Novas oportunidades econômicas dependem do acesso à banda larga
Por Patrícia Vello*
No ano em que a privatização do setor de telecomunicações no Brasil atinge a maioridade, o país vive um dos seus maiores desafios – a limitação dos serviços de banda larga fixa. Em mercados mais maduros e menos regulamentados, como os EUA, as operadoras tradicionais procuram limitar ou controlar o uso de sua infraestrutura, e muitas já oferecem serviços com custos adicionais para o consumo acima da largura de banda contratada ou descontos para os assinantes com base no consumo utilizado em seus contratos.
Uma pesquisa realizada pela Teleco, respeitada consultoria do setor, mostra que houve queda de 10% na rentabilidade das operadoras no Brasil entre 2000 e 2015. Por esse motivo, as operadoras de rede no país buscam redução de custos (CAPEX/OPEX) e maneiras de otimizarem a utilização dos seus recursos, alcançando a escalabilidade com melhor eficiência. O caminho para o sucesso envolve identificar as estratégias para aumentar o acesso à banda larga em todo o país.
Conectividade impulsiona os resultados dos negócios
Como toda empresa hoje sabe, conectividade e banda larga são cruciais para o sucesso de qualquer negócio. Mas você já pensou no impacto econômico mais amplo? Segundo dados da Comissão UNESCO/ITU de Banda Larga para o Desenvolvimento Digital, um aumento de 10% na penetração da banda larga em um país proporciona um adicional de 1,3% no crescimento do produto interno bruto (PIB). É difícil imaginar um investimento que tenha uma influência tão significativa na economia como esse.
Apesar de sabermos dos enormes benefícios de uma sociedade conectada, a edição 2016 do relatório “O estado da banda larga” das Nações Unidas revelou que, até o final desse ano, cerca de 3,9 bilhões de pessoas – mais da metade da população mundial – ainda não terão acesso à Internet. A falta de acesso à banda larga limita o desenvolvimento de novas funções, serviços e crescimento, reforçando a importância de políticas públicas que visem reduzir o atraso da conectividade, aumentando o acesso à Internet para as comunidades urbanas, remotas e rurais.
A necessidade de ampliar o acesso à banda larga é evidente, mas tornar isso realidade pode ser um verdadeiro desafio. Os países precisam apoiar um modelo de negócios banda-larga-para-todos que envolva todas as partes interessadas, incluindo governos, empresas privadas e o público em geral. Historicamente, nos países emergentes como o Brasil, o investimento público e privado no setor de telecomunicações tem sido baixo. Na verdade, o investimento público acumulado em telecomunicações no Brasil de 2009 a 2014 somou R$ 149,7 bilhões. Como resultado, o país tem visto pouca penetração de mercado para telefonia fixa, telefonia móvel e banda larga.
Segundo a pesquisa da ONU, o Brasil é o 71º pais do mundo quando se trata de acesso à Internet percentualmente por indivíduo – ainda havia 84 milhões de brasileiros desconectados até meados de 2015. Em termos de velocidade, a situação é ainda pior. O Brasil ocupava a 89ª posição – atrás da Argentina, Chile e Uruguai – no mesmo ranking em 2015.
Estamos vivendo em uma época na qual as tecnologias digitais têm impacto direto sobre o PIB das nações. Serviços em nuvem, rede sob demanda e virtualização estão se tornando cada vez mais onipresentes, e as empresas e os usuários finais esperam que os serviços de conectividade estejam disponíveis o tempo todo. De acordo com o último relatório da CEPAL, entre 2005 e 2010, a Internet representou de 0,5% a 5,4% do PIB dos países emergentes, e de 1,7% a 6,3% nas economias mais desenvolvidas. Em ambos os casos, especialmente nos países emergentes, o consumo privado representou a maior proporção. No Brasil, a representatividade da Internet é inferior a 2%, enquanto na Suécia, a líder do ranking, ela chega a quase 7%.
Serviços melhores são responsabilidade de todas as partes interessadas
Os governos federais desempenham um papel essencial no aumento da implantação da banda larga. Eles têm o poder de garantir que a regulamentação das telecomunicações e as políticas fiscais não tenham somente um viés de tecnologia, mas que realmente promovam a adoção generalizada de serviços de banda larga e estimulem a concorrência no mercado. Mas não deveria estar unicamente no governo a responsabilidade de garantir que a infraestrutura certa para permitir que isso aconteça esteja disponível. Instituições privadas como as operadoras, entre outros, também deveriam assumir sua parte da responsabilidade.
A boa notícia é que as operadoras públicas e privadas no Brasil estão se esforçando para recuperar o atraso em relação ao resto dos países da OCDE, investindo na implantação e ampliação de redes. De acordo com o BNDES, espera-se que o investimento em serviços de telecomunicações, data centers e provedores de Internet no Brasil alcancem 141 bilhões de reais entre 2015 e 2018 – um aumento de 37,8% em comparação com os quatro anos anteriores.
À medida em que a reforma das telecomunicações facilita o aumento da implantação da banda larga e continua a crescer a demanda por conteúdo dos usuários atuais da Internet, as operadoras terão de escalar economicamente a capacidade das suas redes a um ritmo acelerado dentro de um mercado cada vez mais competitivo, para apoiar com sucesso as demandas dos usuários finais – e ajudar a cumprir a promessa econômica da banda larga. Na verdade, o valor da banda larga não está restrito à taxa de transferência de dados, mas sim às aplicações que o serviço de alta qualidade suporta, como o acesso rápido aos registros de saúde, o ensino à distância ou o comércio eletrônico. A lista é interminável e se estende por todo os tipos imagináveis de usuários – e depende da disponibilidade da infraestrutura certa.
Nesse momento, as operadoras têm a oportunidade de transformar suas redes em ativos mais estratégicos que possam prestar novos serviços, oferecendo uma oportunidade para governo, empresas privadas e público se unirem e melhorarem o acesso à banda larga e assim impulsionarem o crescimento econômico. O valor da banda larga de qualidade é fundamental para uma economia moderna e esperamos que, ao fornecer os recursos necessários, ela se converta em empresas mais competitivas e prosperidade para as nossas comunidades.