App VoIP que remunera usuários cresce no país
Os brasileiros se tornaram em março o segundo maior público do aplicativo WowApp, e devem se tornar o principal até o final de maio. O motivo por trás do sucesso reside na mecânica do produto. O app realiza chamadas de voz sobre IP, troca mensagens de texto e chamadas em videoconferência entre usuários gratuitamente.
Nada de novo.
O grande chamariz é a mecânica de remuneração dos usuários, que recebem uma parcela do dinheiro arrecadado com chamadas VoIP para fora da rede e com anúncios. Ganha mais quem trouxer novos membros, passando a faturar sobre a visualização de publicidade e uso das chamadas para telefone fixo e celular em uma corrente que chega ao oitavo grau de separação.
“O sistema parece uma pirâmide”, admite Thomas Knobel, criador do WowApp, em visita ao Brasil nesta semana. “Mas não é. Vemos como uma árvore, já que ninguém paga para entrar”, observa.
No Brasil o app já tem 190 mil usuários, atrás apenas da Romênia, onde foi lançado em outubro de 2015, e há 350 mil integrantes. No mundo, são 1,28 milhão de cadastrados. O Brasil é o país que mais adiciona pessoas por semana, seguido da Malásia.
Segundo o executivo, o compromisso da empresa é distribuir 70% das receitas entre os próprios usuários e incentivar que os valores sejam doados a instituições de caridade. No mundo, são 2 mil ONGs cadastradas para receber doações. No país, são 17, como Instituto do Câncer Infantil e Fundação Cafu. “Se não conseguirmos que pelos menos 8% dos ganhos dos usuários sejam revertidos a instituições, vamos colocar condicionantes”, prevê.
Desigualdade
Knobel diz que criou o serviço com a intenção de contribuir para a redução da desigualdade de renda no mundo. Ele conta que não considera sustentável a situação econômica atual, em que os 1% mais ricos da população mundial detém 50% dos bens do planeta. “No Brasil a desigualdade é menor, mas é muito grande também. Aqui, 1% da população concentra 40% da renda”, diz.
O empreendedor, que é suíço, se diz incomodado com essa disparidade e que, desde 2009, vinha pensando em como contribuir para que o sistema capitalista não acabe ruindo. “Quando maior a desigualdade, mais socialmente instável ele fica”, justifica.
Ao mesmo tempo, ele afirma que a internet, antes propagada como um meio em que impera a igualdade, se tornou um ambiente controlado por grandes corporações que arrecadam muito com o valor agregado pelos usuários. “A maioria de nós não está ciente que ao se usar um serviço gratuito está criando valor que vai para as corporações. Então pensei em como seria uma internet mais justa”, afirma.
Knobel disse que foi procurado por operadoras, em outros países, para que o app viesse instalado nos celulares. Mas descartou essa ideia por considerar a mecânica de convites componente essencial do sucesso. “Recusei porque quero que as pessoas compartilhem o app, pois assim forma-se uma rede que gera receitas compartilhadas por todos”, fala.
O usuário assíduo poderá converter os créditos ganhos no app em chamadas VoIP ou resgatá-los. O resgate poderá acontecer por transferência bancária, depósito junto à operadora de cartão de crédito, PayPal (no exterior). Ou pode-se optar pela doação direta a uma das instituições listadas. Para toda forma de resgate, há incidência de uma taxa, que pode ultrapassar os US$ 25 no caso de transferência interbancária. “Estamos abrindo contas no Brasil para reduzir esta taxa”, explica Knobel.
A receita da empresa vem toda de publicidade e dos serviços de VoIP para fora da rede. O aplicativo tem preços em linha com o visto em concorrentes. Novas fontes estão em estudo. Mas por enquanto, acredita ele, estas são suficientes. “O VoIP é um mercado de US$ 5 bilhões, enquanto a publicidade digital movimenta US$ 135 bilhões no mundo”, observa. Ele promete que, de forma alguma, vai negociar dados de usuários.
O app funciona em smartphones Android, iOS, tablets e computadores Windows ou Mac. Pode ser baixado gratuitamente. No site do serviço há uma lista de usuários dispostos a enviar convites a outros, acelerando a formação da rede.