Fila de espera por IPv4 chega a 6 anos e NIC.br reforça necessidade de adesão ao IPv6

Atualmente, há 1.006 entidades esperando alocação de bloco para IPv4. O primeiro da fila esperou 778 dias.

(Foto: Freepik)

O Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) apresentou nesta quarta-feira, 5, dados de implementação do IPv6 – novo protocolo para endereços – e chamou atenção para a baixa adesão e insistência de provedores em adquirir blocos de IPv4 – primeiro protocolo, de capacidade limitada – realocados. São 1.006 entidades na fila de espera, o primeiro a aguardar e mais recente a conseguir, levou 778 dias para a aquisição.

“Se você entrar na fila de espera hoje, estima-se que você vai ganhar um bloco IPv4 lá para 2029”, afirmou Eduardo Barasal Morale, coordenador da área de formação de sistemas autônomos do CEPTRO.br/NIC.br, durante workshop sobre a adesão ao IPv6 promovido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em parceria com a Huawei.

Levantamento do NIC.br nos sites mais utilizados, em diversos setores, mostra que a adesão do mercado aos endereços IPv6 ainda está longe da ideal, sendo:

  • 8,7% para bancos (46 instituições bancárias);
  • 36,4% em plataformas de streaming;
  • 43,3% dos portais de notícia (30 portais analisados);
  • 55,6% das redes sociais; e
  • 8,3% dos jogos online

O NIC.br destacou ainda que não há “praticamente nenhum” site do governo federal e estaduais em IPv6. Para Antônio Moreiras, gerente de projetos e desenvolvimento do núcleo, a adesão ao governo seria estratégica. “Eu como cidadão, se tivesse só IPv6 em casa, não conseguiria fazer o imposto de renda. Seria um grande incentivador e é um grande ponto de atenção a gente focar internamente em incentivar o nosso governo em colocar o IPv6, acho que vai puxando a cadeia toda”, afirma.

No mercado em geral, Moreiras afirma ainda que há empresas que fazem transferências de blocos IPv4 entre elas, mas esta é uma medida ineficiente. “Não tem mágica. Por mais que você aperte daqui, aperte dali, realoque blocos, a internet continua crescendo”.

“Aqui no Brasil, nem todas as residências têm acesso à internet, a gente tem cerca de 18% de domicílios sem internet [dados do Cetic]. A gente tem a implantação da internet das coisas, que traz a necessidade de mais endereços para outros tipos de usos que não havia antes. E a gente tem uma necessidade de crescimento ainda global da internet, muito espaço vago para onde a internet ainda tem que crescer. Enfim, não dá para seguir desse jeito com IPv4″, disse Moreiras.

Monitoramento da Anatel mostra que a adesão geral do IPv6 no Brasil é de 43%. Já a média global é de 45%, conforme dados do Google.

O superintendente de Planejamento e Regulamentação da Anatel, Nilo Pasquali, destacou que o tema preocupa a autarquia.

“Não estou muito preocupado em como nós estamos comparado ao resto do mundo. A gente tem que se preocupar, principalmente, em como estamos performando internamente. As questões sobre segurança e quebra de sigilo traz uma preocupação muito grande pra agência”, salientou Pasquali.

Suporte e equipamentos

Ainda de acordo com Moreiras, para provedores grandes e regionais, o maior desafios é o suporte e equipamentos. “Às vezes algumas CPEs passam na homologação, mas na hora que o provedor põe lá na prática, tem detalhes ali que não funcionam”.

O gerente de projetos do NIC.br explicou que o suporte de IPv6 para smartphones já é bem sucedido, o que não ocorre em outros dispositivos que são muito usados no Brasil e na América Latina como um todo, no como as smart TVs. “Os fabricantes de Smart TVs não têm ciclos adequados de update de software para quando se acham problemas de seguranças”, exemplifica diz Moreiras.

José Bicalho diretor de Regulação e Autorregulação da Conexis, destaca que por parte das grandes operadoras, houve adesão da solução Dual Stack, que viabiliza o acesso endereços IPv6, mas repete o desafio com equipamentos.

“À época [da homologação] a gente imaginou que somente com o licenciamento e habilitação dos equipamentos a gente iria conseguir transformar toda a rede em IPv6. Mas isso não se mostrou uma realidade, a gente ainda tem muito equipamento de rede DSL, XDSL, equipamentos mais antigos, de redes mais antigas, que ainda precisam ter IPv6”, conta Bicalho.

O diretor concluiu alertando que além do equipamento, é importante fazer campanhas para adequação do conteúdo. A Anatel também concorda com a estratégia de ampliar projetos de adesão e planeja implementar um barômetro para acompanhar a evolução

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura de telecom nos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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