Banda larga: redução da base de ISPs não é uniforme
A redução da base total de assinantes dos provedores regionais de acesso à internet e serviços de telecomunicações (ISPs) registrada em janeiro, da ordem de 4,5% de acordo com os dados da Anatel, não se deu de forma uniforme. Muitos ISPs, especialmente aqueles com menos de 10 mil assinantes, um total de 211 grupos econômicos, continuaram registrando ampliação de sua base de clientes no início de 2016, repetindo o quadro de 2015. O que houve, neste segmento, foi uma redução do ritmo do aumento da base de clientes.
Segundo técnicos da Anatel, a redução da base de banda larga dos ISPs em 106,3 mil acessos, pode ser explicada pelo movimento normal de limpeza de usuários inadimplentes nos meses que antecedem ao pagamento da Taxa de Fiscalização de Funcionamento (TFF, que juntamente com a Taxa de Fiscalização de Instalação – TFI, compõe as taxas do Fistel), que tem que ser recolhida em 31 de março de cada ano. A taxa é relativa à totalidade das estações licenciadas até 31 de dezembro do ano anterior.
Como a queda de usuários se deu nos acessos providos por rádio (spread spectrum) – houve um pequeno aumento nos acessos por fibra óptica (+0,5% do total da base) – o que é certo é que vai haver queda no recolhimento da TFF. Ao analisar esses dados, Erich Rodrigues, presidente da Abrint, entidade que representa os provedores em nível nacional, levanta a hipótese de que toda a limpeza de base se deu em cima dos acessos de rádio, que veem sendo substituídos pela fibra. “Mas pode ter havido uma defasagem entre o desligamento do rádio e a ativação da fibra, justamente por conta da proximidade do pagamento da TFF”, avalia. Já as grandes operadoras, com mais de 100 mil assinantes, registraram expansão em sua base de banda larga fixa.
Capacidade de investimento
Se a explicação for de fato procedente, ela não se distribuiu de forma homogênea entre os ISPs, que contam, no conjunto, com quase 2,3 milhões de clientes de banda larga. De dez empresas, de diferentes regiões do país, ouvidas pelo Tele.Síntese, apenas uma apresentou recuo em sua base. Em todas as demais, as novas aquisições superaram os eventuais desligamentos. “O que temos notado é uma redução das novas adições, com um pequeno aumento da inadimplência. Nosso maior problema está na falta de capacidade de investimento para atender à demanda”, explica Manoel Santana, presidente da Via Real, que atua na Zona da Mata mineira.
A falta de capacidade de investimento também afeta o ritmo de expansão da Lifenet, tradicional provedor da região de Marília, no interior paulista. “Temos enfrentado uma desaceleração nas novas instalações, porque, com o aumento dólar, precisamos repassar os custos para a taxa de instalação paga pelo cliente”, diz Oswaldo Zanguettin Filho, diretor de operações. Com 12 mil assinantes, apesar da conjuntura econômica adversa o problema da Lifenet é não ter como bancar o aumento do preço do modem sem ter de repassá-lo para o cliente. Mas mesmo mais lentamente, a base continua crescendo em cima da rede de fibra óptica. Há muito tempo a empresa não instala mais rádio.
Também a Via Real avança com a rede de fibra, mas ainda é obrigada a colocar rádio em regiões de mais difícil acesso. Segundo Santana, se a empresa tivesse maior capacidade de financiamento, poderia agregar entre 1,6 mil e 1,8 mil novos assinantes/mês. Mas só consegue ampliar a base em 800 usuários pois não tem como bancar o modem, o equipamento que vai na casa do cliente.
Com cerca de 3 mil assinantes, a MegaInfoline, da Bahia, cresceu sua base em 40% no ano passado. E em janeiro deste ano manteve o ritmo de adições. “Tivemos sim um aumento da inadimplência para 10%; no entanto, não limpamos a base porque o cliente atrasa um pouco mas paga. Ninguém quer ficar sem internet”, conta o diretor Jackson Almeida. O mesmo fenômeno foi detectado por Marcelo Couto, sócio-diretor da NowTech, que atua em quatro pequenas cidades no Sudoeste de Minas Gerais. Aumento da inadimplência, mas sem encolhimento da base.
Dos ISPs ouvidos pelo Tele.Síntese só a Bignet, que atua na Baixada Santista, registrou encolhimento da base, seguindo o comportamento captado pelos dados registrados na Anatel. “Fizemos uma limpeza da carteira em função do aumento da inadimplência, movimento normal nos últimos meses do ano”, relata Basílio Rodriguez Perez, presidente da empresa e diretor de regulação da Abrint. Com 7 mil clientes, ele disse que o número de cancelamentos dobrou a partir de outubro, em função do cenário econômico. “Mas já se estabilizou”, diz ele.
Embora a Bignet tenha mais usuários em sua rede de rádio do que na de fibra, em janeiro, relata Perez, o faturamento dos clientes em fibra pela primeira vez superou a receita dos clientes atendidos pelo rádio. “Isso ocorre porque os clientes de fibra, empresas ou pessoas físicas, são clientes de maior valor agregado. E essa inversão das tecnologias na receita de banda larga e outros serviços vai continuar se acentuando”, aposta ele.