Em busca de diversificação, Nokia quer fechar negócios em novos setores

Osvaldo Di Campli, novo vice-presidente para a América Latina da Nokia, conta que a empresa está se reposicionando para atender mais ao setor público, de transportes, e até de seguros. "Mais do que ser simplesmente um fornecedor de tecnologia, estamos com a estratégia de parceria para atacar certos segmentos verticais", afirma.

Osvaldo-Di-Campli

Osvaldo Di Campli assumiu o comando da Nokia para a América Latina em setembro. O executivo chega ao cargo após anos de Alcatel-Lucent, comprada depois pela Nokia. No cardápio, desafios econômicos, como conduzir o reposicionamento da companhia, que busca diversificar receita e diminuir a dependência das operadoras.

Em entrevista ao Tele.Síntese, Di Campli explicou porque a Nokia vê um erro estratégico no modo como a empresas, de diferentes segmentos, estão fazendo a transformação digital. A Nokia defende que essa transformação deve acontecer com foco e em segmentos escolhidos a dedo, caso contrário, não rende qualquer resultado por si só.

A companhia finlandesa planeja se tornar mais e mais uma fornecedora de serviços, fechando parcerias em segmento variados, vendendo equipamentos, mas principalmente software e serviços. O momento é de montar casos de uso, abarcando os setores público, de transporte, de energia, de seguros e, também, comunicações. Leia na entrevista abaixo mais detalhes dessa estratégia:

Tele.Síntese: O PIB do Brasil caiu 7% nos últimos dois anos. Este ano, crescerá 0,5%. As operadoras começam a falar em recuperação, mas com o agravamento da situação da Oi, você não acha que o mercado volta a ter problemas?

Osvaldo Di Campli, vice-presidente da Nokia para a América Latina: Não tenho bola de cristal, mas acredito que o mercado tem uma oportunidade. Mesmo em dificuldades financeiras, o Brasil é a quinta economia mundial. Estamos fazendo um estudo em que, nos próximos três anos, com as novas tecnologias, a produtividade [global] vai aumentar de 30% a 35%.

Tele.Síntese: Pela IoT?

Di Campli: Motivado por novas tecnologias que estão entrando no sistema: realidade virtual, internet das coisas, todo esse monte de inovações que estão acontecendo. A produtividade vai aumentar, isso é um fato.

Tele.Síntese: A produtividade global?

Di Campli: A produtividade global. Mas depois, na América Latina e no Brasil. A produtividade vai aumentar em várias indústrias: startups, comunicação, transportes, energia, segurança pública.

Tele.Síntese: E como a Nokia está se colocando? Ela vai ter produtos para cada um destes segmentos? A Nokia já falou que a transformação digital morreu

Di Campli: Acreditamos que a produtividade vai aumentar nessas indústrias que falamos e em certas indústrias particulares, inclusive em comunicações, na América Latina. O Brasil é um país emergente, com 200 milhões de pessoas. Ainda há uma grande diferença entre estar conectado e não. Nós temos que continuar buscando como trazer a banda larga [a todos]. Isso tem que acontecer tanto em zonas urbanas, como em zonas rurais. O 4G é um fato que tem de acontecer. Nós estamos implementando um projeto na América Latina, no Brasil, de 700 MHz, com a TIM.

Tele.Síntese: Vocês estão com a TIM e com a Oi?

Di Campli: TIM, Oi, Algar e América Móvil.

Tele.Síntese: Só não, com a Telefônica. Vão tentar?

Di Campli: Não só apostamos, como continuamos trabalhando conectividade com as operadoras para entender os casos de uso. Nós temos como estratégia da companhia a orientação de compartilhar casos de uso com as companhias de software e operadoras, com foco nas verticais e com a plataforma que temos.

Tele.Síntese: A prioridade de vocês é nos segmentos de saúde e transporte?

Di Campli: Companhias de energia elétrica, transportes, ferrovias e estradas, aeroportos e portos, setor público, defesa, segurança pública, cidades inteligentes.

Tele.Síntese: Setor público você entende o que?

Di Campli: Defesa. Temos um investimento grande em cuidar dos perímetros nacionais dos países, segurança pública, cidades inteligentes e governos inteligentes. Em cada uma existem casos de uso diferentes. E por último, OTTs.

Tele.Síntese: E o que você vai oferecer para eles, conectividade?

Di Campli: Conectividade inteligente, habilidade de transportar informação. Também teremos uma parceria importante com EUA e China. Outro setor que temos interesse é o de seguros. Nós vamos oferecer casos de usos pontuais. Somos uma companhia dedicada a casos de usos, nessas indústrias que eu falei.

Tele.Síntese: Isso sem passar pelas operadoras.

Di Campli: Nós teremos uma série de prioridades em nível mundial e latinoamericano. A prioridade é otimizar e fazer parcerias com as operadoras para negócios complexos com outras indústrias. Estamos alavancando relacionamentos que já temos com as operadoras e na parte de conectividade e transformação digital. Mais do que ser simplesmente um fornecedor de tecnologia, estamos com a estratégia de parceria para atacar certos segmentos verticais.

