ConectarAGRO defende ampliação do uso do FUST para conectar o campo
Paola Campiello, Presidente da ConectarAgro, afirma que políticas públicas não acompanham ritmo de avanço das redes móveis no campo, defende atenção à conexão de propriedades familiares e cita 600 MHz como espectro potencial para cobertura móvel rural.
A cobertura de internet móvel em áreas rurais do Brasil passou de 19% para 34% em apenas um ano, segundo atualização do Indicador de Conectividade Rural (ICR), desenvolvido pela ConectarAGRO em parceria com a Universidade Federal de Viçosa.
Apesar do avanço, a presidente da entidade, Paola Campiello, afirma em entrevista ao Tele.Síntese que faltam recursos para acelerar a expansão da conectividade no campo, e propõe acesso ao Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) para projetos de conectividade rural.
O ICR utiliza dados públicos de cobertura das operadoras e da Anatel para medir a presença de redes móveis em áreas agrícolas. Campiello destaca que o aumento recente da cobertura foi puxado por duas frentes: inclusão de conectividade pública em rodovias e investimento direto de grandes produtores na instalação de torres 4G. “Mesmo com esse avanço, estamos longe de países como os Estados Unidos, com 70% de cobertura, e a Alemanha, com 90%”, afirma.
A ConectarAgro tem entre os associados a TIM Brasil, AWS, Nokia, Intelsat, Solinftec, Sol, AGCO, CNH, Case, entre outras.
Estudo mostra ganhos de produtividade com 4G
A dirigente citou estudo realizado pela CNH e pela Case IH, em Água Boa (MT), que constatou aumento de 18% na produtividade e redução de 25% no consumo de combustível após uma safra com conectividade 4G em toda a propriedade. O resultado foi obtido com sensores, drones, telemetria de máquinas e emissão digital de documentos.
Segundo Campiello, a conectividade ideal para o campo é a rede pública móvel de 700 MHz, por seu maior alcance geográfico. “O 5G ainda não é viável em áreas rurais, pois exige três vezes mais infraestrutura. Talvez no futuro, com frequências mais baixas como 600 MHz, faça sentido”, pondera. A entidade, no entanto, ainda não fechou posição sobre se vai, ou não, entrar no coro das que defendem a destinação dos 600 MHz para o móvel. Atualmente, a frequência é de uso da radiodifusão.
Críticas ao uso restrito do FUST
A presidente da ConectarAGRO criticou o modelo atual do FUST, que restringe a aplicação de recursos à conectividade em escolas até 2026. Para ela, o fundo deveria também beneficiar assentamentos, pequenas propriedades, unidades básicas de saúde e regiões preservadas.
“Fomos ao Comitê Gestor do FUST e recebemos a resposta de que o uso do fundo está travado até o fim de 2026. É preciso pensar em projetos-piloto com base em indicadores de conectividade, escolas, UBS e reservas indígenas por cidade”, sugeriu.
Emendas parlamentares não funcionam
Campiello mencionou o caso do Paraná como exemplo de política estadual que promove a conectividade rural por meio de transações tributárias com operadoras. Já no âmbito federal, relatou frustração com a cartilha de projetos do Ministério das Comunicações para emendas parlamentares. “Mesmo com projetos prontos e apoio de prefeituras, a cartilha não é aplicável na prática”, relatou, citando o caso da cidade de Guariba (SP).
Ela reforçou a importância da conectividade para o pequeno produtor, que responde por 90% dos alimentos consumidos no país. “Uma estação meteorológica com acesso via celular já ajuda a planejar o plantio e a pulverização com dados históricos e previsões em tempo real. Com políticas públicas, esse acesso pode se tornar viável”, defendeu.
Clima e combate a incêndios
A ConectarAGRO também avalia o papel da conectividade na prevenção de incêndios e na mitigação de riscos climáticos. Um estudo na Serra do Brigadeiro (MG) revelou que sensores e visão computacional poderiam permitir ação rápida de bombeiros e defesa civil. “A fazenda conectada é mais sustentável. Além da produtividade, há ganhos em preservação ambiental e redução de carbono”, concluiu.
Confira no vídeo acima a entrevista completa.
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