Drex: piloto ainda busca equacionar privacidade e descentralização

De acordo com especialista do Banco Central, a primeira fase do piloto do Drex focou a questão da privacidade, mas soluções não estão suficientemente maduras

A segunda fase do piloto do Drex coordenada pelo Banco Central (BC) teve início no final de setembro e não há previsão de quando o real digital chegará ao mercado. Anunciado em março de 2023, o projeto do BC nasceu com a expectativa de que o produto final fosse lançado no final deste ano. Mas, em maio passado, a autarquia fez alterações no cronograma, incluindo uma nova fase. A explicação foi que havia a necessidade de garantir o atendimento dos requisitos jurídicos relacionados à preservação da privacidade dos usuários.

Drex: piloto ainda busca equacionar privacidade e descentralização
Painel debateu desafios do Drex no evento Mobimeeting Finance + ID | Foto: Tele.Síntese

“Esse é um período de pesquisa e desenvolvimento. A primeira fase foi focada na privacidade, mas, apesar da evolução ter sido boa, as soluções não estão maduras o suficiente para lançar o sistema. Então, na segunda fase, ainda continua esse trabalho sobre a privacidade”, afirmou Alessandro Fraga, especialista do BC, em painel sobre o Drex no Mobimeeting Finance + ID, evento realizado pelo portal Mobile Time nesta quarta-feira, 30 de outubro, em São Paulo.

Fraga explicou que há uma complexidade na garantia da privacidade no Drex, já que ele funcionará numa rede blockchain, que é descentralizada. Em outras palavras, isso significa que os participantes de uma transação nesse ambiente conseguem enxergar os dados financeiros uns dos outros. Ao mesmo tempo, as instituições brasileiras devem seguir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

“A privacidade é uma questão central, a lei nos obriga. Mas só a privacidade, no caso do Drex, não interessa. Tem que ter descentralização e programabilidade”, afirmou o especialista.

A Caixa Econômica Federal, que participa do piloto do Drex num consórcio com a Microsoft e a Elo, está em busca de soluções para garantir a privacidade. “Privacidade, quando se trata de blockchain, é um grande desafio. Nossa parceria vai testar na segunda fase uma solução que é ZKP, prova de conceito zero, para proteger os dados dentro da LGPD”, disse Efraim Soares dos Santos, do setor de Inovação da Caixa.

Segurança

Outra preocupação dos desenvolvedores do Drex é com a segurança. De acordo com Fraga, do BC, os desafios nesse sentido começam pelo usuário. “Em todo tipo de serviço, há muito ataque de phishing, de engenharia social. Por mais que tenha várias camadas de segurança, se alguém engana o usuário a ponto de ele mesmo fazer uma transferência, conseguiu quebrar essas camadas”, comparou.

Os chamados oráculos de blockchain, que são entidades que entregam informações externas relevantes a contratos inteligentes num sistema financeiro descentralizado, também exigem atenção.

Segundo Santos, na Caixa há o entendimento que as chaves — códigos secretos para gestão da moeda digital –devem ficar sob proteção das instituições financeiras. “Estamos testando algumas soluções, de uma HSM, para ver qual a melhor em termos de segurança e escalabilidade dentro das operações”, disse.

Ao todo, 16 consórcios definidos pelo BC e que já estavam na primeira fase do piloto continuam na fase atual ainda com foco na privacidade. Eles também vão testar a implementação de smart contracts criados e geridos por terceiros participantes da plataforma. Além disso, começam os testes de casos de uso, que incluem 13 temas, como cessão de recebível e otimização do mercado de câmbio, e até o dia 29 de novembro, o BC vai receber novas propostas de casos de negócios para testes.

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Simone Costa

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