MVNOs cobram mudança na regulação
Próximo de completar 10 anos (o que acontecerá em 2020), o regulamento para as operadoras móveis virtuais se provou um entrave à entrada e sobrevivência de empresas no segmento.
O entendimento de executivos de diferentes empresas é de que, por um lado, o modelo de autorizada é oneroso demais para garantir a sustentabilidade e obter rápido retorno sobre o investimento. Enquanto o modelo de MVNO credenciada se resume a participar do SMP como mero canal de revenda para as operadoras maiores.
Tal dicotomia levou as MVNOs a ter apenas 0,6% do mercado móvel. Ao menos esse foi o diagnóstico de quem está trabalhando ativamente no segmento, durante o Fórum de Operadoras Alternativas, que acontece hoje, 2, em São Paulo.
“No modelo autorizada você é uma operadora de telecom, sujeita às cobranças como operadora. No de credenciada, a empresa é um dealer. Não tem um meio termo, uma forma de ser uma operadora sem ter de fazer grandes investimentos”, afirmou José Luiz Pelosini, vice-presidente da America Net.
A America Net entrou ano passado no segmento móvel como MVNO autorizada, usuária da rede da TIM. Até o momento obteve 17 mil clientes, com meta de alcançar 1,1 milhão até 2023. O que é perfeitamente possível, no entender do executivo, diante do alto número de portabilidade numérica, de cerca de 100 milhões ao ano. Vende serviços móveis para o setor corporativo e varejo em 12 cidades, com perspectiva de chegar a 100 localidades em cinco anos.
Para Pelosini, o sucesso no segmento das MVNO virá apenas entre empresas que apostarem em nichos de mercado ou que usem o celular para complementar ofertas, que é o caso da America Net.
Modelo enxuto
Alberto Blanco, CEO da Veek, MVNO que usa a rede da Surf Telecom, que por sua vez usa infraestrutura da TIM, também defendeu mudanças regulatórias. “Acho que falta um modelo no meio também. Uma autorizada é uma operadora full, apenas sem frequência. Se tivesse uma alternativa no meio seria bom. As autorizadas são muito caras, e as credenciadas não têm flexibilidade para operar como desejarem”, falou.
A Veek foi fundada por ele em 2017 e tem no momento 80 mil clientes. Segundo sua experiência, se pudesse voltar no tempo e reiniciar o projeto com o conhecimento adquirido, conseguiria gastar um terço do investimento feito. Não sendo possível, sugere que novas regras ajudariam a reduzir riscos e perdas dos entrantes.
Para ele, é importante uma regulação que detenha abusos por parte das operadoras donas de espectro e rede. “Não dá pra negociar com a grande operadora, é muito desproporcional. Sou contra regulamentação de preços no atacado. Mas acho que tem de haver alguma regra para proteger o cara menor”, observou.
Fistel
Daniel Fraga, CMO da Surf Telecom, uma MNE, operadora virtual especializada em viabilizar outras MVNOs, também critica a dureza do regulamento para o surgimentos de novas empresas. “Tem várias obrigações da regulamentação que não são fáceis. Tem que ter CNPJ em todos os estados, ter relacionamento com todas as operadoras. Hoje estamos confortáveis com isso, mas seguir esse passo a passo não é fácil para startups”, afirmou.
O Fistel, (Fundo de Fiscalização das Telecomunicações, que recolhe taxas anuais de funcionamento das estações) embora não inviabilize, atrapalha a velocidade com que o as operadoras virtuais obtêm retorno sobre o capital. “Existe a necessidade de redução do Fistel. No pré-pago, recuperamos o valor da taxa apenas depois de três ou quatro meses com o cliente em carteira. Hoje faz parte da equação, tem que se pagar”, lembrou Fraga.