Tele.Síntese: Mas não vai ser exclusividade? Ou vocês vão atacar esses segmentos só pelas operadoras?

Di Campli: Não vai haver exclusividade nesses segmentos, vai ser caso a caso. O que nós vamos fazer é atacar o cara que tem um posicionamento melhor no setor público. Nem todas as operadoras têm o mesmo desenvolvimento nesse mercado de verticais.

Tele.Síntese: Vocês tem tecnologia para 450mhz?

Di Campli: Temos.

Tele.Síntese: Vocês têm o que?

Di Campli: Nós temos tudo, o Core, o ERB.

Tele.Síntese: Vocês são fornecedores da AIMNT, empresa na Noruega que comprou parte da Nextel?

Di Campli: Somos.

Tele.Síntese: Então, agora que ela está vindo para a Nextel, vocês vão ganhar esse mercado?

Di Campli: Na Nextel, há um processo de reestruturação, com o investidor Escandinavo. Nós temos um relacionamento com eles, mas eles têm que, primeiro, fechar um procedimento judicial. Depois veremos qual a oportunidade que existe.

Tele.Síntese: Hoje vocês já são fornecedores da Nextel na faixa de 800 MHz?

Di Campli: Da Nextel, no Brasil, não.

Tele.Síntese: Se você pegar os números esse ano e ano passado no Brasil, quem mais está crescendo em banda larga são os pequenos provedores. Vocês tem alguma estratégia para os pequenos?

Di Campli: Mas você lembra-se da GVT? Nós temos uma estratégia no mercado indireto, temos parcerias com companhias que atendem esses segmentos.

Tele.Síntese: Os pequenos têm alegado que o equipamento é muito caro para o porte deles. Você acha que a Nokia consegue chegar a isso, ou ela é sofisticada demais?

Di Campli: Estamos trabalhando com os ISPs a internet fixa, mas como são operadores regionais e não são muitos por região, ainda não conseguimos formatar um plano, mas estamos explorando. Para o caso de parte móvel, ainda não temos uma ideia.

Tele.Síntese: Como você vê o cenário para o ano que vem? Você acha que as grandes voltam a investir?

Di Campli: O mercado será diversificado. Temos que continuar trabalhando com as grandes operadoras, as regionais e as locais. Obter investimentos para os casos de uso nos segmentos verticais que eu falei. Acreditamos que a internet das coisas vai acontecer primeiro na parte industrial, para aumentar produtividade. Vamos trabalhar talentos: acreditamos em grande impacto na América Latina e no Brasil, temos de preparar talentos para processos de digitalização, fechar parcerias com universidades que estão se entendendo com essas tecnologias.

Da mesma forma, estamos automatizando os processos de vendas, experimentando o que as grandes empresas estão experimentando, para logo tornar essa experiência uma realidade. Um exemplo disso é o escritório em São Paulo, na Lapa. Nosso escritório tem uma tecnologia que não usa mais internet, usa-se o modo POL (passive optical lan) a mesma tecnologia de soluções fixas, mas no ambiente empresarial. Isso tem uma queda no custo de optics de 35% a 40%.

Tele.Síntese: A Nokia fabrica ERBs em Curitiba. Como vocês avaliam a condenação da OMC à Lei de Informática?

Di Campli: Continuamos investindo no Brasil. Mas não sabemos, ainda, o que vai acontecer.

Tele.Síntese: Mas não é arriscado continuar investindo sem saber se vai ter mudança?

Di Campli: Acredito que no final terá um resultado positivo, claro que com impostos a reduzir, mas acredito que só para estratégias comerciais. O resultado mais necessário dessa produção local está no marketing. Esse caso [da produção local] é um fator que possibilita ter um marketing on time.

Tele.Síntese: Mas a decisão da OMC não afetou a decisão de vocês quanto à fabricação?

Di Campli: Não.

 

Tele.Síntese: Quais são as metas da Nokia para 2018?

Di Campli: Meu objetivo pessoal e corporativo é crescer o negócio. Ainda não sei quanto, mas tem que crescer pelo menos um dígito.

Tele.Síntese: Mas é claro que um dígito, cresce.
Di Campli: Nosso objetivo é crescer o mínimo o ao nível de cada mercado da América latina e Brasil.

Tele.Síntese: Mesmo com essa economia?

Di Campli: Mesmo com essa economia. Nós temos essa sinergia de crescer com o mercado. Tem algumas áreas que acreditamos que podemos crescer.

Tele.Síntese: Quais?

Di Campli: O mercado mobile, é um mercado muito concorrido, mas estamos ganhando mercado aqui no Brasil e no México. Na parte de IP optics, somos a única companhia com um portfólio convergente da parte óptica e da parte de software. A parte de transformação digital são as áreas de foco da Nokia. E a banda larga.

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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