Mais frequência, muito mais dados
[O Tele.Síntese está publicando semanalmente as reportagens especiais presentes na última edição do Anuário Tele.Síntese de Inovação 2018, que aponta tendências e rumos do setor de telecomunicações brasileiro.]
Mais frequência, muito mais dados
As operadoras celulares que atuam no país já começaram os testes, em seus laboratórios, para a tecnologia 5G na faixa de 3,5 GHz. Mas dos testes, onde um dos quesitos importantes é a mitigação da interferência das antenas parabólicas que recebem sinais de TV aberta nessa faixa de frequência, até a instalação das redes deverão se passar pelo menos quatro anos. Não se espera a operação comercial da 5G no Brasil antes de 2022.
Por isso, até lá boa parte do investimento e da atenção vai estar concentrada na evolução das redes 4G, com novas funcionalidades para garantir, do lado das operadoras, maior e melhor cobertura e maior velocidade de downlink e uplink e, do lado do cliente, melhor experiência de navegação na rede e no consumo de aplicativos, especialmente vídeos e games.
Se as operadoras realizarem o investimento total esperado de R$ 28 bilhões a R$ 30 bilhões em 2018, R$ 17 bilhões deverão ir para a infraestrutura. A maior fatia caberia à Telefônica Vivo, que disse que iria aplicar R$ 24,5 bilhões no triênio – média de R$ 8, 13 bi por ano –, seguida da Oi, com R$ 7 bilhões. O plano trienal da TIM Brasil prevê
investimentos de R$ 5,3 bilhões/ano e a Claro não abre números. Analistas estimam que deva investir pouco mais que a TIM.
O que se viu em 2018 foi o início da massificação do que começou no ano anterior: mais cidades cobertas por redes 4,5G ou 4G+ (o nome varia, a depender da operadora), uma evolução da 4G, conhecida como LTE Advanced Pro, onde há na rede agregação de portadoras, o que permite melhor cobertura; uso da tecnologia MIMO 4×4 (com a
comunicação entre torre e aparelho estabelecida por quatro antenas de transmissão e quatro antenas de recepção); e adoção da modulação de sinais em 256-QAM (Quadrature Amplitude Modulation) no downlink e 64-QAM no uplink.
Claro, TIM e Vivo, que compraram a faixa de 700 MHz, agregaram esta faixa na prestação do serviço de telefonia móvel em todas as cidades onde o sinal de TV analógica foi desligado. Em agosto o sinal já tinha sido liberado em todas as capitais. Em São Paulo, o desligamento ocorreu no final de julho e as celulares, que já estavam com a infraestrutura preparada, correram para cumprir as exigências burocráticas da Anatel e colocar a frequência
em operação em parte de suas estações radiobases.
Segundo André Sarcinelli, diretor de Engenharia da Claro Brasil, os indicadores já apontavam, no início de agosto, um aumento do tráfego de dados na capital paulista e um crescimento do throughput médio entre 40% e 50%. “A maioria dos clientes passou a usar a faixa dos 700, houve uma captura indoor”, comenta ele. O mesmo crescimento de tráfego foi detectado na rede da Vivo, mas nada diferente do que aconteceu nas demais grandes cidades onde
se agregou a faixa de 700 MHz, relata Átila Branco, diretor de Engenharia Móvel da operadora.
A Claro, que vem trabalhando com a agregação de três faixas de frequência para atender seus clientes na rede 4,5G (2.600 MHz, 1.800 MHz e 700 MHz), pretende, em 2019, usar espectro de frequência não licenciada do WiFi em 2.400 MHz e 5.500 MHz. No ano passado, apresentou um teste que lhe permitiu atingir velocidade de 1 gigabit por segundo. Para agregar essas frequências, espera o lançamento comercial do chipset pela Qualcomm, prometido
para o primeiro trimestre do ano que vem. “Em seguida, deverão chegar ao mercado os primeiros terminais”, diz Sarcinelli. Outra faixa de frequência que a empresa vem agregando ao 4G, quando possível, é a de 2.100 MHz, antes usada para o 3G.
Já a Vivo vai iniciar os testes para acrescentar uma quarta portadora aos seus clientes da rede 4G+, nome que deu ao serviço, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Com a solução dos problemas técnicos, vai poder acrescentar os 10 MHz da banda P da faixa de 2.600 MHz, que comprou no primeiro leilão da 4G. “No final
do dia, o que faz a diferença é ter mais banda para agregar dados”, resume Branco.
Sem o apoio da faixa de 700 MHz, que tem feito toda a diferença no avanço da cobertura para seus concorrentes, a Oi, quarta colocada na ranking da telefonia móvel celular, não tem outra alternativa para ganhar mais espectro no 4G do que o refarming da frequência de 1.800 MHz. Iniciou o projeto de refarming desta frequência em abril
deste ano, liberando 10 MHz para utilização para o serviço 4G nas regiões metropolitanas de Fortaleza e Salvador, que já é operado na faixa de 2.600 MHz. A operadora escolheu começar o refarming da 1.800 MHz pelo Nordeste por ter na região uma vantagem competitiva na telefonia móvel em relação às concorrentes. Segundo José Claudio
Moreira Gonçalves (Naval), diretor de Operações da Oi, a rede móvel da operadora está sendo atualizada com soluções e funcionalidades do LTE Advanced Pro e ela já tinha iniciado, em agosto, a implantação do serviço de Voz sobre LTE.
