Incêndios e queimadas impactam telecom, mas não alcançam infraestruturas críticas

Dados da Anatel mostram que operadoras não passam ilesas da onda de incêndios registrada em 2024, mas a redundância das redes evita que haja apagão.

Os incêndios e as queimadas que assolam o Brasil em 2024 já causaram interrupções dos serviços de operadoras e provedores de banda larga, mas não alcançaram nenhuma infraestrutura crítica. Na maioria dos casos, os problemas foram solucionados no mesmo dia graças às redundâncias das redes.

Conforme levantamento feito pelo Tele.Síntese com base nos dados de interrupção de serviço disponibilizados pela Anatel, entre 13 de agosto e 13 de setembro, foram registradas 78 quedas de rede por causa de incêndios ou queimadas. A seca no país facilita com que o fogo tocado em terrenos se alastrem, causando os estragos.

Brasília (DF), 24/08/2024 - Brigadistas do Instituto Brasília Ambiental e Bombeiros do Distrito Federal combatem incêndio em área de cerrado próxima ao aeroporto de Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília (DF), 24/08/2024 – Brigadistas do Instituto Brasília Ambiental e Bombeiros do Distrito Federal combatem incêndio em área de cerrado próxima ao aeroporto de Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A agência começou a coletar tais informações há exatamente um ano, em setembro de 2023, e não tem, portanto, dados comparativos para o mesmo período ainda. Entretanto, segundo o superintendente de controle de obrigações da Anatel, Gustavo Borges, houve um nítido aumento de ocorrências do tipo em 2024.

“No ano anterior, não havia número suficiente desse tipo de incidente para justificar a categorização individualizada”, observa. Segundo ele, os incêndios de 2024 afetam principalmente as fibras que atravessam as áreas incendiadas, levando à queda momentânea do sinal. Mas a topologia previne que haja desconexão prolongada.

“As queimadas estão provocando uma quantidade relevante de ‘rompimentos’ de fibra, mas nem sempre esse rompimento representa uma interrupção de serviço, dado que o setor tem um tratamento de rotas redundantes em muitos casos. Foi feito um levantamento específico sobre eventuais riscos que os incêndios pudessem trazer a infraestruturas críticas, mas não foram identificados riscos às IECs neste momento”, acrescenta.

Segundo Borges, as IECs (infraestruturas críticas) estão afastadas dos focos de incêndio por se concentrarem em zonas urbanas. As queimadas, por sua vez, concentram-se em áreas rurais ou periféricas.

Do total de 78 interrupções registra nos últimos 30 dias, a maioria (54) afetou serviços de banda larga fixa. Algar, Oi, Valenet, TIM, Unifique e Proxxima são as empresas que relataram problemas à Anatel. Na telefonia fixa, a lista (20) é menor: Algar, Oi, Valenet. E na TV paga, foram 4 interrupções, todas identificadas pela Oi. Cada incidente afeta uma quantidade variada de clientes.

Números

Os dados acima dizem respeito apenas a um mês. Mostram que algumas empresas foram mais prejudicadas do que outras pelos incidentes, ou que algumas cidades enfrentaram mais desafios.

Uma queimada derreteu parte dos cabos da Unifique em Blumenau (SC) no dia 16 de agosto. O problema derrubou o acesso de 12,3 mil clientes, cerca de 23% da base da companhia na cidade, por 13h41. Para resolver a questão, a empresa precisou substituir o cabeamento atingido. A TIM também enfrentou queda na cidade, no mesmo dia, que prejudicou apenas 2 clientes.

A Oi ficou praticamente sem capacidade de oferecer internet na cidade de Juazeiro do Norte (CE) em 14 de agosto depois que um incêndio afetou a planta interna, deixando 3,2 mil clientes, 98% da base da empresa ali, sem conexão por 8h31. A solução veio após reparo do equipamento incendiado.

Considerando os totais, a Unifique, por causa do incidente em Blumenau, foi a operadora mais afetada por incêndios ou queimadas entre 13 de agosto e 13 de setembro, com 23,15 mil clientes enfrentando queda momentânea. Em seguida, apareceu a Oi, com 11,8 mil; a Valenet, com 5,7 mil; Algar (2,8 mil); TIM (197); e Proxxima (67). Todos os casos, 44 mil no total, são passíveis de compensação ao consumidor, diz a Anatel.

Em julho houve 100 incidentes envolvendo incêndios ou queimadas. Mais do que em agosto, no entanto a quantidade de clientes afetados foi menor: 35,28 mil. Em junho, foram 105 avisos de incêndio ou queimadas, com interrupção ao serviço de 88,5 mil usuários.

De janeiro a setembro, a Anatel contabiliza 281 mil interrupções de serviços de telecomunicações devido a incêndios ou queimadas. Não houve contabilização específica deste tipo de problema em 2023. Nos meses anteriores a agosto, a lista de empresas afetadas é praticamente a mesma, acrescida pela Claro. A Vivo não reportou incidentes relacionados incêndios ou queimadas, nem o fizeram as regionais Brisanet, Desktop ou Ligga Telecom.

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Rafael Bucco

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