avanços tecnológicos nas escolas públicas de todo país. Em meio ao desafio de usufruir dos recursos digitais após o retorno ao ambiente presencial, a promessa firmada no leilão do 5G de levar conectividade às escolas é comemorada por gestores educacionais, mas também levanta o debate sobre a estrutura das instituições para que a iniciativa signifique algo além do mero sinal de internet.
“Não adianta a internet chegar até determinada escola se ela não tem equipamentos acessíveis e se ela não sabe quais recursos vai utilizar”, destacou Maritê Moro Neocatto, coordenadora do Núcleo de Tecnologia Educacional Municipal da Secretaria de Educação de Santa Maria (RS), durante painel no EdTechs e as Escolas Públicas, evento promovido pelo Tele.Síntese (saiba mais abaixo).
Como exemplo do cenário de desafios na relação entre o 5G e as escolas, Neocatto conta que até 2019, os equipamentos nos colégios de Santa Maria eram ainda do Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional (ProInfo), criado pelo Ministério da Educação, em 1997, e teve última reestruturação em 2007.
“Se os equipamentos são antigos, a tecnologia não vai acompanhar. Não adianta você ter uma velocidade boa”, afirmou a coordenadora.
Neocatto afirma que o município de Santa Maria está trabalhando na promoção da cultura digital. Para isso, contam com a Iniciativa BNDES Educação Conectada (IEC-BNDES), que dá recursos para atividades digitais em ambiente escolar.
Nordeste
Na outra ponta do Brasil, no município de Guaramiranga (CE), o secretário de Educação da região, Matheus Magalhães Rodrigues dos Reis, compartilha da mesma visão sobre a conectividade nas escolas, de que “tudo tem que funcionar de forma paralela”, inclusive, a formação dos profissionais.
“Tem que ter conectividade, infraestrutura e um plano para fazer a execução disso. O que adianta se você não tiver um profissional ali que saiba usufruir? Os nossos estudantes estão bem mais abertos ao novo do que os nossos profissionais”, disse Reis.
O secretário afirma que o município de Guaramiranga está sendo privilegiado, já que o estado possui o Parque Tecnológico da Universidade Federal do Ceará (PARTEC/UFC) e o governo local tem investido no digital. Há previsão de distribuir 25 notebooks para cada escola. Apesar disso, reforça que ainda há desafios financeiros.
“O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) só paga a folha [salário dos funcionários]. Para pagar a folha, ainda precisamos usar 5% do orçamento municipal como um todo. Para eu fazer manutenção, ainda preciso de outros 3%”, explica Reis.
Sudeste
Já Paulo Roberto de Mello Miranda, diretor-presidente da Empresa Municipal de Multimeios da Prefeitura do Rio de Janeiro (MultiRio), destacou outros desafios de infraestrutura que os estudantes cariocas sofrem.
“Uma situação privilegiada não é a realidade do Rio. Há escolas que não consigo chegar nem com telefonia. Fora outras questões de segurança pública, domínio de regiões pelo crime organizado”, afirma o diretor.
Apesar das dificuldades, Miranda destaca que a instituição têm se dedicado na mudança. Durante a pandemia, houve a produção de mais de 3 mil videoaulas, que se somou ao acervo de conteúdos digitais da MultiRio que já conta com mais de 10 mil materiais, inclusive séries e animações, que estão à disposição do público. “O esforço que se faz hoje é de não perder essa base que nós temos”.
EdTechs e as Escolas Públicas
O Edtechs e as Escolas Públicas é um evento virtual promovido pelo Tele.Síntese, que reúne especialistas e representantes da comunidade educacional para compartilhar e debater os desafios de conectividade.
As apresentações ocorrem entre esta quinta, 4, e sexta-feira, 5. A inscrição é gratuita. Confira a programação neste link.