Mavenir tem núcleo 5G e Open RAN como áreas mais estratégicas
A fornecedora Mavenir promete trabalhar com software em qualquer nuvem e que não faz distinção entre 2G, 3G e 4G. “Tudo é software”, declara o head de Pré-Vendas para América Latina e Sul da Europa da Mavenir, Antonio Tostes.
A companhia tem mantido duas áreas de maior foco: core de pacote 5G Standalone (SA) e Open RAN. De acordo com Totes, ambos pilares são estratégicos por representarem as áreas mais relevantes para as operadoras.
A expectativa da companhia é participar da implantação de uma possível rede neutra na faixa dos 700 MHz adquiridos pela Winity. Segundo Tostes, a Mavenir já está conversando com a entrante. A companhia também está em contato com os provedores que adquiriram lotes regionais durante o leilão 5G. Por enquanto, diz o executivo, são apenas conversas preliminares enquanto as empresas montam seus business cases.
Tele.Síntese – Vocês trabalham muito com rede neutra. Mas, além disso, estão focando em alguma outra tecnologia para 5G?
Tostes – Eu diria que a gente foca muito mesmo em dois pilares do 5G. Um pilar seria core de pacote 5G SA. E o outro pilar é o acesso baseado na tecnologia Open RAN.
O core de pacote 5G é totalmente diferente. É uma tecnologia muito mais nova, os padrões tecnológicos são outros bem diferentes. Para a gente é estratégico o tema do core de pacote 5g, que na verdade todas as operadoras que estão lançando cinco 5G SA no fundo vão precisar de um core de pacote 5G SA.
Tele.Síntese – O que muda com o core de pacote 5G?
Tostes – Toda tecnologia G entra com uma padronização definindo blocos de composição que são diferentes. Por exemplo, o 3G tinha blocos de componentes diferentes do 4G e o 5G tem blocos componentes diferentes do 4G.
O core 5G é super interessante. Em redes, a gente sempre teve protocolos ditos de rede de telco. O core de pacote 5G é basicamente o protocolo HTTP2, que é um protocolo de web. Os paradigmas são diferentes.
O http é um protocolo que muito mais pessoas dominam do que padrões de sinalização extremamente complexos de telecomunicações, como DSS7. Não vou dizer que populariza a tecnologia, mas a torna mais acessível.
Tele.Síntese – Fica mais fácil desenvolver novos produtos e serviços?
Tostes – Mais de desenvolver, mais fácil de manter, mais fácil de escalar, de criar novas funcionalidades.
Tele.Síntese – A Mavenir fabrica softwares de rede nativa de nuvem. Qual a importância da nuvem para a 5G?
Tostes – 5G e nuvem são dois assuntos que não podem ser separados. Eu até faria uma distinção que a gente fala muito em nuvem e a Mavenir fala é um outro conceito. A Mavenir é uma empresa cujo lema é uma rede de telecom única, não fazemos distinção entre 3G, 4G, 5G. Tudo é software.
Os nossos concorrentes, hoje, têm uma abordagem muito mais de provedores de equipamentos de rede, e não de software. O provedor de equipamento de rede vende um hardware específico e um software. A gente não. O negócio da Mavenir é software, em qualquer nuvem.
Os volumes que a gente está falando de 5G são volumes extremos.Na verdade, isso começou com as Amazons, Googles, os WhatsApps da vida. As cargas são extremadas e não podem ser tratadas como uma carga estática. Essas clouds se adaptam muito a demanda.
Por exemplo, eu estou na Amazon, e a companhia percebeu que tem um volume extremamente alto de streaming de música, e não de shopping. Ela instância mais contêineres para tratar streaming de música, baixando os que estão tratando comércio tradicional.
Isso com 5G vai ser uma capacidade extremamente necessária. São redes que vão tomar milhares de dezenas de milhares de decisões de configuração de serviços em um tempo muito curto. Cada vez mais, vamos ver os data centers da TIM, Vivo, Claro e Oi se tornarem grandes data centers web scale.
Tele.Síntese – E qual tem sido a estratégia da Mavenir para se consolidar no mercado de Telecom aqui no Brasil? Vocês já se consideram bem consolidados aqui?
Tostes – A gente está em um momento muito bom. Geralmente, o mercado percebe que realmente é uma questão de software, que é importante o software obedecer padrões e abrir as caixas e interfaces de proprietários. A Mavenir já tem muitas soluções em grandes operadoras no Brasil. Por exemplo, toda a parte de mensageria da Oi, é nossa. A gente tem soluções de antispam de SMS nas operadoras.
A nossa estratégia é investir muito nesse core de pacote 5G e no Open RAN também. Essas já são as áreas mais relevantes dentro de uma operadora. Ela investe muito dinheiro em acesso, em core.
Esta é a nossa estratégia: entrar cada vez mais nas áreas de core e de acesso das operadoras e dos provedores de serviço. Esses players que ganharam os blocos regionais nos leilões são muito importantes também.
Tele.Síntese – A companhia já está conversando com esses vencedores?
Tostes – Estamos, sim. A gente conversa bastante.
Tele.Síntese – Vocês podem dar alguns detalhes?
