Governo Bolsonaro quer satélite estrangeiro para “proteger” a Amazônia
O governo Bolsonaro anunciou hoje, 20, que o bilionário Elon Musk, dono da constelação de satélite de órbita baixa, chegou ao Brasil para tratar com o governo brasileiro sobre “conectividade e proteção da Amazônia”. O Ministro das Comunicações, Fábio Faria, ao fazer esse anúncio em sua conta no Twitter só não explica como é que o governo pode comemorar o fato de uma controvertida constelação de satélite estrangeira pretende “proteger” ou vigiar 59% do território brasileiro?
A constelação de órbita baixa de Musk, que promete ser a maior do globo, ainda está em construção, e, aqui no Brasil irradia, por enquanto, para os estados do Sudeste. Mas quando chegar à Amazônia, e, para “protegê-la”, terá que colocar sistemas de sensoriamento remoto, exatamente o que faz hoje o nosso INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que foi defenestrado pelo atual governo, depois que divulgou a ampliação do desmatamento da floresta Amazônica.
Atualmente, os sistemas da Starlink estão voltados apenas para oferecer conectividade de banda larga. E, embora seja uma constelação com órbita mais próxima à Terra, sofre muito mais problemas de sinal do que a tecnologia terrestre usada na telefonia celular. Como o sinal do satélite, mesmo em órbita baixa, precisa “andar” muito mais para ir e voltar, em geral, ele não funciona debaixo de telhado, e muito menos debaixo de árvore. Hoje, o serviço dos satélites da Starlink precisa de um aparelho próprio, que não consegue se comunicar com outro celular, porque ocupa frequências diferentes. E o preço do serviço a ser cobrado pelo bilionário está bem mais distante da realidade brasileira do que os seu próprios satélites: Valor da contratação inicial pode chegar a R$ 5,1 mil e mensalidade de R$ 530.
Essa constelação de órbita baixa de Musk, a Starlink, que teve a licença aqui no Brasil aprovada pela Anatel depois de pressão do Ministério das Comunicações, e mesmo assim, somente para operar em caráter secundário, ou seja, não tem prioridade em relação a outros satélites que já irradiam para o território brasileiro, carrega diferentes questionamentos também nos Estados Unidos. Recentemente, a NASA levantou preocupações sobre os planos da SpaceX . Por enquanto, a empresa tinha autorização, nos Estados Unidos, para lançar cerca de 12 mil satélites, e já teria pedido autorização para ampliar a constelação para mais de 30.000 satélites.
“A NASA está preocupada com o potencial de um aumento significativo na frequência de eventos de conjunção e possíveis impactos nas missões científicas e de voos espaciais humanos da NASA”, escreveu a agência à Comissão Federal de Comunicações, conforme noticiou a agência de notícias Reuters, em janeiro deste ano.
No Brasil
Ao conceder a licença secundária para o funcionamento da constelação no Brasil, a Anatel explicitou que a constelação terá 4.408 satélites irradiando em território nacional. Mas entre as empresas que manifestaram preocupações quanto a essa licença, está a também estadunidense Viasat, que é a sócia da Telebras no satélite genuinamente nacional (ocupa posição orbital brasileira e construído com dinheiro do contribuinte brasileiro).
Conforme a Viasat, que recorreu à justiça nos Estados Unidos contra a decisão da agência reguladora dos EUA, seus satélites geoestacionários corriam riscos de colisão com detritos gerados pela Space X. Conforme o relato da Anatel, a Viasat tem sido ” muito ativa em alertar para os possíveis riscos ocasionados pelas mega-constelações de satélites não geoestacionários sobre a operação de outros sistemas. Na 37ª Reunião do Comitê Consultivo II (CCP.II) – Radiocomunicações, da Comissão Interamericana de Telecomunicações (CITEL), essa empresa apresentou questões que, em sua opinião, deveriam ser consideradas pelas administrações ao conferir direito de exploração para tais mega-constelações, ressaltando aspectos de coordenação e competição no futuro”.
Veja o tamanho das atuais constelações de órbita baixa do globo: