Highline foge do ágio e fica sem lotes no leilão 5G

Operadora de infraestrutura diz que se pagasse ágio dos lotes pelos quais concorreu, teria uma rede neutra móvel com serviços muito caros

Uma surpresa para muitos observadores do mercado de telecomunicações brasileiro foi a falta de lotes vencidos pela Highline no leilão 5G da Anatel, realizado hoje, 4. A operadora de infraestrutura foi comprada pelo fundo Digital Bridge em 2019. Desde então desponta como candidata à aquisição de espectro para constituir o que seria a primeira rede neutra móvel do país.

O plano, no entanto, parece não ter resistido ao modelo competitivo do leilão. A empresa evitou pagar ágios elevados. Com isso, não levou nenhum dos três lotes que disputou.

A Highline apresentou propostas de aquisição do espectro de 700 MHz, cobertura nacional, de R$ 333 milhões. Mas quem ficou com a faixa foi a Winity, do fundo Pátria Investimentos, que propôs R$ 1,4 bilhão, ágio de 805%. A Highline também quis a faixa regional de 3,5 GHz em São Paulo e Norte do país, mas teve sua oferta superada pela Sercomtel, que pagou R$ 82 milhões, com ágio de 719%. Também não conseguiu os 3,5 GHz em Rio de Janeiro, Espírito Santos e Minas Gerais, onde a proposta vencedora foi da estreante Cloud2U, de R$ 405,1 milhões – ágio de 6.266%.

A empresa entrou nos lotes mais disputados, fazendo oferta por três dos sete lotes com ágio mais alto deste leilão. Segundo Paulo Cézar Martins, diretor de Relações Institucionais e Novos Mercados da Highline, a estratégia previa não embarcar na disputa com ágios elevados.

“Uma oferta de ágio elevada no leilão não seria apenas uma adição de custo ao projeto, mas um acúmulo de obrigações adicionais que certamente acarretaria em um aumento no preço de oferta para os nossos clientes, as operadoras”, explica.

Ele conta que a Highline estudou com profundidade o edital, principalmente as questões relacionadas às obrigações mínimas e ao ágio. “Nossa proposta foi e continua sendo a de disponibilizar infraestrutura neutra, de alta qualidade a todas as operadoras de maneira democrática e isonômica. Avaliamos que o mercado móvel no Brasil possui situações e condições altamente desafiadoras, não poderíamos propor ao mercado um novo formato de operação se ele não fosse eficiente e com um custo compatível e razoável para que um novo operador tivesse viabilidade de adentrar no mercado”, diz.

Outra preocupação, afirma, foi evitar que o acúmulo de obrigações levassem a uma competição com as operadoras. “Nunca foi nossa proposta concorrer com nossos clientes. Nosso negócio principal é implementar infraestrutura, investir capital, auxiliar nossos clientes a crescer otimizando o uso do seu capital”, diz.

Embora o tenha ficado sem lotes, o leilão 5G não termina aqui para a Highline. O executivo diz que agora é hora de aprofundar a relação com potenciais clientes e investir em infraestrutura. “Agora vamos procurar os vencedores de todos os lotes e procurar trabalhar com eles, disponibilizar a infraestrutura de nossas 5.000 torres em todo Brasil, nossa capacidade para investir em elementos ativos e as tantas soluções que desenvolvemos em conjunto com os principais fornecedores de tecnologia do setor”, conclui Martins.

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Rafael Bucco

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