Após boom de 2021, crédito para MPE tende a se deteriorar

Com juros de dois dígitos e inflação elevada, a expectativa é de uma redução na oferta de crédito e aumento da inadimplência.
Após boom de 2021, crédito para MPE tende a se deteriorar - Crédito: Divulgação
Francisco Ferreira, CEO da Biz Capital – Crédito: Divulgação

As fintechs de crédito para micro e pequenas empresas estão prevendo uma deterioração do mercado de crédito nos próximos meses. Nos últimos dois anos, o mercado de crédito para o segmento esteve aquecido e muitas empresas se endividaram. Dados da Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia (Sepec – ME) mostram que o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) atendeu, em 2020, 468 mil empresas e encerrou o ano com uma contratação de mais de R$ 37 bilhões em créditos. Em 2021, a expectativa do governo era fechar o ano com empréstimos totalizando R$ 25 bilhões.

Em 2022, com a piora nos fundamentos econômicos, com inflação elevada, acima de 10%, juros altos acima de dois dígitos e instabilidade política por conta das eleições, a expectativa é de uma redução da liquidez via oferta de crédito e aumento da inadimplência.

“As empresas começam a ter mais dificuldade de se financiar. Não vemos ainda uma grande crise, mas, sem dúvida, o cenário para esse público em 2022 será mais desafiador. As empresas conseguiram nos últimos dois anos se financiar mais e a taxas bastante atrativas por conta de programas como o Pronampe e dos juros baixos. Agora com o novo perfil de juros e inflação muita gente vai ter muita dificuldade para continuar se financiando. Com o aumento da inadimplência, haverá uma menor concessão de crédito”, analisa Francisco Ferreira, CEO da BizCapital.

Ele explica que em 2020 e 2021, o Pronampe ajudou porque permitiu criar cultura de crédito e porque gerou demanda das empresas que não eram elegíveis. O foco da BizCapital são negócios de R$ 120 mil a R$ 10 milhões ano, de varejo, e-commerce, empresas de serviços de manutenção, contabilidade, advocacia. A empresa foi criada em 2017 como correspondente bancário, operando em parceria com a BMP, Socinal e QI Tech.

“Nossa plataforma conecta empresas a essas financeiras e oferecemos uma experiência digital não só para tomar crédito, mas também para conta digital e serviços de pagamento, ampliando nosso o leque para sermos um banco digital PJ com todos os serviços financeiros que as empresas precisam. Praticamos taxas a partir de 1,79% a 4,5% ao mês. Tipicamente a que consegue a taxa de 1,79% é mais antiga, com mais de dez anos, e com um histórico de crédito muito bom no mercado, formalizada e com impostos em dia”, sinaliza Ferreira.

Ele estima que haverá um aumento de inadimplência em 2022. A BizCapital tem inadimplência na casa de 10%. A empresa já concedeu mais de R$ 800 milhões em crédito para cerca de 13 mil empresas. A modalidade é de crédito sem garantia. Para 2022, a empresa aposta em novos produtos como o Mais Biz, um crédito para adiar o pagamento de boletos com taxas de 5% ao mês, abaixo dos juros do cheque especial.

Inadimplência crescente

Na 123Qred a inadimplência chega a 20%. A empresa foi criada em 2019, como correspondente bancário da BMP Money Plus oferecendo crédito para a faixa de empresas com faturamento de pelo menos R$ 150 mil, a primeira camada acima do MEI. Adriano Duarte, CEO da 123Qred, evita falar em taxa de juros e reforça que o seu modelo de crédito é mais simples baseado em mensalidades, sem taxas ocultas. Quando convertida em juros o produto aponta para taxas a partir de 2% a 2,75% ao mês.

“Mas não é só juros, a empresa sabe quanto está amortizando por mês. É como se fosse uma mistura de tabela SAC com tabela Price. Nosso produto veio desmitificar o crédito de uma conotação negativa. Para nós crédito é para fomento de negócios e aliado a isso a ideia de crédito consciente, que é uma fermenta muito boa se for bem usada, tanto por quem toma quanto por quem concede. Uma empresa acha que precisa de R$ 100 mil e orientamos a pegar inicialmente R$ 30 mil, crescer, pegar mais R$ 30 mil e assim vai”, distingue Duarte.

Ele diz que no final de 2020, quando terminou a primeira onda da pandemia, todos achavam que os negócios iam deslanchar. Mas veio a segunda onda que pegou todos de surpresa e muitas empresas passaram a recorrer ao crédito de forma desesperada, como último recurso para apagar o incêndio.

“No caso da 123Qred foram mais de 100 mil solicitações de crédito nos últimos 16 meses e estamos com pelo menos mais de 650 contratos ativos. A notícia boa é que fomos vendo uma evolução com as empresas voltando a se organizar. O que precisamos fazer é voltar pauta sobre a importância do crédito consciente”, alerta Duarte.

Para ele, as micro e pequenas empresas são muito mal assistidas pelo mercado financeiro hoje porque elas requerem que a análise financeira seja feita de outra forma do que a as médias e grandes empresas. Isso gerou um aumento de penetração das fintechs.

“Existe uma necessidade cada vez maior de as empresas se apoiarem no crédito para começarem a traçar seus planos de recuperação pós-covid. Cabe a todo mundo que oferece crédito saber apresentar uma proposta que seja sustentável. O mercado já vem sofrendo com a inadimplência. No nosso segmento, já tive o portfólio batendo em 30% e depois recuar para 5%. Isso mostra o despreparado do pequeno empreendedor, por isso a responsabilidade de quem concede crédito”, ensina Duarte.

Por Carmen Nery

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Redação DMI

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