Edge computing espalha-se na economia e faz data centers crescerem exponencialmente
O mercado dos data centers, que segundo analistas é de aproximadamente 4,5 bilhões de dólares ao ano no Brasil, vai crescer por conta da demanda que 5G e edge computing irão gerar por esse tipo de solução. Foi o que disseram alguns dos CEOs do setor, ouvidos pelo TS. Eles falaram sobre as perspectivas para esse mercado.
“O edge computing melhora a percepção do usuário final na ponta, tornando tudo mais rápido. Com a expansão dessa tecnologia surge o conceito do data center pequeno, um espaço pequeno para processar e armazenar. Esses espaços vão precisar comunicar-se com os grandes pontos concentradores, que são os DCs de grande escala. Portanto, o edge computing pode vir a impulsionar a necessidade por data centers à medida que mais dados são gerados”, disse Roberto Rio Branco, Vice-presidente de Marketing & Relações Institucionais na Ascenty.
“O 5G e o edge computing alavancarão um aumento exponencial por demanda de data center. Por razões técnicas: cada antena 5G alcança uma distância efetiva de comunicação entre ERBs dez vezes menor que o atual padrão 4G”, destacou Alexandro Castelli, diretor de marketing da Matrix. “Além da maior densidade de equipamentos de telecom necessária, os requisitos de latência forçarão os ISPs a pulverizar duas saídas IP com um maior número de operadoras, distribuídas em um maior número de estados”, completou.
Para Alessandro Lombardi, CEO da Piemonte Holding e Presidente da Elea Digital, outra grande empresa do setor de data centers, o edge computing provocará grande incremento na demanda, além das empresas de TI tradicionais que estão expandindo geograficamente suas alocações de racks, em linha com o que aconteceu nos mercados europeu e norteamericano, “é o mantra do 5G”.
“O conjunto das funcionalidades do 5G necessita de edge computing, confirmado pelos investimentos relevantes que as empresas do setor de telecomunições estão fazendo nesta tecnologia”, disse.
Investimentos
E quais são esses investimentos? Na Ascenty, por exemplo, a previsão para 2022 é de R$ 1,35 bilhão, segundo Roberto Rio Branco.
Ele contou que a empresa, que recentemente abriu data centers no Rio e em Hortolândia, investiu R$ 1 bilhão na América Latina, em 2020; e R$ 1,5 bilhão em 2021, e que cerca de 80% desse montante foi direcionado ao Brasil.
“Em 2020, a Ascenty cresceu 50% em termos de faturamento a 2019; em 2021, cresceu pouco mais de 32% em relação a 2020, chegando a um faturamento de R$ 1,3 bilhão”, disse.
Segundo Alessandro Lombardi, CEO da Piemonte, o aumento da capacidade instalada no mercado de data center acontece com um lapso temporal de pelo menos um ano, que é o tempo ideal para planejar e executar odesenvolvimento de servidores.
“Portanto, neste ano estamos crescendo de forma relevante, resultado da demanda gerada em 2021. Neste primeiro trimestre de 2022, estamos peercebendo uma demanda ainda mais forte do que no ano passado, o que mostra que o mercado Brasil e o mercado latino americano são cada vez mais um dos motores do crescimento global do setor”, falou Lombardi.
“A estimativa é que a potência instalada continue crescendo com taxas de 10% a 15% ao ano no médio e longo prazo. Nós, que estamos nas pontas do Brasil desenvolvendo regiões menos servidas, estamos planejando crescer a um ritmo até mais acelerado em nosso ecossistema”, complementou o representante da Piemonte.
Crescimento e tendências
A Lumen Brasil, outra forte representante do setor, cresce 2 dígitos há 3 anos consecutivos, segundo Rodrigo Oliveira, Diretor de Negócios de Datacenter & Cloud da empresa. “Sendo que nosso recorde de crescimento ocorreu em 2021.”
“Nossos investimentos têm se multiplicado com o passar dos anos. Neste momento, iniciamos as expansões de nosso Datacenter de Cotia (SP), para adicionais 360 racks; e recentemente, expandimos no Rio de Janeiro e também em Curitiba”, disse Oliveira.
A Matrix também tem experimentado uma taxa de dois dígitos de crescimento a cada semestre. “Desde o início da pandemia”, contou Alexandro Castelli, diretor de Marketing.
Nesse sentido, ele disse que identifica duas tendências: Cloud First e Digital First. “A primeira otimiza a produtividade da força de trabalho; enquanto a segunda garante maiores vendas. Empresas de todos os segmentos perceberam que o comportamento do consumidor mudou. Hoje ele demanda experiências digitais e de auto-atendimento, mesmo quando está comprando em lojas físicas.”
Novas empresas
Empresas de todos os setores estão buscando por data centers de alta disponibilidade e capacidade. “Isso porque existe uma demanda crescente de armazenamento de dados em todos os tipos de negócios. Novas tecnologias, IoT, chegada do 5G no país, são alguns fatores que têm impulsionado esse movimento de migração para data centers”, falou Rio Branco, da Ascenty.
“Inicialmente a maior demanda era por empresas de tecnologia e pontocom. Hoje vemos empresas de todos os segmentos, com um impulsionamento ainda maior após a pandemia”, disse Castelli, da Matrix.
Para Alessandro Lombardi, cada vez mais o segmento de médias empresas está aderindo à transformação digital, utilizando arquiteturas de sistema mais sofisticadas que, para se viabilizar, necessitam de um data center profissional e dedicado. “É um movimento amplo, quase geracional, fomentado por uma série de prestadores de serviço de soluções cloud”.
“Todas as verticais de mercado seguem adotando os datacenters e as soluções híbridas para atender às suas demandas de negócios. Finanças, serviços, saúde, games, governo, agro, enfim, todas, sem exceção, utilizam nosso portfólio e nossos bundles de datacenter e segurança com os serviços de telecomunicações e colaboração”, destacou Rodrigo Oliveira.
De acordo com o CEO da Lumen, o edge computing tem sido utilizado por empresas dos segmentos de entretenimento (games), serviços de tecnologia, finanças, entre outros, para entregar aos clientes a menor latência possível.
“Hoje, em nossos Datacenters de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, isso já é possível e, em breve, disponibilizaremos em todas as principais capitais no Brasil e Latam. Para os clientes, é muito simples: tudo é disponibilizado como serviço e de acordo com a sua previsão orçamentária”, completou Oliveira.
Regulação
Lombardi, da Piemonte, assinalou que há preocupação com o consumo de energia no setor, e isso precisa de uma solução. “Estimamos que o consumo de energia do setor de data center esteja se aproximando a 2% do total do consumo elétrico industrial brasileiro, quando na América do Norte e na Europa este indicador já superou 5%. Estas porcentagens devem aumentar ainda mais nos próximos anos”, disse.
“Portanto, é necessário pensarmos nas soluções adequadas para não repetir erros do passado e pensar em produzir energia de forma eficiente, tirando, quando possível, peso da rede, e sem contribuir ao deterioramento das condições climáticas”, concluiu.
Segundo o Ministério das Comunicações, não há, no momento, qualquer projeto em andamento no sentido de conceder incentivo fiscal a data centers, como havia estudos no passado.