Leilão 5G: “Fiz a minha parte, mas não depende só de mim”, desabafa presidente da Anatel

O adiamento do leilão de 5G, inicialmente previsto para março, está agora sem data para ser remarcado. Para sua confirmação é preciso da realização da consulta pública da proposta do edital.

O adiamento do leilão de venda de espectro para a tecnologia de quinta geração, previsto para março de 2020, mas agora sem data para ser realizado, não seria a vontade do presidente da Anatel, Leonardo de Morais, que vê na venda de frequências a oportunidade de o Brasil avançar na massificação do acesso à banda larga e a ingressar na era da sociedade da Internet das Coisas (IoT) e da transformação digital a ser vivenciada por inúmeros países.

Atualmente, conforme a GSA,  293 operadores, em 94 países que estão investindo ativamente em 5G. E 26 operadoras em 16 países tinham em operação comercial redes 5G.

Embora considere legítima a preocupação dos radiodifusores – em relação à interferência nos serviços de TV aberta via satélite com a ocupação da frequência de 3,5 GHz pela telefonia celular – Morais entende que há soluções técnicas para mitigar esse problema. Para ele, a consulta pública a ser lançada antes da elaboração definitiva do edital pode contribuir bastante com soluções para esse debate.

  • Fiz a minha parte, mas não depende só de mim, desabafou ele, ao confirmar o adiamento do leilão ao Tele.Síntese. 

A formulação da proposta do edital a ser lançado para a consulta pública está nas mãos do conselheiro Vicente Aquino, que mantém conversações com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC) em busca de alternativas à proposta formulada pela área técnica da agência.

Conforme técnicos da Anatel, o problema da interferência nesse serviço de TV vem sendo levantada desde que a agência quis direcionar parte dessa frequência para uma outra tecnologia de banda larga móvel, o WiMax, que acabou não se consolidando.

Mas esse espectro já foi identificado pela UIT (União Internacional das Telecomunicações) como um daqueles que devem ser destinados para a telefonia móvel, que, a cada dia, precisa de mais frequências para atender ao crescimento exponencial do consumo de dados em todo o mundo. E no Brasil não é diferente.

Uma mesma frequência harmonizada globalmente significa que os equipamentos – de rede e dos usuários finais – podem ficar mais baratos. Na economia digital, a escala é um fator importante.

O Brasil é o único país do mundo que utiliza um pedaço desse espectro para a TV aberta, solução que conseguiu atender aos telespectadores que não tinham acesso aos sinais de TV analógica, há anos atrás, e que foi obtida depois de muita pressão das emissoras de TV comerciais. Mas, em mais um tempo, acabará obsoleta,  à medida que os sinais de TV digital terrestre avançarem pelo território brasileiro.

Quem paga a conta

Nessa disputa, o que há, na verdade, é saber quem vai pagar a conta para que a TV aberta possa continuar a conviver enquanto avança a tecnologia 5G móvel. Depois da bem sucedida implantação da TV digital terrestre, para a qual as operadoras de celular desembolsaram nada menos do que R$ 3,5 bilhões para remunerar os usuários de baixa renda, na disputa atual, ao contrário, não há como justificar a imputação desse ônus aos clientes do celular, que no final é quem pagam a conta sob a forma dos preços cobrados pelas operadoras.

O secretário de Telecomunicações do MCTIC, Vitor Menezes, já afirmou ao Tele.Síntese que entre as alternativas técnicas para resolver essa questão estariam o uso de parabólicas maiores ou o uso de outra frequência satelital, a banda Ku. Mas o fato é que, ao contrário do que se propagava durante anos pelos quatro cantos, de que haveria  22 milhões de residências que dependiam de assistir à TV através desse serviço (TVRO), conforme esclareceu o IBGE, as residências que têm acesso exclusivo são pouco mais de 6 milhões.

Ainda assim um número significativo. Mas desse total, quantas são as casas de campo, de praia, de montanha, balneários, de lazer, que são mantidas por pessoas que não precisam de qualquer subsídio para trocarem as suas antenas? Ou colocarem um filtro? Não é crível que vá se criar um subsídio, prejudicando o serviço que todos querem – o celular – para quem pode pagar. O MCTIC deverá se pronunciar. A conferir.

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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