Giuseppe Marrara: “5G privado complementa o WiFi usado nas empresas”
A Cisco está prestes a lançar dois equipamentos de Wifi 6E, segundo Giuseppe Marrara. Enquanto isso, aguarda o futuro da conectividade para veículos autônomos.
Em entrevista ao Tele.Síntese, o diretor de Políticas Públicas da Cisco do Brasil, fala sobre tudo isso e também comenta a política governamental para o setor.
Ele acredita em uma forte aceleração na oferta de equipamentos com Wifi 6E porque considera uma tecnologia essencial para aplicações indoor.
Marrara também fala sobre o serviço Cisco Private 5, o programa Brasil Digital e projetos recentes da empresa. Ainda conta suas expectativas em relação ao investimento em carros autônomos, e faz comentários sobre a destinação dos 6 GHz e a redestinação do Fust.
Queria começar pelo WiFi 6E. A regulação da Anatel já fez aniversário e os equipamentos em 6Ghz ainda são raros. A Cisco têm algum equipamento de WiFi 6E aprovado?
Giuseppe Marrara, diretor de Políticas Públicas da Cisco do Brasil – Estamos em processo de homologação junto à Anatel de pelo menos dois equipamentos de WiFi que operarão na tecnologia WiFi 6E. E também planejamos, ainda para este semestre, o início da fabricação destes equipamentos no Brasil. Este ano devemos ter uma forte aceleração na oferta de equipamentos com WiFi 6E, porque é uma tecnologia essencial para aplicações indoor, seja em aplicações domésticas, redes privativas ou mesmo offload do 5G.
Acha que cabe rever a destinação dos 6GHz?
Marrara – A posição da Cisco é para que se mantenha a destinação de 1.200 MHz na faixa de 6 GHz para uso não licenciado. Nós aplaudimos desde o começo a iniciativa da Anatel de ter destinado integralmente a faixa de 6 GHz para uso não licenciado e estamos trabalhando com essa decisão, assim como outros fornecedores.
O Cisco Private 5, lançado em março, já conseguiu mais parceiros, inclusive para a revenda? Se sim, quais?
Marrara – O Cisco Private 5G é um serviço fornecido com parceiros globais, que oferece aos clientes corporativos redução de riscos técnicos, financeiros e operacionais com o gerenciamento de redes 5G privadas corporativas. A Cisco vê o 5G privado como um complemento, não um substituto para os investimentos que as empresas fizeram em WiFi, transporte Ethernet e sistemas de gerenciamento correspondentes. O 5G privado está configurado para permitir conectividade para uma ampla gama de casos de uso, desde o chão de fábrica, cadeias de suprimentos, campus universitários e corporativos, espaços de eventos, hospitais e muito mais. Em março, a Cisco anunciou parceiros globais, alguns deles com atuação no Brasil, como Logicalis e NTT.
Quais os resultados do programa Brasil Digital após mais de um ano de lançamento?
Marrara – A Cisco reforçou seu compromisso com o país com o lançamento do programa global de aceleração digital no Brasil em 2020, Brasil Digital e Inclusivo. Tivemos várias iniciativas em andamento ao longo dos últimos anos, com ótimos resultados:
Lançamos o movimento CyberTech Brasil em 2021, em parceria com a Distrito, que visa democratizar o conhecimento, incentivar o desenvolvimento do ecossistema de inovação e o acesso ao tema segurança cibernética, ajudando a construir um Brasil digital mais seguro. Como parte do Movimento, inauguramos o Cisco Secure CyberHub, o primeiro centro de inovação, experiência e debate em segurança digital do Brasil. A partir da iniciativa, ampliamos a discussão e a educação em cibersegurança de clientes. Entre os resultados, podemos destacar a construção do primeiro banco de dados de startups de cibersegurança do país, o CyberTech Digital Hub e a publicação de nove relatórios sobre o setor de cibersegurança, com os mais diversos temas relevantes, além da geração de oportunidades de negócios com mais de 40 visitas ao Cisco Secure CyberHub nos últimos meses.
