Complexidade do agro ainda afeta a gestão de riscos
A complexidade do agronegócio ainda afeta a gestão de riscos, que vive hoje um momento de transição entre a gestão de riscos mais intuitiva e o desenvolvimento de ferramentas que se mostrem efetivas para ajudar o agricultor na tomada de decisões acuradas. Há muitos desafios pela frente até chegar ao ponto ideal que lhe permita não apenas aumentar a produtividade mas oferecer garantias mais qualificadas aos órgãos de financiamento.
Para se ter uma ideia, o pagamento de indenizações aos agricultores em contratos estabelecidos com seguradoras alcançou a marca de R$ 5 bilhões em 2021, quantia muito superior aos prêmios arrecadados. E a indústria de seguros tem parâmetros bem mais precisos sob a gestão de risco, o que coloca o agricultor em uma negociação que nem sempre lhe favorece.
Segundo Vitor Augusto Ozaki, professor da Universidade de São Paulo e da ESALQ, atualmente 14 seguradoras estão abertas a esse mercado mas sem dados mais qualificados dos riscos fica difícil para elas precificarem o valor do seguro. “Se o risco da agricultura já é alto, imagine sem parâmetros adequados”, observou.
Para Álvaro Machado Dias, sócio do Instituto Locomotiva, é importante lembrar que o risco é sistêmico e pode atingir todos os elos da cadeia. “Cada elo influencia o próximo ponto, há uma universalidade que precisa ser levada em conta”, ressaltou. Como exemplo, ele lembra que a guerra da Rússia na Ucrânia tem influência no que acontece no agro brasileiro assim como no apetite do mercado internacional por commodities.
Na sua avaliação, é preciso juntar todas as pontas, como informações metereológicas e questões empresariais, por exemplo, que leve em conta as questões sistêmicas e não apenas a subjetividade das pessoas envolvidas. “Existe um framework no qual ninguém vai ganhar o jogo, mas todos vão jogar juntos para colocar todas as variáveis”, afirmou.
Para isso, defende a interoperabilidade entre diferentes sistemas aplicados pelos produtores, inclusive por empresas concorrentes. Por exemplo, uma comunicação entre diferentes estações meteorológicas pode permitir que um produtor tenha noção do que acontece em áreas vizinhas e como isso pode chegar à sua região. “O grande ponto da modelagem a se fazer para a gestão de riscos tem de ter o componente da análise global”, observou.
Compartilhamento de Informações
Felipe Pilau, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Física e Meteorologia da Esalq, concorda com a necessidade de compartilhamento das informações. “O agricultor precisa entender como melhorar o seu sistema de produção e entregar dados específicos para aquele especialistas que vão fazer a análise de risco”, completou
O produtor precisa entender que esse compartilhamento de informações macros pode lhe trazer benefícios, citando também o exemplo de dados meteorológicos que tragam aos demais mais segurança na tomada de decisões. Ele lembra que em questões climáticas, um dos maiores riscos do produtor, há algumas ferramentas disponíveis – como estações, radares, satélites – mas ela ainda são insuficientes. “Fazer uma previsão mais dedicada nessa área ainda tem lacuna”, salientou.
“O produtor administra o risco o tempo todo mesmo sem ter noção de que está fazendo isso e ainda tome decisões empíricas. Mas o risco está sempre presente”, disse Otávio Celidonio, diretor executivo da Agrihub, um hub de inovação que tem foco nas dores dos agricultores e como buscar soluções para resolvê-las. Há riscos climáticos, de produção, de comercialização e outros, por isso acredita que seja necessária a criação de uma escala para atender a essas demandas.
Celidonio acredita que o agro passa por uma transição muito importante, com a colaboração de sistemas analíticos, automação de processos e outros que estão ajudando o produtor a iniciar sua jornada digital e de gestão de riscos. Esse movimento pode levar o produtor a uma jornada financeira mais segura, uma vez que os bancos já trabalham há muito tempo com parâmetros formais e de análises de riscos.
Uma demanda importante do mercado, o fundo de Amparo ao Produtor, que já foi chamando informalmente de “fundo da catástrofe”, está parada na área governamental há cerca de 10 anos. “Esse é um assunto complexo e importante, temos a Lei aprovada mas não temos o decreto que a regulamenta¨, completou Ozaki.
O tema da gestão de riscos no agro foi debatido hoje,13, no último dia do AGROtic 2022, evento realizado pela Momento Editorial em parceria com a ESALTec.