Brasil ficou para trás na adoção do smart grid

Para executivos da CPFL, Neoenergia e Copel, faltaram políticas públicas e compreensão do próprio setor quanto aos benefícios trazidos pela tecnologia e pelo sensoriamento da rede.

 

O Brasil perdeu o bonde do desenvolvimento e adoção do smart grid na distribuição de energia, e agora precisa correr para alcançar o que já se tornou padrão em economias desenvolvidas. Isso é possível, conforme especialistas do setor que participaram nesta quarta-feira, 9, do evento 5×5 TEC Summit. Mas há desafios regulatórios e financeiros pelo caminho.

Para Caius Vinicius Sampaio Malagoli, diretor de Engenharia de Manutenção e Padrões do grupo CPFL Energia, o país está nada menos que 20 anos atrasado em relação a outros países. Lá fora, houve incentivos à mudança da matriz energética para fontes limpas que aceleraram a adoção da tecnologia nas redes elétricas. “Os países que assumiram compromissos e passaram a investir nas plantas de matriz energética também criaram políticas públicas para sensoriar a rede”, lembrou.

Fontes renováveis têm uma gestão complexa. A solar e a eólica, por exemplo, têm a produção reduzida ou ampliada conforme as condições do tempo. Tais condições demandam o amplo sensoriamento da rede e uso de ferramentas de controle que compensem essas variações. É preciso, portanto, que alguém seja responsável pela visão do todo e proponha políticas condizentes.

“Meu ponto é que nosso atraso se dá por uma falta de percepção de conjunto. Geração, mais consumo, mais controle do sistema elétrico. O Chile percebeu isso. É o primeiro país da América Latina a ter uma política de substituição de medidores inteligentes com troca de 100% dos medidores até 2023 e impacto limitado a 5% na tarifa. Aqui no Brasil ainda se discute se vale à pena”, completou.

Para ele, a regulação do setor elétrico tenta abarcar empresas que atuam em diferentes regiões. Mas estas deviam responder a regras distintas, de acordo com a realidade em que estão inseridas.

Desafio conjuntural

Maximiliano Andres Orfali, diretor geral da Copel Distribuição, tem visão semelhante. “O atraso do Brasil em smart grid se deve a uma questão conjuntural. O primeiro medidor inteligente foi homologado aqui faz quatro, cinco anos. Faltaram incentivo e políticas públicas. Nosso setor é extremamente regulado e funcionamos por incentivo”, afirmou.

Ele ponderou, no entanto, que a percepção começa mudar à medida que as empresas começam a fazer contas mais detalhadas sobre o reflexo de adoção do smart grid.

“Também houve uma falha do setor que por muito tempo fez essa conta simples de colocar o medidor para tirar a leitura. A leitura tem um custo muito baixo no Brasil, e os medidores eram muito caros. Quando a gente colocou smart grid numa cidade e percebemos que conseguimos reduzir o número de eletricistas, que diminuíram as ligações para o call center, que receitas foram antecipadas, a inadimplência foi combatida, eliminado o procedimento irregular (gato), e reduzido o DEC em quase 40%, chegamos a um retorno dos investimentos na casa dos dois dígitos. Então me parece que é um bom negócio”, acrescentou.

Custos precisam cair mais

Heron Fontana, superintendente de Smart Grids na Neoenergia, ressaltou que há diferença entre o conceito de smart grid, que diz respeito à digitalização de processos, da gestão ao atendimento ao usuário, e o smart metering residencial. No caso do smart grid como solução para melhora da eficiência operacional, praticamente todas as empresas do setor já têm projetos avançados.

Mas no smart metering residencial, sim, há um atraso que depende dos custos dos medidores inteligentes. “É importante reduzir o custo por ponto. Na sequência os benefícios acontecem, são capturados e retornam na tarifa”, falou.

A seu ver, haverá adoção massiva da medição inteligente conforme padrões tecnológicos abertos ganhem espaço. “A redução do custo por ponto telemedido vai aumentar à medida que adotarmos padrões abertos e interoperáveis na indústria. Aí a gente aumenta a competitividade no fornecimento de equipamentos, medidores, em redes de telecom e aceleramos o ganho de escala”, frisou. Tecnologias assim, e maduras, já existem, como Mesh Wi-SUN e PLC.

O evento 5×5 TEC Summit é organizado pelos portais Tele.Síntese, Convergência Digital, Mobile Time, Teletime e TI Inside, com a proposta de debater a modernização de cinco setores essenciais para a economia brasileira. O evento acontece nesta semana, diariamente, até 11 de dezembro. Amanhã, dia 10, a discussão será sobre finanças. Dia 11, se encerra com uma discussão sobre o impacto da tecnologia na indústria de entretenimento. Inscreva-se gratuitamente. As apresentações passadas, sobre os setores de governo, saúde e eletricidade já estão disponíveis.

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Da Redação

A Momento Editorial nasceu em 2005. É fruto de mais de 20 anos de experiência jornalística nas áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e telecomunicações. Foi criada com a missão de produzir e disseminar informação sobre o papel das TICs na sociedade.

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