Nem todos os casos de uso da 5G são viáveis, alerta a Huawei

Para fabricante, cirurgia remota e automação de fábricas de aeronaves são exemplo de aplicações que ainda estão longe de ter escala e, portanto, ser viáveis. Mas cases de conectividade via redes privadas em portos, indústria manufatureira e minas têm o sucesso comprovado.

Com o leilão 5G concluído e as operadoras planejando a implantação das novas redes, o mercado já começa a deixar claro o que pode e ou que não pode acontecer com a chegada da tecnologia. Muitas das promessas de revolução em diferentes áreas demorarão anos até que se concretizem, e podem até mesmo nunca se tornar realidade.

Carlos Roseiro, diretor de soluções integradas da Huawei, defende que o mundo tem dois tipos de mercados em que a 5G se desenvolve com sucesso, mas de modo distinto: na Coreia do Sul, tudo funciona e se viabiliza, mas no resto planeta, escala e redução de custos são fatores cruciais para justificar investimentos e a popularização de aplicações.

Ao participar de painel no evento virtual Futurecom Digital Week nesta segunda, 8, Roseiro relatou as experiências de sucesso na China e na Europa. Segundo ele, a fabricante identificou oportunidades para implantação de redes privadas em portos, pois existem 4,3 mil portos no mundos, e todos vão se beneficiar de uma transmissão de dados ágil e eficiente para melhorar seus processos internos.

Da mesma forma, conectar o setor de manufatura e o setor de mineração permite redução de custos, e muitos países do planeta têm parque industrial relevante ou exploram minas que poderão se beneficiar da tecnologia.

Mas há aplicações muito propaladas que a Huawei constatou não serem financeiramente atraentes para as operadoras. É o caso da cirurgia remota. “O custo deste caso de uso é muito alto, a escala de aplicação não é tão grande, então consideramos que isso vá ficar em ‘stand by’ ainda por um tempo”, alertou.

Outro exmplo de água na fervura foi da conectividade 5G em plantas de construção de aeronaves. Pelos cálculos da Huawei, o custo é enorme para levar a tecnologia a estas fábricas, e são muito poucas unidades mundo afora, o que não justifica um desenvolvimento focado neste nicho no momento.

Por fim, o executivo lembra que o 5G, no começo, será capaz de gerar receita com o serviço tradicional de conectividade B2B das operadoras, facilitando a substituição da banda larga aDSL por banda larga fixa baseada na rede móvel. Na Europa, as operadoras têm tido sucesso em conectar postos de gasolina dessa forma. O 5G também permite a instalação de sistemas de monitoramento em vídeo de melhor resolução, trazendo mais segurança a estes postos.

“Em todas as gerações a indústria fica procurando a ‘killer application’. No resto do mundo, com exceção da Coreia, que é um caso à parte, a ‘killer application’ vem a ser a experiência de uso, as aplicações funcionando com maior rapidez e menor latência.

TIM e Oracle

Leonardo Capdeville, CTIO da TIM, acrescentou que um caso de uso brasileiro será a agroindústria. Atualmente, a operadora cobre com 4G áreas extensas de plantio para telemetria da produção. Com a 5G, afirmou, será possível desenvolver tratores autônomos, trazendo ganhos de eficiência no plantio e na colheita.

Outro setor que ele vê transformando-se em razão da chegada da 5G é o automotivo. A TIM fornece conectividade de soluções para o grupo Stelantis, que produz Fiat, Jeep, entre outras marcas. Os carros da fabricante saem com chips de rede 4G da TIM de fábrica. A operadora também tem piloto em 5G de automação industrial na planta da montadora, localizada em Pernambuco.

Para Moisés Medeiros, diretor sênior de vendas da Oracle, alguns caos de uso da 5G, ainda que inviáveis financeiramente, devem ser pensados não apenas pelo viés da receita gerada às operadoras, mas também considerando-se o impacto social.

É o caso das aplicações em saúde, como a cirurgia remota que Roseiro, da Huawei, disse não compensar. “No início pode não valer à pena, mas conforme cresce a cobertura e pensa-se no benefício humano, faz sentido”, defendeu Medeiros.

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Rafael Bucco

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