Movimento de M&A terá como protagonistas ISPs e redes neutras em 2022

As fusões e aquisições (M&A) entre ISPs continuarão a todo vapor. Redes neutras buscam infraestrutura para expandir a rede própria, segundo especialistas das assessorias financeiras IT e Advisia.

Em 2021, o movimento de fusões e aquisições (M&A) no setor de telecomunicações brasileiro foi intenso. Três operadores estrearam na bolsa de valores e conduziram transações de aquisição de provedores de internet de menor porte pelo interior do país. Grandes operadoras compraram ativos valiosos, fundos entraram no segmento de redes neutras, torreiras foram atrás de mais sites diante da demanda forte esperada em razão da chegada da 5G.

E apesar de tanta coisa ter acontecido, as assessorias financeiras apostam que em 2022 o número de transações vai superar o de 2021.

O valor deve ficar aquém, obviamente, se considerarmos que a Oi Móvel, a V.tal, a Fibrasil e a I-Systems, – os maiores acordos em termos de preço pago pelos novos sócios -, foram eventos do ano passado.

Mas, se considerarmos que as vendas de Oi Móvel por R$ 16,5 bilhões e do controle da V.tal por R$ 12,9 bilhões ainda não foram concluídas, e o pagamento acontecerá neste ano, então é fácil supor que também em movimentação financeira o ano terá recordes para a área de M&A.

Já começou quente

Este ano de 2022 já começou com uma grande transação de M&A. A Nova Fibra, do grupo ABL, passou a integrar o grupo formado por Copel Telecom, Sercomtel e Horizons. Segundo o jornal Valor Econômico, o preço do negócio foi de R$ 500 milhões, pagos em cash e em ações. Agnaldo Lopes, fundador da Nova, será sócio de Nelson Tanure no grupo e terá assento no conselho de administração, apurou o Tele.Síntese.

A IHS, sócia da TIM na empresa de rede neutra I-Systems, desembolsou semana passada R$ 1,7 bilhão por determinados ativos da Torresur no país.

Estes são apenas dois exemplos de M&A no setor. Segundo assessorias financeiras, os provedores de internet estão ainda mais engajados na consolidação este ano. Ao passo que as redes neutras começam a olhar ativos dos pequenos para ampliar de forma inorgânica suas áreas de abrangência.

Demanda crescerá por mais cinco anos

Para Gustavo Barros, fundador da IT Investimentos, não existe razão para o mercado reduzir a marcha. Em 2021, a assessoria foi responsável por intermediar 15 negócios, que movimentaram R$ 2,5 bilhões entre ISPs. Entre os quais, a venda da Lpnet para a Desktop, maior deal de fibra ótica residencial do país, que teve o valor anunciado de R$ 340 milhões.

“Atualmente a IT Investimentos está com 30 processos em andamento no setor de telecom e prevê que o ano de 2022 vai continuar aquecido, assim continuando o movimento da consolidação”, resume o executivo.

Nos últimos 2 anos, a Alloha fibra, controlada pela EB Capital, fez 10 aquisições de provedores de internet, somando mais 1 milhão de assinantes atualmente. A Desktop, controlada pela H.I.G Capital, fez 6 aquisições, somando 470 mil assinantes. Já a Unifique fez 25 aquisições, somando mais de 468 mil assinantes. Parecem muitos negócios, mas basta lembrar que existem no país mais de 12 mil ISPs registrados na Anatel.

O provedor que quiser participar do movimento de M&A precisa se preparar, alerta. “Em nossa visão, os principais vetores para aumentar o valor de um ISP são o número de acessos, alto nível de governança corporativa, ticket médio e uma rede estável. Os fundos de investimentos estão seguindo essa tese na hora da aquisição”, afirma Gustavo Barros.

Segundo os dados a IT Investimentos, a previsão é que a demanda por banda larga do consumidor siga alta e cresça sem parar até 2026, o que justifica a pressa por consolidação neste momento. Atualmente, o Brasil tem penetração de internet de 75,68%. Esse número chegará a 84,30% daqui a cinco anos.

Separação estrutural, só para quem tiver base grande

Para André Alves, sócio da Advisia Investimentos, e Laura Rodrigues, vice-presidente da assessoria financeira, em 2022 veremos não apenas os ISPs capitalizados ou de maior porte comprando provedores menores, como veremos continuidade do surgimento de novos provedores em áreas não atendidas do país, e negociações conduzidas pelas operadoras de rede neutra surgidas em 2021.

“Haverá ainda muita demanda, com novos compradores com caixa e apetite. Além disso, os grupos que compraram muito em 2021 devem continuar com a agenda este ano”, diz Laura Rodrigues. A seu ver, o cenário macroeconômico “duvidoso” levanta a bandeira amarela em relação a M&As, mas não vai impedir a realização de novos negócios.

“Por cenário macroeconômico duvidoso, queremos dizer que o acesso a capital está mais difícil devido à elevação das curvas de juro em vários países. Isso sempre dificulta. Mas a geração de caixa que os clientes [ISPs] apresentavam em 2021 não deixou de existir em 2022. O valor das operações continua o mesmo”, observa André Alves.

A Advisia intermediou ano passado 14 transações de fusão ou aquisição, que movimentaram por volta de R$ 1 bilhão. Entre os principais negócios estavam a consolidação da Proxxima, que reuniu oito ISPs, da Blink Telecom, que juntou três, a venda da Nexa e da Ultrawave para a Americanet, e da Giganet para a Vero. Atualmente, a assessoria atende 20 ISPs que buscam sócios ou a venda integral das operações, espalhados pelo Brasil.

Segundo Alves, muitos provedores vão iniciar ainda a estratégia de separação estrutural entre redes e clientes, uma vez que a parte de fibra pode ser interessante e diferentes tipos de investidores. Mas ele alerta que essa estratégia é para poucos. “Só faz sentido para quem tiver 100 mil assinantes ou mais. Depende de um negócio consolidado e bem estruturado”, observa.

Segundo dados de novembro de 2021 da Anatel, 25 empresas no país tinham carteira com mais de 100 mil clientes. Vale lembrar, porém, que os números da agência contam com subnotificação e que, de novembro até hoje, já aconteceram aquisições que podem ter colocado mais ISPs neste seleto rol.

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Rafael Bucco

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