Brasil “brilha” na guinada da Ericsson

A fabricante de equipamentos e soluções para redes Ericsson dá continuidade a plano de reestruturação para economizar e voltar ao azul. Prevê mais cortes em todo o mundo, inclusive no Brasil. Mas ressalta que o país é um dos poucos em que os negócios vão bem.

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O Brasil aparece como o ponto fora da curva dos negócios da fabricante sueca de equipamentos e soluções de rede Ericsson, que passa por uma reestruturação para retomar a lucratividade. A empresa está efetuando um turnaround que envolve redução de gastos, foco em investimentos, revisão de contratos.

No mundo, o resultado deve encolher. “Estamos esperando uma retração do mercado mundial de redes móveis da ordem de 8% a 9% para este ano”, diz Börje Ekholm, CEO da empresa, em visita a São Paulo. Mas aqui no Brasil, a previsão é de expansão. Os negócios locais vão crescer, segundo o executivo, por uma conjunção de diferentes fatores.

Em primeiro lugar, a Ericsson conseguiu desenvolver soluções que, diz, são capazes não apenas de fazer as operadoras entregarem os serviços que o consumidor deseja, mas fazer essa entrega com redução de custos. A decisão de criar estas soluções foi tomada diante de um cenário sombrio, inclusive no Brasil, em que o Capex das operadoras ou caiu, ou se manteve estável, mas a demanda do consumidor por dados não parou de aumentar.

“Percebemos que não adiantava ter o melhor produto. Temos que fazer a operadora economizar, somente se elas economizarem terão dinheiro para investir nas redes”, avalia.

Em segundo lugar, a operação local está trabalhando mais com software. “Temos mais de 545 pessoas trabalhando em software, área de grande potencial, e soluções pensadas aqui já são usadas por clientes nossos em outras partes do mundo”, lembra.

E, em terceiro lugar, as operadoras estão contratando justamente os serviços e produtos os quais a Ericsson elegeu como prioritários. “Decidimos, ano passado, focar no que somos líderes e temos vocação: infraestrutura de rede, serviços digitais e serviços gerenciados. As operadoras brasileiras estão no momento buscando equipamentos LTE, digitalizando os processos internos (OSS e BSS), de atendimento ao consumidor e de manutenção”, lembra. Negócios como o de soluções de mídia deixaram de ser foco. “Para eles estamos buscando um parceiro, alguém que consiga alavancá-los”.

Essa conjunção de fatores faz o executivo ser categórico: “O Brasil é um ponto brilhante em nossos negócios no momento, um de nossos mais importantes mercados. Estamos bem posicionados e o time local tem feito um ótimo trabalho para capturar mercado”.

Reestruturação

Isso não quer dizer, porém, que o país não será alvo da redução de funcionários que a fabricante vem fazendo em todo o mundo. Os cortes fazem parte do objetivo de reduzir as despesas em cerca de US$ 1,2 bilhão, e estão relacionadas, na maioria, ao pessoal de campo, responsável por implementação e manutenção de equipamentos.

Ekholm diz que é difícil estimar quando e como os cortes acontecerão no Brasil. “É um planejamento estratégico que estamos executando país a país. Cada lugar tem um plano de ação diferente, há locais em essas equipes são maiores, portanto os cortes também, e em outros, menores”, diz.

Ele ressalta, no entanto, que a quantidade de funcionários deve pouco mudar no país, em função da alteração do perfil da empresa e dos resultados que a unidade local está entregando. “Estamos demitindo de um lado, mas contratando em outro, em software”, garante.

A situação brasileira é bem diferente da vista na Venezuela. O país vizinho enfrenta crises econômica, política e social. Diante das incertezas, a Ericsson reduziu ao máximo o contingente local e parou completamente a prospecção de novos negócios.

“Estamos mantendo ali uma estrutura mínima de atendimento aos clientes com quem já tínhamos contratos, mas não estamos buscando nada novo por enquanto”, explica o vice-presidente para a América Latina e Europa da Ericsson, Arum Bansal.

Preocupação

Embora os negócios estejam bem no Brasil – a empresa não revela os números, mas garante que haverá forte crescimento este ano – há uma preocupação no horizonte. Ekholm, o CEO, diz que o resultado do contencioso na Organização Mundial do Comércio poderá definir o futuro da fábrica no Brasil. “Somos uma empresa global, e sempre pensamos onde é mais racional produzir”, afirma.

Segundo ele, caso a Lei de Informática venha a ser suspensa, como quer a OMC, o governo deverá trabalhar com alternativas que prevejam créditos tributários a quem investe em P&D ou algo similar. “Atualmente é muito racional produzir aqui. Se o cenário mudar dramaticamente, aí teremos que analisar melhor. Por agora, acabamos de lançar um produto“, contemporiza.

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Rafael Bucco

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