Liberação dos 6 GHz para Wi-Fi é justiça no uso do espectro, defende Abrint
Painel do Abrint Global Congress aponta desequilíbrio no uso do espectro no Brasil e propõe urgência na liberação da faixa para uso não licenciado, inclusive para aplicações outdoor.
Painel realizado na quinta-feira, 8, no Abrint Global Congress 2025, discutiu a urgência da liberação total da faixa de 6 GHz para uso não licenciado, com ênfase na ampliação da cobertura Wi-Fi, especialmente em aplicações outdoors.
Para Cristiane Sanches, representante da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), a liberação integral do 6 GHz é uma questão técnica e de justiça no uso do espectro. “Temos mais de 22 mil MHz alocados, atribuídos ou em estudo para redes móveis. Já para o uso não licenciado, como o Wi-Fi, são apenas entre 80 e 560 MHz. Isso é um disparate que compromete a eficiência e o acesso à conectividade”, afirmou.
Sanches defendeu que a Anatel avance na liberação imediata da faixa de 6 GHz para uso outdoor, com base em acordos já prontos e sistemas técnicos em funcionamento, como o Automated Frequency Coordination (AFC), adotado nos EUA e Canadá. “Já temos tudo pronto. Basta liberar onde não há controvérsia, e seguimos discutindo o restante”, completou.
Segundo ela, no Brasil 89% dos assinantes de banda larga fixa utilizam Wi-Fi como principal meio de acesso à internet, o que reforça o caráter de interesse público dessa tecnologia. “Wi-Fi é um interesse comum. Dizer que o 6 GHz é o leilão do 6G é desinformação — essa faixa nem sequer tem padronização para isso ainda. Temos espaço para debates com a Anatel e com o governo sobre o tema.”
Agenda internacional pressiona Brasil a agir
Martha Suarez, presidente da Dynamic Spectrum Alliance, comparou a situação brasileira frente ao cenário internacional. De acordo com ela, desde 2023 a discussão técnica sobre a faixa 6 GHz avançou muito nas Américas. “Antes havia certa unanimidade entre os países da região. Hoje, cada um segue em um estágio diferente. O Reino Unido, por exemplo, acaba de fechar uma consulta pública para liberar toda a faixa de 6 GHz para Wi-Fi, inclusive o uso externo — algo que ainda não temos no Brasil, mas deveríamos”, destacou.
A presidente apontou ainda que, enquanto essa discussão avança no mundo, operadoras brasileiras já sinalizaram que só pretendem usar a faixa a partir de 2030. “Se não vão usar agora, por que barrar o uso não licenciado? Podemos garantir o acesso via Wi-Fi e, se necessário no futuro, discutir compartilhamento de espectro.”
Ela também chamou atenção para a explosão no número de dispositivos conectados. “Nos EUA, já há residências com até 24 dispositivos simultâneos. Isso demanda mais canais, mais largura de banda. O Wi-Fi em 6 GHz atende exatamente essa necessidade.”
Leilões exclusivos prejudicam inovação e acesso, diz Artigo 19
Raquel Renno, da organização Artigo 19, alertou para os riscos de se leiloar a faixa de 6 GHz para uso exclusivo das redes móveis. “Em alguns países, 75% do tráfego de dados acontece dentro de casa, via Wi-Fi. Isso é ainda mais evidente em regiões onde a população depende de equipamentos acessíveis e conexões fixas com mais estabilidade”, afirmou.
Renno argumentou que dispositivos de nova geração, como os voltados à realidade aumentada e jogos imersivos, exigem redes robustas. “Esses equipamentos serão prejudicados se não houver Wi-Fi potente, e os consumidores vão culpar os provedores de internet.”
Ela também contestou a ideia de esperar a implementação completa do 5G antes de liberar o 6 GHz. “Onde está esse 5G todo? Ainda estamos esperando e, enquanto isso, perdemos tempo. A inovação está sendo engolida por decisões políticas lentas”, criticou.
Participação internacional e urgência regulatória
Com a recente entrada da Abrint na União Internacional de Telecomunicações (UIT-R), a associação promete participar com mais intensidade do debate internacional. Para Cristiane Sanches, é preciso que o Brasil também assuma um protagonismo técnico. “Temos condições, acordos, sistemas. A hora de agir é agora. O Wi-Fi é parte central da infraestrutura digital do país”, defendeu.