Continuidade da operação da Nextel em 2020 dependeria de incertezas

CFO Dan Freiman afirma que operadora não teria condições de participar de leilão 5G, que interesse do mercado era maior por espectro e base de usuários do que pelos ativos físicos - e dá a entender que rede deve ser desmobilizada para evitar sobreposição com a pertencente à Claro no Brasil.

A Nextel, cuja venda para a América Móvil (Claro) foi anunciada hoje, 18, tem em caixa US$ 175 milhões, dinheiro suficiente apenas para garantir as operações neste ano, mas não em 2020. Para se sustentar ano que vem a operadora teria de ter um desempenho formidável neste ano, contar com uma liberação incerta de reservas no exterior e ainda convencer um acionista que se desentendeu com o controlador a injetar capital.

A explicação foi data pelo CFO da operadora, Dan Freiman, durante a conferência dos resultados de 2018 com analistas, realizada nesta manhã. Diz ele que o negócio dependeria do acesso a US$ 106 milhões retidos no México em conta garantia (escrow), cuja liberação ainda é incerta. A conta escrow foi criada em 2015, quando a NII vendeu a Nextel México para a AT&T por US$ 1,4 bilhão, para garantir o pagamento de impostos e licenças.

Ao mesmo tempo, a AI Media, grupo escandinavo que quase comprou a Nextel Brasil – mas desistiu do negócio após adquirir 30% -, teria de cobrir o restante necessário.

“Embora nós esperemos que a venda da Nextel Brasil seja concluída neste ano, se tivéssemos de financiar nosso negócio em 2020, teríamos que recuperar e usar os recursos da conta escrow no México e ainda contar com investimentos adicionais da AI Media”, disse o CFO durante a conferência de resultados com analistas.

O executivo explicou que, enquanto a venda para a América Móvil não é concluída – a operação depende de aval dos reguladores brasileiros Anatel e Cade, além do crivo dos acionistas a NII – a Nextel será tocada normalmente. “Os negócios tomarão o rumo ordinário, continuaremos focados na melhoria operacional, na rentabilidade, no aumento da base de assinantes e na gestão eficiente de nossa liquidez”, acrescentou Freiman.

Cenário dificílimo

O executivo não poupou adjetivos para justificar a venda. Freiman traçou um cenário em que a competição tornaria quase impossível a sobrevivência da Nextel como uma competidora não associada a um grande grupo de telecomunicações.

Em primeiro lugar, ele ressaltou que a maior parte dos clientes fica em São Paulo e Rio de Janeiro, também cidades onde a competição é mais feroz. A Nextel tem pequena escala, o que não é uma vantagem competitiva. “Os concorrentes são maiores, com produtos mais amplos e com mais ativos para garantir o próprio desenvolvimento no médio e longo prazos”, afirmou.

Em segundo lugar, apesar da melhoria operacional (a Nextel registrou lucro operacional em 2018, depois de prejuízos seguidos nos anos anteriores), ainda há queima de caixa. “Embora tenha havido recuperação do EBITDA e do fluxo de caixa, este ainda não foi positivo”.

Lembrou que só dá pra pensar em capacidade de financiamento da Nextel por dois anos com a liberação do dinheiro retido no México. “Ainda precisaríamos de um montante adicional significativo para continuar investindo, financiar a dívida e participar do leilão de espectro 5G esperado para 2020”, afirmou.

E concluiu dizendo que, para continuar como operadora independente, a Nextel teria de levantar capital a preços muito elevados. “Com o risco de não ter um retorno razoável”, disse.

Único interessado

Freiman também explicou que os executivos da NII e Nextel passaram os últimos dois anos buscando comprador para a operadora. Ao longo do processo, estiveram com 40 a 50 potenciais interessados. Desses, um punhado de empresas analisou minuciosamente os dados operacionais da Nextel Brasil. E apenas uma, a América Móvil, apresentou proposta considerada razoável.

“Tivemos outra proposta não vinculativa, que não assinamos e que era pior do que a recebida da América Móvil”, comentou.

Ele admitiu que o maior interesse não está nos ativos de rede, mas no espectro e na base de usuários, de maioria pós-paga. “Claramente o valor está no espectro e nos assinantes, e haverá custos [para o comprador] em desmobilizar a rede, já que a rede tem potencial de se sobrepor ao que já existe”, acrescentou.

Lembrou ainda que haverá revisão de contratos de leasing de infraestrutura e contingências comuns ao mercado de telecomunicações e em impostos que podem chegar a US$ 800 milhões. Tudo isso baixou o preço esperado pela Nextel Brasil.

Venda para a América Móvil

O CFO deu mais detalhes da venda, por R$ 3,4 bilhões, da Nextel Brasil para a América Móvil. Segundo ele, o valor tende a aumentar até a data limite para o fechamento, que é 31 de dezembro de 2019. Isso porque a AMX terá de reembolsar a NII pelo Capex necessário para garantir a operação no período. Por suas contas, serão mais US$ 49 milhões.

Freiman também explicou que a venda será ajustada conforme o valor da dívida no ato do pagamento, mas US$ 69 milhões de custos de aluguel de torres, registrados até dezembro de 2018, ficarão de fora.

A AI Media, por sua vez, venderá seus 30% para a AMX. Do valor, US$ 2 milhões ficam com o grupo escandinavo, e o restante será dividido na proporção 70/30 entre a NII e a AI Media.

Caso apareça uma proposta superior à da AMX, a NII terá de pagar US$ 25 milhões ao grupo mexicano. O negócio prevê ainda o depósito de garantia de US$ 30 milhões para custos legais.

A dívida da NII será descontada do valor total da venda. Ou seja, o acordo prevê pagamento de US$ 905 milhões menos US$ 335 milhões, o que significa que a NII receberá, líquido, US$ 420 milhões da AMX. Desse valor, SU$ 292 milhões vão para NII, e o restante, para a AI Media.

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Rafael Bucco

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