Com nova fábrica no Brasil, YOFC aposta na adoção de antidumping sobre a fibra chinesa

Embora também de origem chinesa, YOFC passa a atender a demanda local com produtos feitos no país a partir de setembro. E critica preços praticados por fabricantes de produtos 100% importados. Nova fábrica fica em Pouso Alegre (MG).

Reinaldo Jeronymo, CEO Brasil da YOFC

A fabricante chinesa de fibras ópticas YOFC está desembarcando no Brasil com a instalação de uma fábrica na cidade mineira de Pouso Alegre. E com isso, defende a adoção, por parte do governo federal, de políticas antidumping relativas à fibra importada da China, falou ao Tele.Síntese o CEO para o Brasil da YOFC, Reinaldo Jeronymo.

Segundo ele, a empresa concorda com a investigação do governo e provável taxação de fibra trazida da China e vendida a preço abaixo do custo. “Somos a favor de política antidumping, pois existe uma competição desleal. Existem no Brasil fabricantes chinesas sérias, com produção local, mas tem algumas cuja cobrança não dá para entender”, resume.

A definição de taxa antidumping foi um dos fatores analisados pela YOFC para investir R$ 75 milhões na construção de uma fábrica de 17 mil metros quadrados em Pouso Alegre (MG). Além da perspectiva de a competição se tornar mais saudável no mercado local, a iniciativa é parte de um processo de internacionalização do grupo iniciado há 10 anos, que já resultou na construção de plantas nas Filipinas, na Polônia e na África do Sul.

“O custo Brasil é um problema. Mas o grupo tem como vantagem estar inserido na cadeia de suprimentos globais. A planta aqui tem ainda a vantagem de atender demandas específicas de clientes locais, que fazem pedidos de última hora, que só podem ser atendidos tendo fábrica. Além disso a unidade tem PPB, Portaria 950 e benefícios fiscais de Minas Gerais”, explica Jeronymo.

Fábrica em Pouso Alegre

Neste momento, a YOFC está concluindo a certificação da fábrica junto à Anatel. Depois disso, começará a despachar os produtos feitos aqui. A inauguração oficial acontecerá em 9 de setembro.

Jeronymo conta que as entregas já contratadas de clientes brasileiros junto ao grupo serão transferidas para a nova planta. A fábrica de Pouso Alegre tem capacidade de produzir  R$ 1,2 milhão de quilômetros de fibra por ano. Terá 200 funcionários e vai gerar 150 empregos indiretos, calcula o executivo.

Segundo ele, a escolha de Pouso Alegre foi estratégica. Levou-se em consideração a proximidade com centros de pesquisa em Santa Rita do Sapucaí (Inatel), Itajubá (Unifei), Campinas (Unicamp) e Diadema (cidade a cerca de 2h de distância onde hoje há planta de cabos elétricos do grupo).

“Por ter a Portaria 950, vamos pesquisar tecnologias, já estamos pesquisando. Estamos analisando diferentes matérias-primas para revestir os cabos, por exemplo. E essa proximidade a Inatel, Unifei, é importante para atrair profissionais”, revela.

Meta e mercado

A YOFC levou apenas dois anos entre decidir produzir fibras no país e abrir a fábrica. Em 2021 comprou uma empresa de instrumentação e cabos elétricos, a Belden Polyron, rebatizada para YOFC Poliron. Logo o grupo entendeu que o mercado Brasileiro tinha demanda para uma unidade de cabos ópticos. A pandemia de Covid-19 deu um empurrão. O grupo chinês é sediado em Wuhan, epicentro do problema, província que ficou fechada por meses, o que prejudicou os resultados.

A fábrica daqui não fará pré-formas, nem fibra. Vai importar, para produzir os cabos finais, constituídos de inúmeras camadas para envolver a fibra. “Vamos produzir inicialmente cabos ópticos, cabos pré-conectorizados, cabos híbridos, eletro-ópticos. Em uma segunda fase, daqui três anos, queremos produzir cabos OPGW e terrestre-marinizados, que são tipos de cabos submarinos para extensões de 30 km a 40 km”, conta.

Segundo ele, o mercado de cabos ópticos mudou radicalmente nos últimos dois anos. “Antes, todos queriam fazer casas passadas, agora o foco é ocupar a fibra instalada, fazer homes connected, o que é natural”, diz.

Isso teve um reflexo nas receitas do mercado como um todo, uma vez que os cabos para conexão de residências são os drops, mais curtos e baratos, utilizados para levar a rede do poste para dentro da casa do cliente.

“Esperávamos que o mercado de fibra como um todo crescesse 15% em 2023, mas vai cair 22%. Nossa estimativa é de que em 2024 vai se estabilizar. E que vai melhorar em 2025, voltando a crescer 15% a 25% em função dos investimentos em 5G das operadoras, das carriers [redes neutras], do IoT. E o fiber count, número de fibras por cabo, vai aumentar conforme cresce a demanda por mais banda”, prevê.

Diante dessa perspectiva, a meta é quadruplicar de tamanho no Brasil. Hoje a YOFC tem entre 3% e 4% de market share com sua fibra importada. “Em três anos, queremos atingir 15%. Estamos contando com o antidumping, com produtos diferentes e em pegar mercado da turma que já está aqui”, conclui.

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Rafael Bucco

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