Tostes – Por enquanto, eu não posso dar muitos detalhes. Além de serem conversas preliminares, esses grupos estão montando seus business cases. Estão em fase de levantamento de informação: quanto custa a montar essa infraestrutura, quanto tempo vai demorar para fazer um deployment de uma rede 5G, para lançar os sites e para ser capaz de oferecer o serviço de Fixed Wireless Access (FWA) em uma cidade específica média.
Tele.Síntese – A Winity também é um dos novos players em redes móveis com a aquisição da faixa de 700 MHz. Há uma expectativa de que a provedora utilizar sua faixa para compartilhamento de rede. A Mavenir está conversando com essa empresa
Tostes – A gente está conversando bastante com eles.
Tele.Síntese – Tem alguma possibilidade de participação da Mavenir dentro dessa rede neutra?
Tostes – Esperamos que sim.
Tele.Síntese – A Mavenir fez reuniões com a Anatel em agosto para discutir a Open RAN. Qual a expectativa de vocês para Open RAN no Brasil?
Tostes – A gente acha que o Open RAN vai ser fundamental para o 5G. Open RAN e 5G tem tudo a ver porque a gente está falando da história das nuvens, dos data center, das web scale clouds.
É uma tecnologia muito mais flexível. Ela permite que você combine elementos de infraestrutura de uma forma muito mais inteligente. 5G é sobre baixa latência. Para ter baixa latência, precisa de muito mais pontos de presença e sair com tráfego na borda. Quando você coloca o Open RAN na equação, vê que pode montar um serviço com rádio, core, software de inteligência artificial, de análise de imagens.
Muitas operadoras também veem isso.
Tele.Síntese – Vocês têm trabalhado com a Anatel para implementação do Open RAN no Brasil?
Tostes – No dia em que estava acontecendo o leilão, fizemos uma reunião com Baigorri. A Anatel vê com bons olhos o tema do Open RAN. Para uma agência reguladora, é ótimo você ter padrões, abrir um pouco mais as coisas.
Tele.Síntese – Há também um Grupo de Trabalho para discutir o Open RAN e avaliar a possibilidade de regulação do Open RAN nos próximos 24 meses.
Tostes – Eu diria assim de regulação, de permitir ter um ecossistema mais propenso à adoção do Open RAN, que tenha regulamentações que fomentem a adoção de um padrão e verificar que medidas você pode tomar para ajudar a tecnologia, para ajudar o padrão a decolar
Tele.Síntese – A avaliação da Mavenir é de que esse GT vai possibilitar a regulação do Open RAN ou não?
Tostes – Acho que sim, vai ser super positivo.
Tele.síntese – Quando já poderíamos ter uma rede Open RAN 5G no Brasil?
Tostes – Nós já fizemos um projeto de Open RAN em duas cidades do Nordeste do Brasil com a operadora Telefônica Brasil. É super interessante porque o cell site ficava a 500 km do data center. Mas era uma rede LTE.
A verdade é que a tecnologia em nível de rádio, de produtos, já poderia ser lançada no mês que vem. Eu acho que talvez o mercado seja um pouco mais conservador e demanda um tempo de maturação maior. Mas eu acho que em 2022 essas redes vão acontecer.
Tele.Síntese – E quando haverá uma massificação maior do Open RAN?
Tostes – Por volta de 2023.
Tele.Síntese – Um artigo de sua autoria afirmava que o 5G vai ter sua principal aplicação dentro das empresas em redes privativas, e que as empresas não querem construir uma experiência de gestão de telecomunicação. Elas querem novas redes de soluções abertas que substituam as tecnologias celulares, “opacas e obtusas que ninguém jamais entendeu”. Qual vai ser o papel das operadoras de telecom nesse contexto?
Tostes – A gente não entra substituindo as operadoras. Quem faz esse core de rede com esses clientes são as operadoras. O que a gente oferece são soluções de acesso e de core que são basicamente as mesmas redes, o mesmo acesso e core em versões diminuídas.
Tele. Síntese – E a Mavenir entra nesse contexto para facilitar?
Tostes – Isso. Para facilitar e oferecer a implantação dessas redes. Tem várias arquiteturas de implantação de um serviço com mais ou menos componentes que estão nas redes das operadoras. E mais ou menos componentes que estão nessas empresas. Existem variações de arquitetura.
Tele.Síntese – A Mavenir lançou recentemente a plataforma Mavenir Digital Ememblement (MDE) que visa facilitar o desenvolvimento de serviço 5G pelos Prestadores de Serviço de Comunicação. Como as operadoras podem monetizar isso?
Tostes – Hoje, as operadoras têm plataformas muito complexas e muito custosas que demandam um exército de gente para fazer as manutenções, criar os planos e um catálogo de produtos e serviços. A gente diria que essas arquiteturas BSSs são de uma geração mais antiga muito engessada, que demanda um esforço de desenvolvimento muito alta.
A MDE é toda conteinerizada, baseada em microsserviços, roda em clouds públicas, privadas e híbridas. E é muito mais focado na facilidade de desenvolver produtos e ofertas novas. Ela [a plataforma] incorpora o conceito de desenvolvimento que foi usado em 5G e em layers de comunicação com terceiros muito mais modernos. São plataformas muito mais flexíveis.
Tele.Síntese – Como a plataforma irá construir o ecossistema da quinta geração?
Tostes – Permite uma abordagem em camadas muito mais apropriada para as verticais de uso do 5G, permitindo que parceiros se acoplem nessa plataforma.