Febraban prevê grande aceitação do Pix aproximação, que está para chegar
Os números dos grandes bancos brasileiros mostram que os desafios promovidos pela revolução digital do mercado financeiros e a entrada das fintechs e neobancos não chegaram a ameaçar a hegemonia dos chamados bancões.
Os cinco maiores bancos brasileiros – Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa – concentraram 78% do lucro do sistema bancário em 2021, com resultados somados que chegaram a R$ 132 bilhões de lucro líquido.
A temporada de resultados do segundo trimestre deste ano também foi positiva para os grandes bancos, e a carteira de crédito continua a crescer substancialmente, impulsionada por linhas de crédito relacionadas ao consumo e empréstimos ao agronegócio.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) está otimista com os resultados e se prepara para os próximos desafios de 2023, como o Open Finance, as novas funcionalidade do Pix, a regulação ESG do Banco Central, que passa a valer em dezembro, e a nova tendência do mercado financeiro, a DeFi, as finanças descentralizadas.
O diretor de inovação, produtos e serviços da Febraban, Leandro Vilain, se mostra particularmente animado com as novas funcionalidades do Pix, principalmente o pagamento por aproximação pelo celular. Segundo ele, o maior benefício do Pix foi ter “canibalizado as transações de pagamento em dinheiro vivo”. As transações em dinheiro representam 38% do PIB do Brasil. “Temos um espaço gigantesco para o Pix conquistar, substituindo as transações em espécie”.
Diante da grande adesão dos brasileiros, Vilain acredita que o Pix pode ganhar espaço em segmentos que envolvam pagamentos com valores mais baixos, como passagens em transporte público. “Estamos estudando o pagamento com Pix por aproximação para valores menores em sistema offline, ou seja, utilizando a base local. O cliente não precisa estar online, o sistema fica no celular. Ele não precisa abrir o aplicativo do banco”, detalha Vilain.
Open Finance
Dados da Febraban apontam que o Open Finance, ou sistema financeiro aberto no qual o cliente compartilha seus dados de forma voluntária, vai ultrapassar um bilhão de chamadas realizadas por interface de programação de aplicativos (API) ao fim de agosto, com mais de sete milhões de autorizações de consentimento para compartilhar dados e cinco milhões de usuários únicos. A expectativa é chegar a 10 milhões de autorizações de consentimento ainda em 2022 (um usuário pode dar mais de uma autorização). Essa marca é esperada para o fim do terceiro trimestre.
Os números têm impressionado participantes do mercado financeiro na Europa, sobretudo no Reino Unido, que foi pioneiro na adoção do open banking, em 2018. Mas os desafios ainda são inúmeros, principalmente com o início de fato da troca de informações de clientes na chamada fase quatro. É a etapa que prevê o compartilhamento de informações sobre produtos de investimentos, previdência, seguros, câmbio, entre outros.
Segundo Leandro Vilain, o número de chamadas do open finance deve ultrapassar a marca de um bilhão até o fim de agosto e ressalta que o brasileiro tem a experiência de Open Finance mais ampla do mundo. Na opinião do executivo, a adesão será mais lenta do que a do Pix, mas cria um ambiente propício para oferta de produtos personalizados.
Regras do ESG
A partir de dezembro, o Banco Central começará a cobrar dos bancos a inclusão de riscos climáticos no gerenciamento de risco e capital, além de uma política de responsabilidade social, ambiental e climática. As instituições financeiras deverão também produzir um relatório anual com informações padronizadas sobre o tema.
Segundo Vilain, a Febraban criou um grupo específico para implementar as novas regras do BC, com encontros mensais para tirar dúvidas e orientar sobre bases de dados e procedimentos. Os associados, que já seguem uma autorregulação sobre o tema desde 2014, estão trabalhando para estar de acordo com as novas regras em dezembro.
DeFi
No encerramento da Febraban Tech, que aconteceu em São Paulo de 9 a 11 de agosto e que reuniu as principais lideranças do sistema financeiro brasileiro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez uma palestra detalhada sobre a descentralização das finanças e revelou um crescente interesse do Banco Central do Brasil na forma como a tecnologia pode aprimorar o setor financeiro no país.
Leandro Vilain também se mostra empolgado com o tema, fala sobre a tokenização da economia e explica com desenhos como as finanças descentralizadas, mais conhecidas como DeFi, podem afetar positivamente o sistema financeiro. “A partir do uso da tecnologia blockchain, é possível realizar empréstimos ou gerar renda passiva. Uma safra ou o gado pode ser tokenizado, o que agiliza muito as suas negociações”, afirmou.
Mais de 100 bancos centrais, que juntos representam cerca de 95% do PIB mundial, já anunciaram projetos com foco na criação de moedas digitais, também conhecidas como CBDCs (do inglês Central Bank Digital Currencies).
Na esteira de inovações do Banco Central, a adoção da sua CBDC, o Real digital teve atrasos, mas segue em andamento. O novo cronograma do BC prevê início de testes para 2023, com a participação de bancos, instituições financeiras e fintechs.
Regulação cripto
Os criptoativos e criptomoedas avançam nos portfólios dos bancos tradicionais com força, que preparam lançamento de novos produtos ainda para este semestre e para o próximo ano. Banco do Brasil, Bradesco e Itaú disputam mercado com exchanges locais e internacionais, mas defendem a regulação desse mercado para escalar os projetos ainda em testes.
Já Campos Neto defende uma regulação branda para os criptoativos. Acredita, antes, na transparência das negociações. Vilain reforça o coro dos grandes bancos, que pedem regulação para o mercado cripto, “só assim investidores e instituições terão segurança para trabalhar”, conclui.