Correios e Surf Telecom vão lançar conta digital em parceria
A primeira operadora a lançar no país o serviço de conta digital será curiosamente uma MVNO (Mobile Virtual Network Operator). A Surf Telecom (EUTV), que opera a rede dos Correios Celular, já foi autorizada pelo Banco Central a ser um agente de arranjos financeiros por meio de sua subsidiária, a Surf Serviços.
O novo serviço é uma parceria entre a Surf Telecom e os Correios e será apresentado durante o Ciab Febraban 2018, que acontece entre 12 e 14 de junho, em São Paulo. Segundo as empresas ainda não há uma definição sobre a marca da conta digital, mas o presidente da estatal, Carlos Fortner, disse que qualquer que seja a solução a marca vai ter uma relação com os Correios.
Aliás, os Correios já têm uma parceria com a conta.Mobi, dentro de um serviço criado pela estatal que se chama Aporte e Saque – é aí que entram as parcerias com fintechs (empresas de base tecnológica voltadas ao mercado financeiro). Esse serviço surgiu como resultado da lei 12.865/2013, que estabeleceu os arranjos de pagamento como atividade financeira reconhecida pelo banco Banco Central, relata Cristiano Barata Morbach, vice-presidente de Canais dos Correios.
Os serviços financeiros são um dos novos segmentos que estão sendo explorados pelos Correios, dentro de sua estratégia de buscar novos mercados para substituir a queda de receita com os serviços tradicionais do monopólio (correspondências, telegramas, emissão de selos), que hoje representam menos da metade do faturamento da empresa. O serviço de encomendas responde pela maior parte do faturamento. “Pela sua capilaridade e por ter a fé pública, os Correios podem prestar uma série de serviços para atender a todos os segmentos da população, inclusive quem não tem conta em banco”, diz Fortner.
O serviço oferecido pela conta.Mobi é focado nos microempreendedores individuais (MEIs), que ganham uma conta digital gratuita. O sistema funciona via web ou no celular, adquirido nas lojas dos sistemas operacionais Android e iOS. Não há cobrança de download nem pagamento de mensalidade. Também não é necessário comprovação de renda, ou consulta aos sistemas de crédito, como SPC e Serasa. O usuário não precisa sequer ser cliente de algum banco para ter a conta digital.
Em versão para pessoa jurídica, a conta digital permite ao microempreendedor individual controlar suas entradas e saídas de dinheiro, efetuar pagamentos online, receber por meio de boletos, fazer transferências entre cartões e contas bancárias, automatizar os sistemas de recebimento. A solução oferece máquina para pagamento com cartões de crédito e débito, sem cobrar mensalidades. O usuário também tem direito à consultoria de uma rede credenciada de contadores pela Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis (Fenacon). A plataforma se remunera por meio de tarifas, inferiores às do mercado.
Solução para os desbancarizados
Já o serviço que vai ser lançado pela Surf Serviços tem foco nas pessoas físicas que não têm conta bancária. Seus clientes em potencial são os usuários do serviço pré-pago dos Correios Celular que, no final de abril, eram 135 mil , com um gasto médio mensal de R$ 33, superior ao das operadoras que ocupam os três primeiros lugares no ranking do mercado. O número de clientes, no entanto, é inferior aos 500 mil esperados pela direção da estatal para o primeiro ano de operação quando o serviço foi lançado em março de 2017.
Mas é um contingente que cresce continuamente, principalmente agora que a rede celular operada pela Surf Telecom já está presente em 50 DDDs do país, distribuídos em todas as regiões. “Nossa cobertura é maior do que a da Nextel, a quinta operadora”, relata Yon Moreira, CEO da empresa.
Para prestar o serviço, a operadora virtual usa as redes da TIM e da Oi. Só tem frequências próprias na Grande São Paulo, adquiridas no leilão das sobras de dezembro de 2015 quando comprou 35 MHz, TDD, na banda C, em 2.500 MHz, para montar uma rede 4G.
A conta virtual será oferecida gratuitamente a todos os clientes do serviço pré pago dos Correios Celular para que possam fazer remessa de dinheiro para seus parentes, sejam eles clientes ou não do mesmo serviço (podem retirar o dinheiro no Banco Postal, dos próprios Correios, ou em um banco comercial) ou fazer compras com o seu cartão de débito. O cliente não vai pagar pela operação bancária. Só vai pagar pelo cartão de débito e para colocar crédito (dinheiro) no cartão.
E onde a Surf Serviços vai ganhar dinheiro? “Em serviços agregados que vai oferecer a esse cliente, como microcrédito e outros”, relata Yon, um entusiasta da oferta de serviços para as camadas mais pobres da população, desde que dirigiu a operadora Movicel, em Angola, por quase dois anos, entre 2011 e 2013. “É preciso aprender a ganhar pouco de muitos e a prestar serviço de qualidade para o povo”, pontifica.
Para Yon, as novas tecnologias digitais podem ajudar a vencer o desafio da bancarização a um custo baixo e facilitar enormemente a vida das pessoas de baixa renda, desde que se encontre um aparelho celular de qualidade pelo qual a população possa pagar. “Esse é o desafio a ser vencido e eu acredito que pode ser vencido”, diz ele, um eterno otimista.
Se é verdade o que diz, o mercado a ser conquistado é enorme. Pesquisa do Instituto Data Popular realizada no ano passado, indicava que cerca de 55 milhões de brasileiros eram desbancarizados (sem nenhum vínculo com instituições bancárias), o que representava 39,5% dos moradores do país com mais de 18 anos e que movimentaram aproximadamente R$ 655 bilhões.
Desse total, 20 milhões (37%), o público visado pela Surf Telecom, eram de classe baixa; 29 milhões (48%) da classe média; e seis milhões dos brasileiros (11%) pertenciam à classe alta. Já com relação às regiões do país, nos Estados do Norte e Nordeste, metade da população não possuía conta em nenhum banco; no Centro-Oeste, a porcentagem chegava a 31% dos adultos; enquanto nas cidades do Sul e Sudeste, ela atingia 30%. Além disso, o estudo apontava que o sexo feminino e a faixa etária entre 25 e 59 anos optavam por utilizar somente dinheiro.
De acordo com a pesquisa, as formas de pagamento mais utilizadas por esse público eram boleto bancário, pagamento online e o cartão pré-pago. Neste último caso, existia uma certa vantagem quando comparado com o cartão de crédito tradicional: o consumidor precisava, obrigatoriamente, fazer uma recarga de qualquer valor e, após a compensação do dinheiro, o saldo ficava disponível para efetuar a compra com o cartão, para pagamento de contas ou transferências para outros bancos.
Negócio antigo
Morbach lembra que prestar serviços financeiros não é uma novidade para os Correios. Desde muito faz isso. Seu primeiro produto nessa área foi o Vale Postal, ainda em vigor tanto para pessoa física quando jurídica. Só que para enviar até R$ 50, o cliente paga uma tarifa de R$ 7,40, no caso de pessoa física.
O produto está disponível para todo o território nacional e, de acordo com o site dos Correios, envolve mais de 6.200 agências credenciadas e leva até quatro dias úteis para ser entregue ao destinatário. Há também o Vale Postal internacional.
Outro serviço financeiro dos Correios é o Banco Postal. Aqui, os Correios são correspondente bancário do Banco do Brasil, atuando como uma agência física do banco para atividades como recebimento de contas e pagamentos de transferências de recursos enviados ao destinatário, entre outras atividades. O correspondente bancário não faz abertura de conta.