Dados públicos dos brasileiros são ideais para treinamento de IA, avalia MCTI
O Brasil tem potencial para fornecer grandes volumes de dados aplicáveis ao treinamento da inteligência artificial generativa graças ao perfil populacional miscigenado, acredita o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo Guilherme Corrêa, coordenador-geral de tecnologia na Pasta, os características dos brasileiros fazem com que nossas bases de dados públicas atraiam desenvolvedores de modelos grandes de linguagem (LLMs, na sigla em inglês) de IA.
“O Brasil é um dos principais países com abundância de dados devido à diversidade étnica. Na Europa os dados são estereotipados, o perfil mais comum é o branco, de olhos e cabelos claros, por exemplo, e aí a IA trabalha com o estereótipo como se fosse o padrão global. No Brasil, não, e isso torna nossos dados mais apropriados para treinar IA para uso no mundo todo”, falou em coletiva à imprensa nesta quarta-feira, 30, durante evento organizado pela Dell Technologies em São Paulo.
Como exemplos, o governo brasileiro dispõe de dados públicos de saúde (Datasus), de seguridade social, segurança pública, censo populacional, entre outros. Tudo à disposição de startups. “Isso pode ser utilizado para treinamento lá fora, mas o que a gente deseja e pretende é que as startups surjam e venham usar aqui”, observou ele.
O país também tem formado profissionais gabaritados para trabalhar com a tecnologia. Este ponto de vista foi reforçado por Ana Oliveira, diretora sênior do centro de inovação e IA da Dell Technologies. Ela comanda 57 pesquisadores, espalhados principalmente por São Paulo e Rio de Janeiro.
“Concordo, nos últimos anos temos tido melhoria da formação, especialmente nos últimos cinco ou quatro anos, com revisão do currículo em muitas instituições superiores. Antigamente, tínhamos que pegar pessoas das universidades e dar formação interna”, avaliou.
Burocracia
Corrêa lembrou que o Custo Brasil ainda é um grande desafio para a inovação. “Os recursos existem. Este ano serão R$ 12 bilhões do Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia [FNDCT], e ano que vem serão R$ 20 bilhões, já que não é mais permitido seu contingenciamento. O que falta? Não temos ainda eficiência na burocracia. Para o dinheiro chegar à P&D, atravessa um longo e tortuoso caminho”, admitiu o representante do ministério.
Diego Puerta, presidente da Dell Technologies Brasil, acredita que houve melhorias significativas no ambiente de inovação no Brasil nas últimas décadas graças à Lei do Bem, que incentiva pesquisa local. Mas acrescenta que há dois pontos de preocupação que precisam ser considerados pelas empresas aqui: o valor do câmbio e incentivos à exportação.
Atualmente, lembrou ele, a Dell Technologies produz equipamentos em Hortolândia (SP) somente para o mercado local. Para ser um polo exportador, é preciso ter uma política. “Uma coisa que prejudica toda a cadeia é o câmbio, mas isso não é controlável. Antes da pandemia o dólar estava em R$ 3, atualmente, em R$ 5,76. As commodities são reguladas em dólar, então isso inibe planos de exportação. Em relação à burocracia, então, a oportunidade é reduzir o Custo Brasil para facilitar exportações”, comentou ao Tele.Síntese.
A Dell Technologies também tem expectativas positivas em relação ao PBIA, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial que prevê R$ 23 bilhões em investimentos do governo ao longo de quatro anos, metade do dinheiro vindo do FNDCT nas modalidades reembolsável e não reembolsável.
Segundo Corrêa, do MCTI, a minuta de decreto está na Casa Civil da Presidência da República aguardando a publicação. Ele não deu, porém, previsão de publicação nem quis comentar se o texto final vai ter alterações em relação à proposta apresentada em julho.
Impacto econômico
O evento da Dell Technologies em São Paulo com representante do governo foi oportunidade para a empresa lançar um estudo que mostra seu impacto econômico no Brasil. Segundo o material, feito pela S&P Global, em 2023 a subsidiária brasileira da fabricante de equipamentos de informática contribuiu em R$ 9,19 bilhões para o PIB local.
“A Dell beneficia milhares de famílias direta e indiretamente. A cada R$ 100 em salários pagos pela empresa, são gerados R$ 424 adicionais em salários indiretos e induzidos”, afirma Puerta, presidente da empresa no Brasil. O estudo da S&P Global estima que a Dell mantém cerca de 101 mil empregos no Brasil, entre “diretos, indiretos e induzidos”. Em 2024, a marca completou 25 anos de operação no Brasil.