Escassez de chips piora e já afeta 78% da indústria eletroeletrônica do país

Já tem gente na indústria de eletroeletrônicos alertando que a escassez prossegue em 2023 e fornecimento só vai se normalizar a partir de 2024 em razão de gargalos logísticos, lockdown na China e invasão da Ucrânia.
Complexo Portuário de Santos é responsável por aproximadamente 25% do comércio exterior brasileiro

A escassez mundial de chips afetou ainda mais profundamente as indústrias eletroeletrônicas brasileiras em abril. Levantamento feito pela Abinee, entidade que reúne as empresas do setor, mostra que 78% das fábricas apresentaram no mês passado problemas para se abastecer de semicondutores. Em março, 73% das empresas indicavam dificuldades.

Motivos para isso, não faltam. Em primeiro lugar, as empresas relatam uma crise global de demanda que torna a fila para aquisição longa. Além disso, apontam problemas logísticos para receber os produtos vindos da Ásia, restrições e lockdowns impostos no começo do ano na China, onde a maioria dos componentes é produzida.

A invasão da Rússia à Ucrânia também é um fator. As regiões paralisadas em função da guerra produzem insumos necessários à fabricação de componentes, como gás neônio e paládio. Isso trouxe problemas em cascata, afetando a capacidade das produtoras de chips.

Outro problema que afunilou a produção de eletroeletrônicos brasileira é a Operação Padrão da Receita Federal. Um terço das indústrias diz ter tido problemas em abril para liberar com agilidade os insumos na alfândega.

A falta de componentes eletrônicos atrasou a produção da indústria local e a entrega dos produtos, um problema citado por 44% das entrevistadas. E há 7% de indústrias com paralisação parcial da produção.

Este cenário de piora fez as fábricas locais reajustarem previsões sobre regularização do fornecimento de componentes. Em janeiro, diz a Abinee, 53% das empresas acreditavam que a normalidade no abastecimento de componentes semicondutores ocorreria até o final de 2022. Em abril, esse percentual caiu para 22%.

O número de entrevistadas com previsão de normalidade em 2023 passou de 34% em janeiro para 48% em abril. Aumentou ainda o número de indústrias que desistiram de prever o retorno à normalidades pré-pandemia. E já aparecem respostas (5%) dizendo que a situação seguirá complicada até 2024.

Os problemas logísticos para importação de insumos também cresceram. As indústrias afirma que o preço do frete continua subindo, que ainda está difícil reservar contêineres, e que os atrasos no frete marítimo estão mais recorrentes. Ao todo, 71% das indústrias eletroeletrônicas tiveram atrasos no recebimento de cargas em abril.

A Abinee afirma ainda, no relatório, que a conjunção de baixo crescimento do PIB, inflação alta, elevação da taxa de juros e escassez de chips e insumos vão inibir os investimentos neste ano. Apesar disso, 55% das indústrias acreditam que vão faturar mais neste ano do que em 2021.

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Rafael Bucco

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