Cisco manterá fabricação local, mesmo com eventual fim da Lei de Informática

Presidente da Cisco no Brasil diz que fabricação no Brasil é diferencial e impulsiona as vendas. Empresa tem novo produto de redes em homologação na Anatel.
O presidente da Cisco no Brasil, Laércio Albuquerque
O presidente da Cisco no Brasil, Laércio Albuquerque

Enquanto grandes fabricantes de equipamentos de rede esperam uma solução para a disputa travada pelo Brasil na Organização Mundial de Comércio em torno da Lei de Informática, a Cisco se diz tranquila. As vendas dos produtos feitos aqui, equipamentos para redes de dados e data centers, têm crescido tanto que não há nada, no momento, que reverta a decisão de produzir localmente.

O Brasil briga na OMC pela legitimidade da Lei de Informática. A organização internacional considerou os benefícios fiscais às inovação danosos à concorrência entre os países. E pediu remédios, que poderiam resultar no fim da lei e dos incentivos a quem investe em P&D no Brasil.

Mas, para a Cisco, produzir aqui é vender mais. “Há dois anos, 10% dos produtos vendidos no mercado brasileiro eram de fabricação local. Este ano, vamos atingir 40%”, conta Laércio Albuquerque, presidente da Cisco Brasil. A companhia investiu R$ 1 bilhão nos últimos quatro anos no país, e pretende continuar nesta toada. O executivo conta que a produção, juntamente com a pesquisa e o desenvolvimento de produtos para o mercado local, alavancaram as vendas no momento em que todo mundo sofria com a crise.

“A Cisco concluiu seu ano fiscal de 2017 em julho. E este último ano fiscal foi espetacular para a operação no Brasil. Com todo o desafio [econômico e político] o setor corporativo não parou. Por isso, tivemos um crescimento de dois dígitos, depois de melhorar os resultados de todos os produtos. O Brasil foi o país com melhores métricas do grupo”, disse Albuquerque, em conversa com jornalistas realizada nesta terça-feira, em São Paulo.

O diretor de negócios e redes da Cisco, Marco Sena, reforça: “A fabricação local é um caminho sem volta. Estamos ampliando a linha de produtos feitos aqui, em hardware e software”, disse. Segundo ele, em apenas dois anos a Cisco passou do quinto maior fabricante de servidores (tipo blade) para o maior. “E a fabricação local foi chave para esse desempenho”.

Os executivos contam também que a regionalização do atendimento ao cliente contribuiu para o resultado. Enquanto as vendas são 100% feitas por canais, o pós vendas exigiu um atendimento personalizado. A Cisco espalhou representantes por todos os estados, para fazer o “olho no olho”. Os maiores clientes passaram a ser atendidos por um profissional localizado na mesma cidade. O que reduziu muito o tempo de resposta a problemas.

Novo produto

A companhia lançou em julho sua versão de rede com processamento nas extremidades, ou na borda. Batizou seu conceito de “rede intuitiva”. Como características, essa arquitetura recorre ao processamento de dados na ponta da redes, sem necessidade de remeter a informação ao núcleo para obter uma resposta de como reagir.

A rede intuitiva da Cisco usa uma plataforma própria da empresa. São servidores equipados com chips de design exclusivo e software único. O sistema é capaz de compreender os padrões do tráfego de dados para decidir se deve efetuar ações de segurança, sempre de modo autônomo.

De acordo com os executivos, o público alvo desse produto são as empresas de todos os portes, além das operadoras. Os hardwares necessários à implementação estão em fase de homologação na Anatel. Eles esperam que em 10 dias estejam liberados para uso.

“Enquanto isso, temos projetos-piloto com várias empresas locais, dos setores de varejo, finanças e indústrias”, diz Sena. O executivo espera, no entanto, atender também as operadoras, especialmente seus data centers.

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Rafael Bucco

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