Outra iniciativa relevante do Brasil Digital e Inclusivo junto ao nosso programa global Cisco Networking Academy é o Programa CiberEducação, que nasceu com o objetivo de ampliar o número de profissionais capacitados na área de cibersegurança e já formou 2.473 estudantes nos 3 últimos ciclos do programa (número corresponde a 23% da demanda de profissionais de cibersegurança prevista pela Brasscom).
Anunciamos parceria com o Senai-SP com o objetivo de promover a digitalização da indústria para o desenvolvimento de projetos com foco em áreas como automação industrial, Indústria 4.0, telecomunicações, 5G e segurança cibernética.
E criamos a iniciativa ‘5G.BR Conecta Brasil’, em parceria com RNP e Inatel, para fomentar ações e projetos voltados para o desenvolvimento tecnológico e a adoção do 5G nos setores da educação e saúde.
Lançamos também, no ano passado, o estudo Escola Conectada, que destaca como o uso de tecnologias aplicadas à educação pode revolucionar a experiência do aprendizado. O trabalho traz um panorama geral da educação no Brasil nas últimas décadas, com dados gerais e exemplos de iniciativas que foram e vêm sendo desenvolvidas, e apresenta um panorama futuro sobre quais tecnologias podem ser adotadas no processo de ensino-aprendizado nos próximos anos.
Na área de saúde, colaboramos com o InovaHC, Centro de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) com o objetivo de promover e acelerar a inovação e a transformação digital no setor de saúde pública no país.
E a experiência com carros autônomos, como está indo? Até que ponto a Cisco quer investir nisso?
Marrara – O futuro dos veículos autônomos não pode progredir sem uma comunicação confiável entre os veículos e os ambientes em sua volta. Carros autônomos precisam se comunicar com outros veículos, com pedestres e ciclistas, bem como com infraestrutura de estradas e ruas, como semáforos.
A Cisco é líder global em gerenciamento de conectividade automotiva, com mais de 77 milhões de carros na plataforma IoT Control Center, por isso temos uma grande experiência no fornecimento de serviços confiáveis de carros conectados. Continuamos a investir fortemente para fornecer a confiabilidade de missão crítica necessária para segurança e operação do veículo, desde o chão de fábrica até o showroom do revendedor e a condução em rodovias. Esses fatores se tornam ainda mais essenciais para os veículos autônomos.
Recentemente, participamos de um programa piloto em Turim, na Itália, para explorar como um MEC (mobile edge compute) federado com conectividade V2X 5G poderia melhorar as aplicações de cidades inteligentes e segurança rodoviária. Em outro programa com a Verizon, testamos como a tecnologia celular e MEC pode fornecer soluções de direção autônoma com eficiência e tornar as estradas mais seguras. A Cisco, juntamente com nossos parceiros, está comprometida em possibilitar o futuro da conectividade para veículos autônomos.
Empresas do setor têm reclamado da falta de incentivo governamental para o setor. Como a Cisco, que tem vasta linha de produtos de serviços, vê isso?
Marrara – De maneira geral, nossa visão é que o incentivo governamental tem caminhado para que o país tenha uma boa política industrial e um bom ecossistema de políticas públicas para o desenvolvimento da tecnologia. A reformulação do PPB e agora a promulgação da PEC que equilibra os produtos fabricados na Zona Franca de Manaus com os fabricados no restante do país trazem uma política saudável de incentivo.
De outro lado houve muitos avanços, principalmente na questão do leilão do 5G e na alocação do espectro para o Wi-Fi6E, de 6GHz, que vai ser transformacional para o país. É importante ressaltar também uma política que deve ajudar a transformar o país, que foi a redestinação do Fundo de Universalização do Setor Telefônico (Fust) para uso em áreas não cobertas, especialmente para educação conectada. Isso tem o potencial de mudar o futuro desse país e a gente parabeniza o governo por tal mudança.
Como parte do nosso programa de aceleração digital, Brasil Digital e Inclusivo, produzimos um dos maiores estudos sobre educação conectada no país.
E agora, com a redestinação do Fust, acreditamos que o país está entrando no trilho para trazer a tecnologia para dentro da sala de aula e realmente aplicar a transformação digital aos estudantes brasileiros, colocando-os em uma posição muito mais vantajosa na disputa por vagas nessa economia digital conectada.
O que achou da mudança do IPI?
Marrara – Preferimos não nos manifestar sobre o assunto neste momento.