Indústria de semicondutores carece de financiamento estatal e mão de obra, diz estudo
Para viabilizar o progresso da indústria doméstica de semicondutores, os governos precisam financiar e conceder incentivos às fábricas, além de estimular a formação de profissionais para atuar nas áreas de design e manufatura, indica um estudo da associação do setor dos Estados Unidos. O relatório também aponta que restrições ao comércio exterior, em vez de fortalecer a produção local, afetam negativamente o crescimento da indústria.
O estudo da Associação da Indústria de Semicondutores (SIA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos ressalta que o design de chips responde por aproximadamente metade de todo o investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) do setor. No entanto, com a sofisticação dos microchips, os custos dessa etapa do processo de produção estão aumentando, de modo que as empresas precisam contar, cada vez mais, com financiamento estatal.
“A competição global no design de chips está aumentando à medida que outros países apoiam ativamente o desenvolvimento de seus próprios setores de design”, destaca o relatório. “Por exemplo, o setor de chips sem fábrica da China dobrou em receita – de US$ 12 bilhões para US$ 24 bilhões – entre 2017 e 2020”, acrescenta.
Como consequência dos incentivos localizados, em um período de cinco anos, a participação da economia norte-americana nas receitas gerais da indústria de semicondutores caiu de 50%, em 2015, para 46%, em 2020. Caso o país não adote uma ação mais contundente do que a lei de chips, estima-se que a participação caia para 36% ao fim desta década.
O relatório também enfatiza a importância de promover o desenvolvimento da força de trabalho na área de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Isso porque a crescente demanda por chips aumenta a necessidade de trabalhadores capacitados para atuar no setor. No caso dos Estados Unidos, a escassez estimada é de 67 mil funcionários nas atividades de design e manufatura até 2030.
Adicionalmente, a entidade argumenta que políticas de restrição de mercado tendem a enfraquecer a indústria. Acontece que, como os investimentos em P&D estão em alta, tarifas e bloqueios às exportações dificultam o acesso a mercados externos pelos produtores, o que aumenta o risco de os investimentos não trazerem os retornos esperados.
Indústria brasileira
Em palestra na semana passada, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, defendeu que o Brasil ocupe espaço na produção global de semicondutores, reforçando que o insumo faz parte do projeto de retomado do crescimento do setor industrial no País.
No fim de junho, o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), empresa pública que atua no segmento de chips, foi retirado oficialmente do programa de desestatização. O processo de privatização estava em andamento, mas havia sido barrado por cautelar do Tribunal de Contas da União (TCU).
Também na semana passada, o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, em evento com a presença de autoridades, como o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, reforçou o coro por uma política nacional de fabricação do insumo, o que diminuiria a dependência de cadeias externas de produção.
Vale destacar que, conforme a balança comercial do setor elétrico e eletrônico, os semicondutores lideraram as importações no primeiro semestre deste ano, totalizando US$ 2,7 bilhões.