Se os números da Oi são modestos para este anos, só 43 cidades com 4,5G, pretende investir, na próxima década, em 1.160 localidades prioritárias, R$ 8,8 bilhões, para um retorno, além do investimento, de R$ 6,6 bilhões, segundo Carlos Brandão, CFO da companhia, ao anunciar os resultados do segundo trimestre deste ano.
Para a TIM, o serviço VoLTE já estava consolidado – não é a única que oferece o serviço, mas é a que mais investe nele. No final de junho deste ano, ela contabilizava 1.13O cidades usando a frequência de 700 MHz, que lhe permite ativar o sistema VoLTE, ampliando a cobertura em voz da companhia e a velocidade dos acessos móveis à internet.
“São 5 milhões de usuários de voz em HD, com melhor qualidade, menor nível de queda de chamada e estabelecimento da chamada de quatro a cinco vezes mais rápido do que a convencional”, explica Homero Salum, gerente de Engenharia da TIM Brasil.
Rede robusta
Cada uma no seu ritmo, as operadoras vêm preparando suas redes para suportar o crescimento do tráfego de dados e de serviços. E isso requer investimentos no backbone e no backhaul. “Estamos trabalhando num ritmo de interligar com fibra quatro mil sites ao ano”, conta Branco, da Vivo. “Vamos interligar 1.200 cidades com fibra ao backbone até 2020”, diz Salum, da TIM. Até o final deste ano, 80% dos sistemas do backbone nacional de longa distância da Claro serão baseados em tecnologia fotônica, que integra o transporte IP e óptico, informa Sarcinelli.
A preparação das redes para o futuro passa também pela virtualização de funções da CPE do usuário corporativo no data center, o que começa a ser oferecido pelo grupo Claro aos seus clientes empresariais. O CPE continua na casa do cliente, mas as funções estão no data center. “Este é um projeto de longo prazo. Vamos fazendo a virtualização dos elementos, aos poucos. Com a virtualização, o cliente não precisa comprar um pacote de serviços de uma só vez. Pode comprar um serviço e, quando sentir necessidade de outro, é só adquiri-lo e adicioná-lo pelo portal”, explica Sarcinelli.
A virtualização da rede faz parte do padrão definido pelo Grupo Telefônica, pois é essencial para suportar o fatiamento de rede, conceito que faz parte da tecnologia 5G, e é visto pelo diretor de Operações da Oi como essencial para o avanço das estruturas das redes. “Cada vez mais, as redes vão evoluir para uma estrutura virtualizada e de controle centralizado (NFV/SDN), promovendo maior escalabilidade, flexibilidade e otimizando custos/investimentos”, diz Naval.
A caminho da IoT
Muitas das aplicações de Internet das Coisas (IoT), especialmente a mais antiga e difundida no Brasil, que é a transmissão de dados do terminal ponto de venda, quando se passa o cartão de crédito ou débito em qualquer maquininha, não exigem nenhuma rede sofisticada. Aliás, a grande maioria dessas máquinas está pendura em redes 2G. E elas dão conta dessas aplicações porque a quantidade de dados enviada é pequena. O mesmo ocorre com
o monitoramento de frotas, outra aplicação de IoT bastante comum feita em redes 2G e 3G.
Mas existem aplicações que demandam maior volume de dados a ser transmitido. Ou que precisam de uma rede com uma melhor cobertura indoor ou capaz de captar um sinal de um sensor que está enterrado. Em casos como estes, explica Eduardo Polidoro, diretor de Negócios da Embratel, as redes LTE dedicadas à IoT, baseadas nos padrões LTE
Narrow Band (NB-IoT) e LTE CAT-M1, são mais adequadas.
São focadas principalmente na cobertura indoor, têm baixo custo, bateria de longa duração e alta densidade de conexão. Usam um subset do standard do LTE, mas se limitam a uma largura de banda de 200 kHz. Enquanto a primeira é usada para aplicações cujos dados têm que passar de uma ERB para outra, a segundo é indicada para aplicações que não demandam esse tipo de mobilidade.
Tanto a Embratel, com sua parceira Claro, quanto as demais celulares que atuam no país estão trabalhando para evoluir suas redes 4G para suportar aplicações NB-IoT e CAT-M1. Polidoro conta que tem desenvolvido ações para realizar trials com parceiros. A Vivo, que tem 41% da base de sete milhões de conexões M2M do Brasil segundo o
Gartner, registrava, no final de julho, dois milhões dessas conexões monitoradas em tempo real pela plataforma Smart Center. Segundo Antonio Cesar Santos, especialista em Gestão da Inovação da Vivo, a operadora já prepara a plataforma para fazer a gestão de dispositivos certificados nos padrões NB-IoT e CAT-M. “Se vamos evoluir a rede, temos que escalar a plataforma”, disse ele.
A rede da Oi, assegura seu diretor de Operações, já suporta a ampla maioria de aplicações e dispositivos para IoT hoje existentes. E Naval acredita que, nos próximos anos, o mercado de IoT ainda será predominantemente de aplicações fixas e de curto alcance. No caso da rede móvel, diz ele, para atender a futuras demandas, vão ser implementadas novas funcionalidades e recursos como suporte às tecnologias de LPWA (Low Power Wide Area), tanto NB-IoT quanto CAT-M1.