Especificações da 6G ficam prontas em 2027
Enquanto o Brasil atrasa o leilão de espectro para redes 5G para meados de 2021 e é alvo de pressões de Estados Unidos, onde a quinta geração entrou no ar em 2018, para deixar a tecnologia chinesa de lado, universidades, fabricantes e empresas norte-americanas já destinam recursos para o desenvolvimento da sexta geração de redes móveis.
Em painel realizado hoje, 20, no 6G Symposium, evento virtual organizado por uma universidade norte-americana, engenheiros de operadoras locais, fabricantes globais e pesquisadores mostraram algumas das especificações da 6G. E apresentaram um cronograma de implantação.
Segundo John Smee, vice-presidente de engenharia da Qualcomm, a 3GPP, organização que reúne engenheiros do mundo todo para a padronização de redes móveis, prevê que a primeira especificação técnica da entidade para redes 6G seja publicada em 2027.
A Conferência Mundial da Radiocomunicações (WRC, na sigla em inglês) de 2027 já será pautada pela necessidade de identificação de muito mais espectro para serviços celulares do que existe hoje, ressaltou. Comercialmente, no entanto, as redes devem chegar em 2030.
Especificações básicas
As metas que devem ser alcançadas ainda estão em debate, mas já existem objetivos consensuais. Mazin Gilbert, vice-presidente de automação de análise de redes da AT&T, defendeu que a rede móvel 6G entregue conectividade com velocidades 100 vezes superior à registrada no 5G. Ou seja, se a quinta geração prevê acessos com velocidades de até 10 Gbps no pico, com a 6G teremos 1 terabit por segundo no pico.
Essa estimativa foi corroborada pelo pesquisador da Virginia Tech, Walid Saad. Que acrescentou a necessidade de latência medida em nanossegundos, ou seja, menor que o milissegundo. Nas redes 5G, a meta é latência de 4 ms. Ele também ressaltou que a 6G permitirá conectar 10 milhões de aparelhos simultaneamente por quilômetro quadrado. A 5G prevê conectar até 1 milhão.
Sunghyun Choi, pesquisador da fabricante sul-coreana Samsung, que vem ocupando os espaços deixados vagos por Huawei e ZTE nos mercados onde estas marcas foram banidas, como EUA e Coreia, ressaltou que para o usuário final, a velocidade percebida será, em média de 1 Gbps na 6G.
Pode parecer muito menos que o terabit por segundo do pico, no entanto ele ressaltou que na 5G, a velocidade média obtida para a banda larga móvel no celular das pessoas fica em 100 Mbps. Ele defendeu ainda que a meta para a latência seja de 100 nanossegundos, o que equivale a um décimo do tempo de resposta das melhores redes 5G atuais.
Arquitetura e recursos
A 6G será implementada sobre redes 5G que já vão trabalhar com muito mais frequências do que as usadas hoje em dia. A ideia é que façam uso pleno das bandas de terahertz, que os smartphones e dispositivos conectados tenha inteligência artificial embarcada em seus rádios para que sejam capazes de interpretar qual espectro entrega, naquele momento, mais qualidade.
Ao mesmo tempo, a topologia da rede será uma evolução da 5G, na qual vai começar a existir a desagregação entre os softwares de gestão dos serviços e o hardware. A OpenRAN será a norma, defenderam os presentes no evento digital.
Para o pesquisador Walid Saad, o 6G vai consolidar a migração de um modelo baseado em big data, como o atual, para um modelo de small data, em que cada célula terá capacidade de processamento e inteligência artificial para operar de forma independente, sem recorrer ao “núcleo” da nuvem, por exemplo. Segundo ele, a necessidade por antenas serão tão grande que até as paredes serão feitas com novos materiais que facilitem, ou irradiem, espectro necessário à conectividade.
Choi, da Samsung, prevê que haverá na 6G a convergência definitiva entre computação e telecomunicações. Com isso quis dizer que o poder computacional presente hoje nos núcleos de rede e nos data centers estará distribuído e presente em antenas, nos servidores edge e nos aparelhos dos consumidores.
A título de comparação, em redes 4G, a nuvem e núcleo de rede executam processos computacionais relacionados à conexão, explicou. No 5G, as ERBs ganharam também essa capacidade. Na 6G, todos os dispositivos, de ponta a ponta, vão processar informações essenciais para o funcionamento da rede, sejam smartphones, sejam óculos de realidade virtual, ou equipamentos holográficos.
Como será 2030?
Affif Osseiran, pesquisador da Ericsson, apontou caminho semelhante. Segundo ele, a rede 6G terá como diferencial em relação às gerações anteriores não apenas maior capacidade e menos latência, como vai fundar novas realidades. Haverá o que chamou de tecido computacional em rede, em que o poder computacional do mundo está espalhado por todos os dispositivos. As redes serão cognitivas, inteligentes a ponto de se auto-interpretar e definir necessidades dos clientes.
O mundo físico, disse, será tão computadorizado que poderá ser alterado e “programado” a partir de comandos nos aparelho conectados. A internet vai transmitir não apenas conteúdo audiovisual, mas também outros estímulos sensoriais. A conectividade estará em tudo. E tudo dependerá de recursos sofisticados de segurança.
O representante da AT&T, Mazin Gilbert, prevê que para as operadoras o mundo será diferente. Em primeiro lugar, e tendência de que os equipamentos serão commodity já terá se consolidado. Todos os serviços vão depender de sistemas virtualizados. A inteligência artificial e o aprendizado de máquina vai constar de todos os dispositivos.
O espectro disponível será tão amplo e variado que o compartilhamento de faixas terá novas dinâmicas, podendo não ser pensado em faixas específicas, mas em volume. Haverá fatiamento dinâmico da rede para a oferta de serviços com SLA garantido.
As redes terão capacidade de se auto-organizar e haverá ganhos de eficiência, com mais bits por hertz trafegados, além de consumo menor de energia das antenas, que estarão em todo lugar. E as teles terão mais preocupação com recursos de segurança. Tudo vai operar com menos mão de obra humana e mais automação.
Monetização
Como as operadoras poderão ganhar dinheiro na 6G, se na 5G ainda estão descobrindo as possibilidades? Nenhum dos presentes ao evento quis cravar uma solução. O que se considera é que novas aplicações vão surgir e vão demandar conectividade. Coisas inimagináveis diante dos sistemas usados hoje em dia.
Para Smee, da Qualcomm, no entanto, já é possível prever que um novo produto será vendido pelas operadoras: a latência. Com a possibilidade de cirurgias robóticas automatizadas e carros autônomos transformados em realidade, as teles poderão faturar em cima da promessa de garantia de conectividade com tempo de resposta em nanossegundo.