Hospital das Clínicas cria rede privativa aberta 5G
O Hospital das Clínicas inaugurou hoje, 15, uma rede privativa 5G aberta, baseada em arquitetura Open RAN, batizada de OpenCare 5G. Para colocá-la em uso, iniciou um projeto-piloto de ultrassom e tomografia a distância. A rede e solução foram demonstradas nesta manhã, em São Paulo.
A rede foi coloca em pé com o apoio de parceiros: Itaú Unibanco, Siemens Healthineers, NEC, Telecom Infra Project (TIP), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
A Deloitte mobilizou os parceiros. A NEC foi responsável por integrar diferentes tecnologias para fazer a rede celular 5G funcionar utilizando arquitetura Open RAN, que usa 100 MHz da faixa de 3,7 GHz a 3,8 GHz. O Itaú entrou com a hospedagem dos dados, permitindo a implantação de um núcleo 5G modificado para atender requisitos de segurança, capacidade latência da área de saúde.
Ultrassom
Dentro das dependências do hospital das clínicas foram instaladas duas antenas 5G em ambientes distintos. Seguindo o conceito de Open RAN, parte da solução está hospedada no ambiente do HC e o controle da rede no datacenter do Itaú. Em uma das salas são utilizados equipamentos de ultrassom e de tomografia, e em outra sala ocorre a coordenação remota da execução dos exames.
Os testes iniciais entregaram taxas de latência (atraso na transmissão dos dados de uma ponta a outra) em torno de 20 milissegundos e sustentou banda acima de 300 Mbps.
O projeto não é exatamente novo. Marcia Ogawa, Sócia Líder Tecnologia e Telecom da Deloitte, trabalha na busca por parceiros desde antes do leilão do 5G, realizado pela Anatel em novembro de 2021. Ela afirma que a iniciativa agora será testada em situações reais, e será o primeiro dos 50 possíveis casos de uso do 5G na saúde identificados pela consultoria.
Roberto Murakami, CTO da NEC para a América Latina, conta que além da busca por diferentes agentes do ecossistema, a falta de componentes eletrônicos atrasou o projeto, previsto para ser lançado em março.
Segundo Augusto Dantas Nellessen, Superintendente de TI do Itaú, o piloto usou o data center localizado na Av. do Estado, em São Paulo. Mas a intenção do banco é colaborar oferecendo acesso aos servidores localizados em cada uma das 5 mil agências espalhadas pelo Brasil. “Cada agência pode funcionar como um data center edge para aplicações que surgirem depois dessa e que exigirem latência ainda menor”, disse.
Próximo passo
Por enquanto, o grupo trabalha em viabilizar o ultrassom remoto. Conforme explicou Giovanni Guido Cerri, Presidente da Comissão de Inovação do HCFMUSP, estão em andamento conversas para experimentar a solução em hospitais da cidade paulista de Itapeva. A ideia é que um técnico de lá opere o ultrassom, e o laudo seja produzido por médico do HC.
“É uma solução que imaginamos para levar a saúde a mais lugares, ao Norte do país, onde o acesso é mais difícil”, ressalta Ogawa, da Deloitte. Como exemplo, o grupo cita a situação do Pará, onde há aparelhos de ultrassom portáteis disponíveis, mas não há médicos suficientes para operá-los. Conjugar a existência de técnicos ou enfermeiros, com os médicos de outra parte do país seria uma alternativa, avalia.
É cedo, porém, para falar em produto final. Os testes ainda vão começar, e a legislação ainda não autoriza, a não ser para fins experimentais, que a ultrassonografia seja feita por um profissional não especializado. “Mas acreditamos que, com a demonstração de que a solução vem para ajudar e melhorar a assistência aos pacientes, a transformação regulatória se dará naturalmente”, opina Cerri, do HC.