Nunes: Brasil precisa provar que tem ambiente competitivo e favorável a novos negócios
*Por Antonio Nunes, CEO da Angola Cables
O ano de 2019 será de extrema importância para a indústria das telecomunicações, particularmente na América do Sul. Um dos fatores que contribuem para esta avaliação é que os países da região estão mais bem preparados em todo um conjunto de infraestruturas de Telecom. O Brasil, por exemplo, está se tornando um hub de tecnologia de cabos submarinos. Segundo o TeleGeography, há no país 13 em operação e há a previsão de ativar mais cinco até 2021. A expansão teve o reforço de investimentos de OTTs, o que modificou o desenho internacional das rotas de comunicação. O Sinditelebrasil, sindicato que representa as companhias do setor registrou que os investimentos das empresas de telefonia celular aumentaram mais de 12% em 2018. Até setembro do ano passado, essas empresas investiram R$ 20,5 bilhões. Para efeito de comparação, em 2017, o investimento foi de R$ 18,2 bilhões.
Cabe destacar também que a implantação do 5G no país será um grande passo em termos de alinhamento tecnológico com as principais nações do mundo. Resta saber quais empresas investirão definitivamente nesta nova era. Em relação a estrutura de Data Centers, este é um mercado também em franca expansão: estudo realizado pela Frost & Sullivan revela que só na América Latina, esse segmento movimentou US$ 2,87 bilhões no ano passado, sendo o Brasil responsável por uma fatia de 47,6%. Até 2021 esta receita deverá subir para US$ 4,37 bilhões.
Podemos esperar, portanto, que os países da América do Sul assumam um papel mais central no cenário de Telecom, tornando-se grandes eixos digitais. O mercado de cabos, por exemplo, deve contribuir cada vez mais com os países em desenvolvimento à medida que alcançarem maior capacidade digital e passarem a atender à demanda de dados das economias desenvolvidas.
A chegada de novos cabos a Fortaleza, com tecnologia e tempo de latência mais avançados, não só garantem o atendimento às demandas de tráfego da região, como também promovem a abertura de rotas inovadoras e alternativas entre África, Europa, América do Norte e do Sul e Ásia. Com isso, o Brasil e os países do hemisfério Sul estarão mais conectados e em uma posição mais favorável para o desenvolvimento de suas economias. A construção desta ponte digital trará para a região a oportunidade de desenvolver mais e novos negócios, em diferentes áreas dos setores produtivos, como os da agricultura, educação e saúde.
As perspectivas também são favoráveis ao mercado de nuvem, que avança progressivamente. As tecnologias em nuvem deverão crescer aproximadamente 7,9% em 2019 em países emergentes como Brasil, conforme aponta relatório da Gartner. Uma tendência predominante no mercado atual é o crescimento na demanda do consumidor por conteúdo digital via aplicativos de smartphones e pela rápida ascensão da computação em nuvem. As empresas de cabos submarinos podem aproveitar essa oportunidade de capitalização, investindo verticalmente em Data Centers e serviços de nuvem. Isso porque, ao possuir um Data Center, as empresas podem oferecer preços mais acessíveis e melhores opções de conectividade, já que controlam os cabos pelos quais o IP viaja.
Soma-se à expansão do mercado de nuvem as Tecnologias como 5G e dispositivos IoT, que estão se tornando cada vez mais proeminentes em todo o mundo e no Brasil não será diferente. De acordo com a Associação Global System for Mobile Communications (GSMA), o país possui hoje 218 milhões de conexões móveis ativas, sendo 79% em smartphones. A conectividade 5G vai se expandir para todas as regiões e, a partir daí, é natural que uma explosão na produção e consumo de dados ocorra, com o avanço de dispositivos capazes de se comunicarem uns com os outros. Essas novas tecnologias e novas fontes de dados inevitavelmente levarão a um aumento na demanda pela construção de novas redes de Telecom com mais capacidade e velocidade.
Paralelamente, para responder a esse mercado, a indústria de cabos submarinos precisa evoluir e inovar, para que possam atender à maior demanda dos consumidores por largura de banda e por dispositivos IoT. Há de se considerar que ainda há muito o que ser feito em termos de infraestrutura 5G no Brasil. O país precisa provar que o ambiente nacional é competitivo e favorável a esses negócios. Assim, uma menor regulação e impostos mais compatíveis para o setor de Telecom seriam fundamentais para atrair investimentos em 5G.
Mesmo 2018 tendo sido um bom ano para o Hemisfério Sul em termos de progressão digital, o patamar de desenvolvimento que o mercado precisa requer um ambiente favorável para atrair investimentos imediatos, assim como de médio e longo prazos. Os países da região veem este direcionamento como uma excelente oportunidade para alcançarem autonomia e eficiência digitais, com a mentalidade de que a implementação de toda uma rede digital avançada vai capacitar tanto empresas quanto consumidores. Há uma oportunidade real para países emergentes apostarem em sua própria modernização, a exemplo da criação das rotas alternativas às que existem hoje nas telecomunicações globais e com impactos tais como desenvolver as relações econômicas na região do Atlântico, garantido aos agentes do mercado e a toda sociedade elevada qualidade na eficiência digital.
António Nunes, CEO Angola Cables