Morre Luiz Tito Cerasoli, 20 anos após a reforma de telecom que construiu

Tito participou da formulação do modelo de privatização do setor e integrou o primeiro conselho diretor da Anatel. O enterro será nesta quarta-feira, 1, no cemitério Jardim da Saudade, às 10 horas, no Rio de Janeiro.

 

 

Faleceu dormindo. Como desejam muitos, mas só os sonhadores conseguem. Luiz Tito Cerasoli, 68 anos, foi o sonhador que conseguiu transformar em realidade muitos de seus sonhos.

Engenheiro, carioca e botafoguense de coração, Tito tinha também outras duas paixões: o seu país e as telecomunicações. E não é possível desvincular uma da outra. Oriundo de família humilde, trabalhou para pagar os estudos. Começou sua carreira na Standard Eletric (1972 a 78), foi para a Telesp (78 a 83) e daí para Embratel (83 a 95), empresa que tempos depois dirigiu por quatro anos, assumindo a diretoria regulatória e a presidência da empresa-espelho Vésper.

Mas o seu período como formulador de política pública, no Ministério das Comunicações, como superintendente de serviço público  integrante do primeiro corpo diretivo da Anatel, quando assumiu o cargo de conselheiro em 1998, foi o mais rico, o mais criativo e o que lhe fez mais feliz. Tito, mesmo depois que partiu para a iniciativa privada, não deixava de pensar o país, o setor, e de que forma poderiam ser encontradas soluções para incluir os excluídos digitais brasileiros.

Profundo conhecedor da formação de preços do setor de telecomunicações, Tito foi guindado pelo ex-ministro das Comunicações, Sérgio Motta, para participar da elaboração do novo modelo de telecomunicações (que acaba de completar 20 anos). Foi o responsável pela formulação tarifária de um segmento monopolista para o setor privatizado e em competição. Tarefa difícil, complexa, para a qual ele se dedicou sempre com o olhar do melhor para o país. O tempo em que passou no MiniCom fortaleceu o seu conhecimento – e suas convicções – sobre o novo modelo de telecomunicações que estava sendo criado.

Com a certeza de que somente a competição poderia assegurar serviços de melhor qualidade, inovação e massificação do acesso, Tito foi o formulador, enquanto na Anatel, da portaria 101 – que estabelece a relação de controle entre os grupos empresariais de maneira muito mais estrita que a própria Lei das Sociedades Anônimas. Essa norma, ao longo desses 20 anos, conseguiu impedir que os mesmos grupos econômicos se cruzassem no comando das empresas de telecomunicações, o que não acontece em distintos outros segmentos produtivos brasileiros.

Foi ele também que propôs, em 2012, a união das redes de telecomunicações dos governos Federal e estaduais em uma única rede nacional para, como defendeu à época, “levar as atividades do setor público à periferia das cidades e às regiões mais remotas, mesmo àquelas sem energia elétrica e sem telefone, sem que o governo tenha custos adicionais”.

Tito deixa duas filhas, três netas. E muitas saudades.

A Anatel divulgou a seguinte nota oficial:

O Conselho Diretor da Anatel lamenta profundamente o falecimento do ex-conselheiro Luiz Tito Cerasoli. Conselheiro da Anatel no período de 18/1/1999 a 4/11/2003, foi também superintendente de Serviços Públicos da Agência.

Luiz Tito Cerasoli nasceu em 19 de julho de 1950 no Rio de Janeiro (RJ). Trabalhou no Ministério das Comunicações onde foi diretor de Tarifas e Preços (1995-1997) e fez parte da Comissão de Licitação das concessões da Banda B (telefonia móvel) ao setor privado.

Iniciou sua carreira em telecomunicações antes mesmo de sua graduação como engenheiro de Telecomunicações em 1972.  Seu primeiro trabalho foi na Standard Electric (1972-1978), daí em diante em empresas de telecomunicações do Sistema Telebrás (1978-1995). Durante sua passagem pelo Sistema Telebrás, trabalhou na Telesp (1978-1983) e Embratel (1983-1995).

Foi presidente do Grupo Telecomunicações para a América Latina da União Internacional de Telecomunicações (UIT) e membro da delegação brasileira na última rodada de negociações do Acordo de Telecomunicações na Organização Mundial do Comércio (GATS/WTO – General Agreement on Trade in Services / World Trade Organization).

A Anatel reconhece no ex-conselheiro Luiz Tito Cerasoli a sua dedicação, caráter, conhecimento, e seu companheirismo para todos que tiveram a honra de trabalhar com ele. Destaca ainda a importância do seu trabalho na consolidação da Agência. 

atualizado na terça-feira, 31 de julho.

 

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Lia Ribeiro e Miriam Aquino

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