Celular Seguro?

É preciso informar corretamente e não criar falsas expectativas sobre os resultados do programa.
celular seguro (crédito: Freepik)
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O governo anunciou hoje, 19, o programa Celular Seguro, que contou com novos investimentos  das operadoras de telecomunicações, e também envolvimento dos grandes usuários, como os bancos e empresas de OTTs. O programa precisa, agora, do engajamento dos milhões de clientes que têm seus aparelhos furtados e roubados a todo o instante pelo Brasil para que se alcance o resultado almejado.

Temos que torcer para que a iniciativa assegure que os celulares voltem a ser no Brasil o que é na maioria dos países: o principal meio de comunicação, e a porta de acesso para a educação, entretenimento, saúde, dinheiro, localização, sendo transportado e acessado sem susto em todo e qualquer lugar.

O próprio Ministério da Justiça revelou o tamanho do problema: “Os dados indicam que 1 milhão de celulares são roubados ou furtados todo ano. E sabemos que há subnotificação, pois há estados que não passam dados de roubos de celulares desde 2021”, disse Ricardo Capelli, secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, durante o anúncio do Celular Seguro.

Mas uma pergunta que não é respondida, é porque a Segurança Pública não consegue impedir e desmantelar, por seus próprios meios, as quadrilhas que se organizaram em todo o país para roubar esses aparelhos, não só para desmontá-los ou revendê-los, mas também para esvaziar as contas-correntes, sequestrar pessoas, cometer fraudes financeiras.

Embora pareça simples, a complexidade tecnológica do programa não é fichinha. E, como retrata a matéria do nosso editor, Rafael Bucco, mesmo com o envolvimento de tantos agentes, públicos e privados, o aparelho só consegue deixar de funcionar 24 horas depois do alerta. É preciso informar corretamente e não criar falsas expectativas sobre os resultados do programa.

Não custa nada lembrar duas realidades já vivenciadas pelo segmento de telecom que chega a ser incompreensível para um estrangeiro. A primeira, que remonta há muitos anos, trata de uma longa campanha feita pelo próprio governo para que o setor de telecom instalasse bloqueadores de celulares nos presídios brasileiros. Ora, não adiantava assinalar que, pela nossa legislação, as operadoras são obrigadas a fornecer o serviço, e não a bloqueá-lo. Foram muitas audiências públicas, exigências, debates sobre essa questão, forçando as operadoras a se virarem para instalar esses bloqueadores, sem se importar com as opiniões dos técnicos, sobre o fato de um bloqueador nunca afetar só o local específico, mas uma parcela dos residentes que não tinham nada com a população carcerária.

Outra situação ocorreu recentemente, e, por incrível, deveu-se ao sucesso da iniciativa setorial. Trata-se da portabilidade numérica. Implementada há mais de uma década no Brasil, a troca de empresa com a manutenção do número é uma medida tão bem sucedida por aqui e de tão simples e rápida execução que os golpistas encontraram um jeito de se apropriar dessa eficiência e criaram várias fraudes. Isso obrigou à Anatel voltar às operadoras para mudar a sistemática, e, desde agosto, a portabilidade passou a ser feita em duas etapas, ao invés da agilidade anterior.

Mas vamos mirar o futuro, e torcer mesmo para que o usuário – e o celular – fiquem seguros.

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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