Fundador da Huawei diz que Trump pode afugentar empresas dos EUA

Ren Zhengfei diz que EUA estão tornando a Huawei mais conhecida e que, desde o início das acusações norte-americanas, houve aceleração no fechamento de contratos em todo o mundo.

O fundador da Huawei Ren Zhengfei concedeu uma entrevista exclusiva à emissora de TV norte-americana CBS na qual teceu elogios e críticas ao presidente do país, Donald Trump. Pai de Sabrina Meg, executiva presa no Canadá acusada de burlar embargos ao Irã, Zhengfei disse que os EUA estão perseguindo homens e mulheres de negócio, e que isso terá efeitos negativos sobre a imagem do país.

Segundo ele, Trump merece elogios por promover redução de impostos para empresas. “Trump é um grande presidente. Ele conseguiu cortar impostos em um período muito curto. Isso é difícil de fazer, especialmente em um país democrático. Todos os países democráticos ficam muito tempo em debates, com pessoas argumentando até que se chegue a um consenso”, disse Zhengfei.

Mas os benefícios que o corte de impostos pode trazer, como atrair empresas, podem ser revertidos caso os EUA insistam na perseguição, a seu ver, que estão promovendo contra países e empresas. “Se Trump continuar a intimidar outros países e empresas, e a prender pessoas aleatoriamente, vai afugentar investidores. Desse jeito, como vai compensar a receita perdida com a redução de impostos?”, falou.

Ele afirmou que está tranquilo quanto à prisão de sua filha no Canadá. Sabrina Meng atualmente está em prisão domiciliar à espera de julgamento de processo de extradição. Para o pai, ela não cometeu crime e será inocentada. Ele diz confiar na Justiça e que tudo será esclarecido. E diz que, enquanto o processo se desenrola, a filha faz cursos online.

Banimento da Huawei nos EUA

Zhengfei também falou sobre o banimento da Huawei de programas de compra estatal do governo dos EUA e pressões para que as operadoras locais não consumam equipamentos chineses. Segundo ele, isso fará pouca diferença nos resultados da companhia.

“Para ser sincero, a gente não teve muitos negócios nos EUA nos últimos anos, e mesmo assim nunca desistimos. Vamos continuar tentando [vender nos EUA] porque respeitamos o país. Mas se disserem que não podemos vender, então não tentaremos vender “, falou.

No entanto, ele negou que a Huawei seja ameaça à segurança das comunicações. “Alguns políticos norte-americanos dizem que somos ameaça. Mal temos equipamentos nos EUA, como somos ameaça? Se os EUA são seguros sem a Huawei, talvez eles devam convencer o mundo disso. Mas as redes dos EUA são mesmo seguras? A informação deles de fatos está segura? Se eles são incapazes de gerenciar a segurança sem a presença da Huawei, é errado pensar que eles conseguem garantir a segurança sem nos deixar entrar”, acrescentou. E refutou, mais uma vez, a existência de backdoors para o governo chinês em equipamentos da fabricante.

Pressões internacionais

O fundador da fabricante também diz que as pressões que os EUA estão fazendo para que países aliados deixem de comprar da Huawei terão efeito positivo para a companhia. “Eles estão promovendo a Huawei ao redor do mundo. Antes, ninguém nem sabia qual seria a utilidade do 5G. Agora, o mundo todo sabe de 5G e, quando vão estudar a fundo, descobrem que a Huawei faz o melhor 5G”, diz.

Segundo ele, isso se prova em números, que não revelou. “Isso [a pressão para banir a Huawei] amplificou nosso impacto. Estamos assinando mais contratos, não menos. E estamos obtendo mais contratos muito mais rápido, inclusive na Europa. Por isso eu agradeço por levarem nosso nome por aí, e de graça. Estou muito agradeço, por favor, dê a eles meus cumprimentos”, disse o executivo.

E afirma que, antes de qualquer país decidir por banir a Huawei, deveria analisar o histórico da empresa, que provê equipamentos para redes “que conectam 3 bilhões de pessoas em 170 países”. Ressalta que a Huawei tem 80 mil patentes, 11,5 mil das quais obtidas nos EUA. “Somos grandes contribuintes para o desenvolvimento informacional dos EUA, não uma ameaça”, acrescentou.

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Rafael Bucco

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