Escassez de componentes não vai atrasar entrega de rádios 5G, avisa a Ericsson

Fabricante reforça estoque para lidar com a crise dos componentes e garantir que as operadoras do Brasil tenham os rádios necessários para cumprir as metas da Anatel, afirma Rodrigo Dienstmann

A escassez de componentes que afeta há pelo menos dois anos diversos setores da economia impacta também as fabricantes de equipamentos para redes móveis de quinta geração (5G), reconhece a Ericsson.

Mas o problema não vai afetar a entrega dos rádios para as operadoras cumprirem os cronogramas de ativação de antenas nas capitais brasileiras neste ano, garante o CEO da fabricante para o Cone Sul da América Latina, Rodrigo Dienstmann.

“Sim, estão faltando componentes. Os que faltam para a gente são diferentes dos que faltam para a indústria automotiva, pois precisamos de semicondutores muito mais sofisticados. Mesmo assim, não vamos ter problemas no curto prazo para a entrega das estações. Aumentamos nos últimos meses nossos estoques para evitar isso”, tranquilizou o executivo em evento com jornalistas nesta quarta-feira, 30.

E completou: “Não prevemos nenhum problema para realizar as entregas necessárias para o cumprimento das metas determinadas pela Anatel”.

Por regra do edital do leilão de frequências feito em novembro, no qual foi vendida a faixa de 3,5 GHz, as operadoras Claro, TIM e Vivo devem colocar uma antena 5G Standalone para cada 100 mil habitantes em todas as 27 capitais ainda neste ano de 2022.

A Ericsson tem contrato com todas as operadoras para fornecer estações radiobase 5G. A fabricante também é a única a produzir os rádios de quinta geração no país, em fábrica localizada em São José dos Campos, cuja linha de produção recebe aportes de R$ 1 bilhão nos últimos anos como reforço para o aumento esperado da demanda trazido pela nova tecnologia. E nesta semana, o centro de P&D brasileiro da empresa completou 50 anos, com mais de 200 famílias de patentes depositadas internacionalmente.

Novo modelo de geração de receitas

No evento em que Dienstmann comentou a falta de componentes no mercado, Andrea Faustino, VP de Soluções Digitais da Ericsson pro Cone Sul da América Latina, apresentou a proposta de monetização da rede 5G, pensada para devolver às operadoras a capacidade de rentabilizar o tráfego de dados.

Segundo ela, a tecnologia de slicing da rede permitirá às teles definir diferentes perfis de uso da rede. E cada perfil pode ser monetizado da forma mais conveniente. Trocando em miúdos, haverá a rede pública com uma parte da capacidade liberada para uso geral. Outra parte da capacidade será utilizada em fatias. Poderá haver uma fatia para empresas que queiram um ambiente seguro para seu funcionário navegar. Poderá haver uma fatia para um aplicativo oferecer recursos adicionais a seus assinantes.

“A questão da neutralidade de rede é preservada porque a rede pública é a mesma para todos, e sobre o restante da capacidade são oferecidos serviços especializados”, defendeu a executiva em conversa com o Tele.Síntese.

A próxima versão do sistema operacional móvel do Google, Android 13, já será habilitado para lidar com redes “fatiadas”. A identificação da rede se dá por software no dispositivo do usuário, daí a importância de que o sistema operacional já estar habilitado.

Andreia afirmou ainda que haverá três fases de chegada da tecnologia de fatiamento de rede: a primeira será manual, com funcionários das operadoras definindo o perímetro de espectro e estações que terão uma ou mais fatias. A segunda fase já trará automação na definição dessa fatias. E, por fim, a terceira fase, que deve levar anos para se tornar viável, prevê uma rede inteligentes que se reconfigura em tempo real conforme o contrato dos usuários que acessarem o sinal emitido em cada ERB.

Como o fatiamento faz o que o nome diz e define fatias do espectro que serão utilizados de diferentes maneiras, quanto mais frequências estiverem disponíveis para as redes móveis, maiores as possibilidades de as operadoras entregarem novos serviços.

Por isso, Jacqueline Lopes, diretora de relações institucionais Latam South da Ericsson defendeu, no evento, que a Anatel busque a liberação de 2 GHz de faixas médias até 2030. A meta é considerada ideal pela GSMA, associação que reúne operadoras móveis de todo o mundo.

A nova quantidade de serviços e aplicações ainda nem sonhadas vai impor desafios regulatórios, completou Lopes. “É muito difícil que alguém consiga se antecipar ao que ainda será criado. Por isso é muito importante pensar regulações baseadas em princípios”, defendeu.

Conforme levantamento da Ericsson, o 5G vai acrescentar R$ 151 bilhões à economia brasileira até 2030.

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Rafael Bucco

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