Guerra na Ucrânia pode pressionar ainda mais a inflação

Em dois cenários, ata do Copom mantém a perspectiva de a inflação em 2022 superar a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional.
Guerra na Ucrânia pode pressionar ainda mais inflação - Crédito: Flickr BC
Sede do Banco Central, em Brasília – Crédito: Flickr BC

Na segunda reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano, o Banco Central mantém a perspectiva de a inflação em 2022 superar a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3,5%, considerada formalmente cumprida se oscilar entre 2% e 5%.

O comitê ressalta que a guerra na Europa adiciona ainda mais incerteza e volatilidade ao cenário prospectivo e considera que, neste momento, um ciclo de aperto monetário é o mais adequado, não descartando um ciclo de ainda mais contracionista.

De acordo com a ata da 245ª Reunião, ocorrida entre os dias 15 e 16 de março, e divulgada nesta terça-feira, 22, os membros do Copom consideram dois cenários para a inflação, em ambos a meta é superada.

“No cenário de referência, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio do dólar partindo de R$ 5,05, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 7,1% para 2022 e 3,4% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12,75% a.a. em 2022 e reduz-se para 8,75% a.a. em 2023”, afirma a ata.

Em um cenário alternativo, considerado de maior probabilidade, segundo o texto, “adota-se a premissa na qual o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em USD100/barril e passando a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023”.

Desde que o CMN passou a definir metas para a inflação, em 1999, elas foram superadas em cinco anos – 2001, 2002, 2003, 2015 e 2021. Em 2017, a inflação oficial do país ficou ligeiramente abaixo da meta perseguida pelo BC.

Cenário Externo

De acordo com a ata do Copom, “no cenário externo, o ambiente se deteriorou substancialmente. O conflito entre Rússia e Ucrânia levou a um aperto significativo das condições financeiras e aumento da incerteza em torno do cenário econômico mundial. Em particular, o choque de oferta decorrente do conflito tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas”, ressalta o texto.

O Copom analisa, ainda, que a guerra na Europa e as sanções aplicadas à Rússia impactaram a reorganização das cadeias de produção globais. “Na visão do Comitê, esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens”.

Economia brasileira

Em relação à atividade econômica brasileira, os membros do comitê afirmam que a inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e mais persistente que o antecipado. A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou ainda mais. “As leituras recentes vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos mais associados à inflação subjacente. As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, considera o texto.

Riscos para a inflação

O texto divulgado hoje demonstra que os cenários do Copom para a inflação envolvem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços as commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo dos seus cenários.

Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país.

“Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mas considera que esse risco está sendo parcialmente incorporado nas expectativas de inflação e preços de ativos utilizados em seus modelos. O Comitê segue considerando uma assimetria altista no balanço de riscos”, assinala.

Ao elevar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, para 11,75%, o Copom antevê, para a próxima reunião, outro ajuste da mesma magnitude. “O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, conclui.

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Redação DMI

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