Campos: Correios não podem ter custo do monopólio em mercado de competição

O presidente dos Correios, Guilherme Campos , afirma que a privatização da empresa nunca foi cogitada por ele ou pelo ministro Kassab ou pelo governo. Mas a sua recuperação, defende, depende da redução dos custos do monopólio, que para ele, o mais grave continua a ser o plano de saúde dos empregados, que consome R$ 1,8 bilhão por ano. Espera que o TST julgue a demanda ainda em março.

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Tele.Síntese – Os Correios fecharam mais uma vez com prejuízo em 2017. A empresa tem saída?

Guilherme Campos – A empresa está saindo do mundo do monopólio postal e entrando no mundo concorrencial da encomenda. A mesma tecnologia que acabou um negócio, abriu um outro negócio que é muito maior. Porém a empresa tem que viver a sua gênese estatal neste mundo concorrencial. Precisa fazer essa transição sob o ponto de vista dos custos que o monopólio podia assumir e que o mundo concorrencial não assume.  Uma transição com situação de caixa muito baixo, apesar de todas as ações que empreendemos, da metade de 2016 ao longo de 2017, conseguimos uma economia de mais de meio bilhão. Em função do PDI, diminuímos de 117 mil para 106 mil funcionários.

Tele.Síntese – O PDI deve ter comprometido bastante o caixa da empresa, não? Normalmente os planos de desligamento de grandes corporações impactam bastante o resultado nos primeiros anos.

Campos–  O Plano foi concebido para ser pago em oito anos, mas o impacto contábil foi registrado todo ele no ano de 2017, que foi de R$ 1 bilhão. Somando o PDI mais o resultado operacional, os Correios tiveram prejuízo de R$ 2 bilhões. Mas, desse total um bilhão foi apenas contábil. Em 2015, a empresa teve prejuízo de R$ 2,5 bilhões. Em 2016, de R$ 1,6 bilhão. Em 2017, de R$ 1 bilhão. A receita vai ficar em R$ 18 bilhões, abaixo de 2016.

Tele.Síntese – Foi a crise que impactou a receita da empresa?

Campos – Os principais impactos foram provocados pela redução da remuneração do Banco Postal. Perdemos R$ 1 bilhão entre 2016 e 2017.

Tele.Síntese – Por quê? Mudou o banco?

Campos – Não, a nova concorrência deu vazia e tivemos que fazer uma renovação como o mesmo banco – o Banco do Brasil – de pires na mão.  Renovamos por mais três anos.

Tele.Síntese– Por que deu vazia a concorrência?

Campos – Pelas condições impostas pela empresa, não apareceram interessados.

Tele.Síntese– Mas, o sr. não é o presidente da empresa?

Campos – Eu herdei as condições estabelecidas….Eu falava que não ia dar certo, mas afirmavam que sim. Acabou sem nenhum interessado. E só renovou porque fizemos ação política para sua renovação, pois o impacto do fechamento do Banco Postal nas pequenas cidades do Norte e Nordeste seria dramático, em  mais de duas mil cidades é a única instituição financeira presente.

Tele.Síntese – Outras perdas?

Campos – A atividade postal teve uma queda de mais de R$ 350 milhões. Queda de 12,5% no volume físico das mensagens.

Tele.Síntese – E isso não foi devido à crise?

Campos – Não. É a migração da carta para o mundo digital.  Houve crescimento na encomenda, mas não o suficiente para repor as outras perdas.

Tele.Síntese – O sr. faz uma mea culpa com esse resultado?

Campos – Não, pois a medidas que implementamos ao longo do ano evitaram maior prejuízo. Se não tivéssemos feito a reestruturação, o PDI, a adoção de um novo foco para a empresa, o prejuízo seria infinitamente maior.

Tele.Síntese – A ideia da privatização da ECT foi abandonada?

Campos – É recorrente esta colocação. Desde o início, quando fomos nomeados pelo Presidente, a missão dada foi de recuperação da empresa. Do presidente Temer e do ministro Kassab nunca houve qualquer orientação para a privatização. É bom lembrar que 70% dos custos dessa empresa são com os seus funcionários.

Tele.Síntese – E nesses custos está o plano de saúde?

Campos – Sim. No ano passado os plano de saúde custou para a empresa 10% do faturamento, ou R$ 1,8 bilhão. A partir do acordo coletivo de 2016, foi criada uma comissão paritária para discutir o assunto. Essa comissão se reuniu sem sucesso de novembro de 16 a abril de 17. Foi tentada mediação de abril de 17 até novembro de 17, também sem sucesso.  Foi judicializado por nós em novembro de 17 está sendo apreciado pelo TST.

Tele.Síntese – Mas também não avançou por lá

Campos – Vai para decisão de plenário do Tribunal. Deverá ocorrer em março. Os Correios atendem os 106 mil empregados ativos, os 34 mil aposentados, cônjuges, dependentes, pais e mães. Um total de 400 mil vidas. A proposta inicial dos Correios foi de  pagar 100% do plano de saúde para os trabalhadores da ativa e aposentados.

Tele.Síntese – Só?

Campos – Só? Qual empresa dá isso? Isso representaria de custos para os Correios por ano algo em torno de R$ 700  milhões. Oferecemos também mais 15% do resultado para ajudar os funcionários a pagarem os planos de seus familiares. O TST fez uma contra-proposta, na qual não se atenderia mais mãe e pai, e os Correios pagariam 75%, e os funcionários pagariam 25%. Isso daria um custo de R$ 1 bilhão por ano. Nós concordamos. Os trabalhadores não aceitaram.

Tele.Síntese – O governo não está para publicar uma MP para tratar dessa questão dos planos de saúde das estatais?

Campos – Não é uma MP. Houve uma resolução da CGPAR (Comissão interministerial de Governança e de Administração de Participações Societárias da União), vinculada ao Ministério do Planejamento, que deu a seguinte orientação: os planos de saúde podem ir até no máximo de 50% de participação das estatais, para funcionários, cônjuges e dependentes. E limitação de até 8% da folha. A nossa proposta inicial é mais dura que essa, reconheço. Essa é mais flexível.

Tele.Síntese – E os Correios aceitariam rever sua posição para chegar a essa nova orientação?

Campos – Lógico.  Ainda mais que é uma orientação de governo. Não sou louco de ir contrário a orientação de governo.

Tele.Síntese – E essa proposta da CGPAR significaria quanto de custos para os Correios?

Campos – De R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão por ano.

Tele.Síntese – E a parceria com a Azul?

Campos – Já foram feitas todas as apresentações aos órgãos de controle. Estamos esperando a manifestação do TCU. Sem a aprovação dos órgãos de controle, não poderá acontecer. Espero que ocorra até o segundo trimestre. Estamos com a expectativa de economia, só com o transporte aéreo de  mais de R$ 200 milhões com essa parceria.

Tele.Síntese – A questão é se os órgãos de controle deixarão vingar essa parceria, feita sem licitação..

Campos – Mas esse é o espírito teleológico da nova lei das estatais!

 

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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