Furukawa: “Queremos entender a política industrial brasileira”, cobra CEO

Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa Electric LatAm, reforça que a urgência por medidas antidumping existe, mas não é o único problema. A prorrogação da Lei de Informática também é prioridade.
Furukawa: "Queremos entender a política industrial brasileira", cobra CEO | Foto: Tele.Síntese
Foad Shaikhzadeh, CEO da Furukawa Electric LatAm, avalia política industrial em coletiva de imprensa no evento Furukawa Summit 2024 | Foto: Tele.Síntese

Com 50 anos de Brasil, a Furukawa Electric, uma das principais fornecedoras de fibra óptica no país, defende posicionamento pragmático do governo federal frente a medidas que venham garantir a manutenção do patamar de investimentos e desenvolvimento do segmento em território nacional. Na visão do CEO da empresa na América Latina, Foad Shaikhzadeh, o setor vem fazendo sua parte ao mesmo tempo em que espera aprimoramentos para “entender a política industrial brasileira”.

A reivindicação é por medidas antidumping e a definição de uma “política tecnológica clara” para PPB (processo produtivo básico). O tema foi compartilhado em coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 16, durante o evento Furukawa Summit 2024, em Alexânia (GO).

Shaikhzadeh reforçou que o setor ainda espera uma resposta do governo em relação a medidas antidumping contra chinesas que exportam cabos ao Brasil a valores subfaturados, e coloca em risco a única fábrica de tubos de pré-forma do país, da Prysmian.

“Isso pode ter impactos na nossa operação, porque o PPB está estruturado em ter aquela fábrica [da Prysmian] operando. Se ela não estiver, o PPB vai ter de ser revisto. Eu não tenho dúvida de que o governo brasileiro vai rever […] Mas já podia ter tomado a decisão. É um governo que tem toda a informação e capacidade, precisa que o fabricante local reclame para poder fazer isso, ou tem o interesse em preservar a indústria nacional?”, questiona.

O PPB é um dos requisitos para utilizar os benefícios da Lei de Informática, que consiste em um conjunto de etapas de produção a serem realizadas no país para que a empresa tenha renúncia fiscal, em contrapartida, elas investem na mão de obra e no desenvolvimento brasileiro.

Na regra em vigor, o benefício vai até 2029, mas com redução gradual a partir de 2025. A prorrogação até 2050 vem sendo defendida pela indústria e pelo próprio Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e conta com projeto de lei no Congresso Nacional, contudo, enfrenta resistência da equipe econômica.

Dois pontos vem afetando o aproveitamento da lei, de acordo com a Furukawa. Um deles é que o PPB é baseado no faturamento, que vem sendo prejudicado pela entrada do produto chinês. Outro ponto é que a legislação foi alterada para abarcar fabricantes menores e a fiscalização é morosa.

“Gera-se uma situação que se você tiver um problema, como um insumo básico da fibra mudar, vai questionar se vale a pena manter [os investimentos decorrentes da] lei de informática. Eu tenho um benefício de 8% e um gasto obrigatório de 7%. Por 1%, é melhor importar tudo. E aí não terá o dinheiro que vai para os institutos”, explica.

Ainda durante a coletiva, o vice-presidente de Operações LatAm da Furukawa, Hélio Durigan, destacou que a fabricante conta com mais de 180 engenheiros de institutos de pesquisa, por conta da Lei de Informática, além de manter 80% dos itens aptos ao benefício em produção nacional.

“Há todo um ecossistema trabalhando em desenvolvimento. É aí que nos perguntamos sobre o que o governo quer com todo esse corpo, que tem que ser valorizado.[…] Precisamos trabalhar com mais clareza de política industrial, de política de P&D. Valorizar a tecnologia nacional é um dos caminhos”, concluiu.

Encerramento na Colômbia

A Furukawa encerrou a produção na Colômbia em março deste ano. Segundo Foad, a medida ocorreu por divergência em relação à política industrial.

“A Colômbia decidiu na política industrial dela que qualquer importação vale. Nós éramos o único fabricante local. Se vale qualquer coisa e eu tenho que competir por qualquer preço, nós não vamos conseguir sobreviver, infelizmente”, contou, durante a coletiva.

Apesar da saída da fábrica, o CEO afirma que a empresa continua fornecendo cabos para o país. “Saímos de produção, mas não de vender. Pelo contrário, os clientes locais continuam crescendo, mas não tem fábrica local, não gera emprego para os colombianos. Se tivesse política industrial, geraria”.

Questionado sobre os impactos à Furukawa de eventual fechamento da Prysmian em Sorocaba (SP) por falta de medidas antidumping do governo federal, no entanto, o presidente avalia que não sairá do Brasil.

Previsão de prejuízo

A Furukawa prevê o primeiro balanço com prejuízo em 20 anos no resultado do período fiscal de abril de 2023 a março deste ano.

Números preliminares indicam que houve uma redução no faturamento em cerca de 30% na comparação ao ano fiscal anterior. Aproximadamente 80% da redução é devido ao mercado de telecom no Brasil.

Apesar do recuo, a expectativa da empresa é de que estejam totalmente recuperados em 2024.

A repórter viajou a convite da Furukawa*

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura dos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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