China ameaça EUA e Canadá devido à prisão de executiva da Huawei

No Brasil, dependência faz indústria descartar risco de governo Bolsonaro banir fabricante chinesa caso promova alinhamento estratégico aos EUA.

A China ameaçou Estados Unidos e o Canadá no fim de semana. Sem especificar de que maneira, a diplomacia chinesa disse que os países vão “sofrer as consequências” caso a CFO da Huawei, Meng Wanzhou, permaneça presa. A executiva foi detida em 1º de dezembro, no Canadá, a pedido dos EUA, acusada de maquiar a venda de equipamentos feitos com componentes americanos ao Irã, país sob embargo norte-americano.

“O que os EUA fizeram viola severamente os interesses e os direitos legítimos de cidadãos chineses e é algo vil por natureza”, declarou, por nota, Le Yucheng, vice-ministro de relações exteriores da China. Ele convocou ontem, 9, o embaixador dos EUA em Pequim, ao qual solicitou formalmente a libertação da executiva da Huawei. O gesto de convocação de embaixadores é considerado agressivo nas relações exteriores. Ao falar sobre a reunião, Le acrescentou: “A China responderá na mesma altura às ações dos EUA”.

A Huawei, por sua vez, diz que cumpre as leis dos EUA e do Canadá, e que desconhece os motivos para a prisão. “A empresa acredita que os sistemas legais do Canadá e dos EUA chegarão a uma conclusão justa. A Huawei cumpre todas as leis e regulamentos aplicáveis nos países em que opera, incluindo as leis e regulamentos de controle e sanção de exportação aplicáveis das Nações Unidas, EUA e UE”, afirma, em comunicado.

Alinhamento vs. realidade

A perseguição dos EUA aos fabricantes de telecomunicações chineses não é recente. O país baniu, no passado, a ZTE do mercado local. A própria Huawei, embora possa comercializar celulares, não pode vender nenhum equipamento para o governo desde a gestão de Barack Obama. Este incentivou a Coreia do Sul a também deixar de consumir os produtos da companhia chinesa ainda em 2013. Nos últimos dois anos, o governo de Donald Trump tenta convencer outros aliados a seguir o mesmo caminho. Por enquanto, Austrália e Nova Zelândia anunciaram boicote à Huawei, mas a pressão está sendo feita também na Alemanha, na Itália, no Japão e no Reino Unido.

No Brasil, embora o futuro governo Jair Bolsonaro demonstre intenção de buscar alinhamento estratégico com os EUA, ainda não se ouviu palavra sobre a Huawei. No mercado local, clientes e rivais ouvidos pelo Tele.Síntese duvidam que seja possível interferência estatal sobre as aquisições do setor privado, principal área de atuação da chinesa localmente.

Aqui, todas as operadoras usam equipamentos de rede e software da Huawei. A primeira empresa a comprar sistemas da chinesa foi a mineira Algar, há quase duas décadas. O movimento foi seguido por Claro, Oi, TIM e Vivo. “É impossível pensar no mercado local sem a Huawei. Se ela deixar o Brasil, todas as operadoras param”, diz um alto executivo do setor. “Este tipo de perseguição, aqui, não seria saudável. Cabe às empresas escolher quais tecnologias usar”, falou outro.

A gigante chinesa está presente, ainda, em outros setores graças à atuação no mercado corporativo. É responsável por redes de grande porte no setor bancário (Caixa, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander). Suas soluções em TI são revendidas, através de parcerias com operadoras, para variados perfis de clientes corporativos, de diferentes tamanhos. No setor de radiodifusão, a chinesa tem menor entrada. Mas vem negociando com grandes grupos a venda de sua tecnologia para transmissão em 4K/8K.

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Rafael Bucco

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