Lobby para manter frequência de TVA é grande, apesar da iniciativa da Globo

A Globo devolveu à Anatel as frequências de TVA que tinha no Rio de Janeiro e São Paulo, mas diferentes grupos (econômicos e religiosos) querem transformar esse serviço em TV aberta

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O gesto das organizações Globo, que deu entrada na Anatel com o pedido de devolução de 6 MHz de frequência do serviço de TVA que possui nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, deve se transformar em um argumento de peso na reabertura dos trabalhos do Congresso Nacional, que  voltará a discutir o PL 2.611 de 2015  . Argumento contrário à aprovação desse projeto.

O projeto, de autoria do deputado Marcos Soares (PR/RJ), filho do missionário RR Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, quer transformar 24 licenças de um serviço de telecomunicações em  TV aberta, sem licitação e sem pagar  nada por isso. Para isso, o projeto precisa mudar a Lei do SeAC (nova Lei de TV paga), que estabeleceu um fim determinado e certo para essas empresas: quando acabar o prazo da concessão do Serviço Especial de TV por Assinatura (TVA). 

E as concessões dessas operadoras terminam quase todas no próximo ano, com umas últimas em 2019. Terminam e não podem ser renovadas, como diz a Lei do SeAC. As frequências, destinadas a telecom, devem voltar para a União, quando a Anatel poderá  licitá-las para oferecer mais serviço de banda larga móvel ou outra oferta de telecom.

Só que, a não ser a Globo, que decidiu devolver as suas frequências, quem tem essas empresas e não migrou para o SeAC, faz um forte lobby no Congresso Nacional para mudar a lei, e ganhar, de graça, emissoras de TV aberta.

TVA

O Serviço Especial de TV por Assinatura nasceu como um apêndice à regulamentação de telecom e de radiodifusão. Ele foi criado em 1988, quando ainda não tinha TV por assinatura no país. A ideia era que essas emissoras de TV UHF se transformassem nas primeiras TV pagas do país. Mas só tinham um canal. A  “ideia criativa” da época foi dividir um tempo em TV aberta e um tempo em TV fechada.

Hoje, a maioria das empresas  atua como se TV aberta fosse, pois só “fecha” o sinal (conforme as regras da Anatel, os sinais deveriam ser fechados 51% do tempo) à noite, quando não há mais audiência.

A distribuição das licenças à época se deu da maneira mais obscura possível – sem qualquer licitação ou cobrança pela frequência – e 24 “sortudos” ganharam essa outorga. Entre eles, grupos de mídia poderosos. Além da Globo, a Abril ganhou e depois comprou algumas licenças, passando a ter presença em sete capitais. Band também possui uma licença em São Paulo e outros grupos políticos no Nordeste, Espírito Santo e Minas Gerais (em BH).

O grupo de RR Soares  comprou quatro emissoras da Abril. E as outras três foram vendidas para o empresário Paulo Abreu ( que tem a TV Tupi). Eles encabeçam e lideram o forte lobby no Legislativo para ganhar esses canais. O projeto de Macedo já foi aprovado por unanimidade da Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicações (CCTI) da Câmara, e aguarda relator na CCJ (comissão de Constituição e Justiça).

Tudo o que esse grupo quer é que esse projeto seja aprovado na CCJ como foi na CCTI, sem muito alarde, para que possa ser encaminhado diretamente ao Senado Federal e lá também sua votação seja concluída ainda este ano.

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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