Ericsson quer política de incentivo ao software nacional
A Ericsson está defendendo junto ao governo a criação de políticas de valorização do software nacional. A ideia é que sejam criados mecanismos para incentivar a pesquisa e desenvolvimento locais, conforme o presidente da empresa Eduardo Ricotta.
A postura parte de dois movimentos. Primeiro, em resposta à disputa que o Brasil trava na Organização Mundial do Comércio. No caso, o país foi acusado de práticas anticompetitivas por Japão e União Europeia em função da Lei de Informática, que oferece desconto a fabricantes que realizem pesquisa em hardware no país. A decisão definitiva ainda está para ser publicada, e o governo brasileiro avisou que pretende recorrer. Mas já se sabe que o organismo internacional condenou o Brasil, o que implica a suspensão da legislação.
Segundo, em função do aumento dos investimentos da Ericsson em software. A empresa ainda produz hardware, mas quer crescer em software e serviços digitais. “Tivemos resultados muito positivos no segundo trimestre no Brasil por causa de contratos de fornecimento de 4G em 700 MHz com as operadoras, e também devido ao crescimento da contratação de nossos serviços de transformação digital”, diz Ricotta.
A empresa está investindo pesado no desenvolvimento de novas tecnologias em nuvem, e menos nos devices. Ele ressalta que a Ericsson não precisaria de mais do que 80 engenheiros trabalhando no P&D com foco em hardware. Mas atualmente, tem 545 profissionais no departamento, em função da demanda por software.
O executivo não diz ao certo como seriam os incentivos. A Lei de Informática, por exemplo, prevê um desconto de até 4% da receita em impostos para investimentos em pesquisa de novas tecnologias.
Enquanto a OMC não solta sua decisão, a Ericsson mantém a fábrica que possui no Brasil, em São José dos Campos. A unidade seria beneficiada com um incentivo ao software, também. Conforme Ricotta, embora produza hardware, toda inovação e implementação passa pela capacidade de produção local, podendo ser integrada aos produtos físicos. Também tem tido bons resultados pelas vendas ao exterior. “Ter uma fábrica dá uma agilidade de implementação [de novas tecnologias] gigantesca”, lembra.
Para os próximos meses, ele conta que a empresa trará ao país um novo sistema de orquestração de nuvem, que permite articular as diferentes aplicações cloud. O segmento de nuvem é um dos filões no qual a empresa acredita, e seu maior contrato atualmente é com o grupo espanhol Telefónica, que contratou a empresa para a implementação em todas as subsidiárias.
A Ericsson também se prepara para mergulhar na internet das coisas. Vai lançara a plataforma IoT Accelerator, também para orquestrar as diferentes aplicações e recursos de uma rede de dispositivos conectados. “A internet das coisas é ainda um mercado muito fragmentado, mas no qual acreditamos muito”.
Rumos
Ricotta defende que a telefonia móvel deva se transformar rapidamente nos próximos anos. Segundo ele, o 2G tende a desaparecer. Mas há ainda uma parcela importante de usuários no país, que não devem largar mão. Por isso, governo e operadoras deveriam se mobilizar para fazer uma transição “a exemplo do que foi feito com a TV digital” e estimular a migração para 3G ou 4G.
“O custo da rede 2G para algumas operadoras será maior do que a receita que estes sites 2G geram. Por isso é importante pensar já em como desligar essas redes de forma inteligente”, diz.
Além do tipo de conexão, ele estima que a oferta de serviços digitais deva transformar o modelo de negócio das operadoras. “Acho que os conceitos de pós-pago ou de pré-pago vão acabar. O cliente vai ser pós e pré ao mesmo tempo. Para comprar uma série, usará um sistema pré-pago. Para consumir a internet no celular, vai pagar a mensalidade do pós-pago. As operadora vão desenvolver mais os sistemas de cobrança para lidar com essa demanda”, ressalta.
Segundo ele, a Ericsson no Brasil está em situação adversa da matriz, que tem apresentado resultados negativos há um ano. No segundo trimestre, a operação local cresceu – o que mereceu destaque no último relatório financeiro. A situação deve continuar positivo neste semestre, quando serão entregues grandes projetos, tanto no terceiro, quanto no quarto trimestres.
Enquanto foca em seu core business (redes) e software, a empresa segue em busca de alternativas para o segmento de vídeo e broadcast. A unidade já foi separada das operações, e pode ser vendida, receber aportes de terceiros ou mesmo ser transformada em uma joint-venture. “O que queremos é achar uma alternativa para o negócio de vídeo”, resume.