Compartilhamento de receitas, o mantra das telcos no MWC

A CEO da operadora francesa Orange, Christel Heydemann, disse que 46% das operadoras de telecom correm o risco de não chegarem à próxima década se não conseguirem monetizar sua infraestrutura, recebendo recursos dos maiores geradores de tráfego.

Christel Heydemann, CEO da Orange no MWC 23 - Divulgação

Barcelona – O compartilhamento de receitas com os fornecedores de conteúdo para a internet, as chamadas empresas OTT (Over The Top), foi o mantra das telcos na abertura do Mobile World Congress 2023. E coube à CEO da operadora francesa Orange, Christel Heydemann, apresentar os argumentos para essa reivindicação.

“O tráfego de dados cresceu 10 vezes nos últimos 10 anos, mas as tarifas continuaram flat. Precisamos de uma regulação mais justa, pois já há uma projeção de que, a continuar do jeito que está, 46% das atuais operadoras de telecom não conseguirão chegar à próxima década”, vaticinou a executiva.

Segundo ela, na última década, as telcos europeias investiram  600 bilhões de euros para a expansão das redes de dados, mas ainda “é difícil monetizar esse grande volume de investimentos”. Christel diz que, sem o estabelecimento de uma forma mais justa para a remuneração das redes de telecom – mais de 55% do tráfego é gerado por apenas cinco grandes empresas de conteúdo de internet -, as operadoras estão sendo obrigadas a vender os seus ativos, o que pode colocar em risco a expansão futura das redes. “Sem a infraestrutura, a inovação não é possível”, afirmou.

A dirigente da Orange disse ainda que os desafios para a inclusão digital dos europeus  são muito grandes. Estima que, em 2030, pelo menos 45 milhões de europeus não terão acesso a redes de dados com pelo menos 1 Gbps, o que ela considera um indicador bastante preocupante e sinalizador de que as atuais regulações precisam ser alteradas.

Christel citou a iniciativa GSMA Open Gateway, da qual a operadora que dirige também faz parte, juntamente com a TIM, Telefónica e América Móvil (entre outras ), como um exemplo de esforço da iniciativa privada para acelerar a construção das redes que a nova sociedade irá demandar. E, por isso, reforçou que cabe também aos reguladores e formuladores de políticas públicas agirem para que os investimentos privados das telcos continuem a ser realizados.

Comissão Europeia

Para o comissário da Divisão de Indústria de telecom da União Europeia, Thieny Breton, como garantir que os investimentos eficientes sejam canalizados para as novas redes que precisam ser construídas é o debate mais importante do momento.

Mas ele não acredita que a resposta a essa indagação deva estar calcada no compartilhamento de receitas com as OTTs pela expansão dessas redes. “Precisamos avançar na computação quântica, para que a Europa volte a liderar o setor”, vaticinou.

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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