Marco legal para IA avança ao Plenário e acumula propostas de emendas

Sistemas diretamente ligados ao funcionamento algorítmico das plataformas digitais são retirados da lista de alto risco, mas já há sugestões de reinclusão. Próxima votação está prevista para terça-feira, 10.
Comissão aprova PL de IA , que segue ao Plenário | Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Comissão aprova PL de IA , que segue ao Plenário | Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A Comissão Temporária sobre Inteligência Artificial (CTIA) do Senado Federal aprovou nesta quinta-feira, 5, a proposta de marco legal para a tecnologia no Brasil. O projeto de lei seguiu ao Plenário, onde ficou prevista votação na próxima semana. 

O texto que avança para a próxima fase é a sexta versão de um substitutivo construído a partir de proposição formulada em comissão de juristas ao longo de 2022, o PL 2338/2023. Entre a primeira e a última versão, ocorreram diversas flexibilizações. Contudo, senadores já adiantam que haverá tentativa de mais mudanças antes do projeto chegar na Câmara (saiba mais abaixo). 

Em síntese, o projeto estabelece uma classificação de risco para os sistemas de IA (veja lista mais abaixo). Há um grupo com definição de “risco excessivo”, que será expressamente proibido e aqueles considerados de “alto risco”, que devem tomar medidas para garantir os seguintes direitos à pessoa ou grupo afetado por ele:

  • direito à explicação sobre a decisão, recomendação ou previsão feitas pelo sistema;
  • direito de contestar e de solicitar a revisão de decisões, recomendações ou previsões de sistema de IA; e
  • direito à revisão humana das decisões, levando-se em conta o contexto, risco e o estado da arte do desenvolvimento tecnológico.

Entre as medidas previstas está a apresentação de documentações, possuir meios que admitam auditorias e tomar medidas para mitigar e prevenir vieses discriminatórios. 

Para acompanhar o cumprimento da lei, o projeto prevê a criação de um Sistema de Governança e Regulação sobre Inteligência Artificial (SIA), definido como um “ecossistema” a ser coordenado pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) com a finalidade de “promover e garantir a cooperação e a harmonização com as demais autoridades setoriais e entes reguladores, sem vínculo de subordinação hierárquica entre eles, e outros sistemas nacionais para a plena implementação e fiscalização do cumprimento da lei em todo o território nacional com segurança jurídica”.

Ou seja, os órgãos reguladores continuarão responsáveis pelos seus respectivos setores, e a ANPD zelará pela atuação harmoniosa entre eles, seguindo as diretrizes previstas na lei. 

Conforme a proposta, a ANPD, em conjunto com os órgãos setoriais, poderão realizar investigações em casos de suspeita de violação aos princípios, direitos e deveres.

O SIA contará também com um Comitê de Especialistas e Cientistas de Inteligência Artificial (CECIA) com o objetivo de orientar e supervisionar de forma técnica e científica o desenvolvimento e aplicação da IA de forma responsável, e um Conselho Permanente de Cooperação Regulatória de Inteligência Artificial (CRIA), que funcionará como um fórum de colaboração com a ANPD. 

Uma das principais competências do SIA é a possibilidade de incluir ou excluir sistemas da classificação de riscos de IA nos próximos anos, em procedimento que garanta o direito ao contraditório, e mediante avaliação de impacto algorítmico.

Independentemente da classificação de riscos, a lei impõe fundamentos que devem ser observados no desenvolvimento, implementação e uso de sistemas de IA no país, entre eles, a proteção ao meio ambiente, privacidade, proteção de dados pessoais e integridade da informação.

Classificação e mudanças

Os últimos ajustes no relatório, confirmados nesta manhã, incorporam mudanças na lista de sistemas de alto risco, entre eles, o que se destina especificamente às plataformas digitais (provedores de aplicação de internet). 

O trecho retirado considerava de alto risco os sistemas de “curadoria, difusão, recomendação e distribuição, em grande escala e significativamente automatizada, de conteúdo por provedores de aplicação de internet, com objetivo de maximização do tempo de uso e engajamento das pessoas ou grupos afetados, quando o funcionamento desses sistemas puder representar riscos relevantes à liberdade de expressão e acesso à informação e aos demais direitos fundamentais”. 

Ao retirar esse trecho, o relator justificou que “a previsão anterior mostrou-se excessivamente genérica, considerando que a imprecisão técnica pode ter repercussões indesejáveis para setores importantes, vinculados inclusive à proteção de direitos fundamentais”. Ainda de acordo com o relator, “a garantia da liberdade de expressão apresenta-se como premissa básica a qualquer sociedade democrática e o texto ora relatado jamais poderia ser utilizado para afetar essa prerrogativa”. 

Diante disso, as listas ficaram previstas da seguinte forma

IA no Plenário

O projeto de lei prevê que o agente de IA que utilizar conteúdos protegidos por direitos de autor e direitos conexos em processos de mineração, treinamento ou desenvolvimento de sistemas de IA deve remunerar os respectivos titulares. As plataformas desenvolvedoras são contrárias, e alguns parlamentares também.

O senador Marcos Rogério (PL-RO) adiantou a tentativa de debater a questão dos direitos autorais nos sistemas de IA em plenário. O parlamentar também se manifestou contra o fundamento de integridade da informação previsto na lei. Para ele, não está claro "quem vai determinar" o que seria tal integridade.

No texto, o conceito é definido como o "resultado de um ecossistema informacional que viabiliza e disponibiliza informações e conhecimento confiáveis, diversos e precisos, em tempo hábil para promoção da liberdade de expressão".

Apesar do substitutivo prever a integridade da informação entre os fundamentos a serem observados pelos agentes do sistema de IA, o relator já retirou o termo de outras regras, acatando emenda de Marco Rogério, como é o caso da lista de aspectos analisados para identificação futura de sistemas de alto risco, por parte do SIA. No entanto, o parlamentar entende que as modificações ainda não foram suficientes.

No Plenário, o projeto de regulação da IA já contava com mais de 25 propostas de emendas pouco após a chegada. O texto entrou na ordem do dia desta tarde, mas a votação foi adiada, a princípio, para terça-feira, 10.

Durante a sessão, o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), pediu tempo para presentar uma "nota técnica" sobre a proposta aos parlamentares de sua bancada sobre as mudanças promovidas.

Da base do governo, o senador Humberto Costa (PT - PE) também apresentou propostas de mudanças. O parlamentar busca reincluir o trecho retirado do substitutivo sobre as plataformas digitais.

Costa também sugere atribuir ao Conselho de Cooperação Regulatória de Inteligência Artificial a garantir de revisão humana em decisões automatizadas que instituem punições disciplinares e dispensa de trabalhadores.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que confia no trabalho realizado por Eduardo Gomes no relatório do projeto, mas que considerou a vontade coletiva de dar mais alguns dias para a análise.

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura de telecom nos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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