Anselmo Arce: ESG, tecnologia e o campo conectado

A sustentabilidade econômica deve receber a mesma atenção que as demais áreas, pois é muito sensível e, sem ela, não há desenvolvimento social ou preservação ambiental.
ConectarAGRO: ESG, tecnologia e o campo conectado
Para Anselmo Del Toro Arce, diretor de gestão da ConectarAGRO, ‘falar de ESG no campo é ter muito cuidado em equilibrar todos os pilares’ | Foto: Divulgação

* Anselmo Arce

Nos últimos anos, ouvimos falar muito sobre tecnologias digitais, muito sobre ESG e muito sobre o agronegócio brasileiro. Obviamente, são assuntos de suma importância, no entanto, falta falarmos sobre a integração destes três temas, os desafios e benefícios ao agregá-los. Não preciso falar, mas vale sempre lembrar, a importância da preservação das florestas nativas. Fora do Brasil, em países da Europa, a relação de áreas produtivas versus desmatadas é muito pior que aqui, e mesmo assim, o nosso agronegócio é alvo de discussões. E isso não representa uma defesa ao desmatamento, a questão é que no Brasil é possível aumentar muito a produção agrícola sem afetar as florestas, lembrando que menos de 10% de suas áreas são voltadas à agricultura.

Nosso país tem uma reserva formada por 40 milhões de hectares de área rural degradada que podem ser recuperadas se utilizadas as devidas técnicas e incentivos. Aqui entra então, o ESG no campo, no agronegócio que tem sustentado o PIB brasileiro há décadas. Permitir nestes locais o acesso às informações e tecnologias para recuperação dessas áreas degradadas é investir em sustentabilidade. Por meio do levantamento e leitura de dados e aplicação da tecnologia é possível encontrar as melhores formas para manejar e recuperar o solo, otimizar a utilização de água e acelerar processos de descarbonização (para redução dos gases causadores do aquecimento global), ao mesmo tempo, em que oferecer de forma direta o desenvolvimento social com geração de empregos e qualidade de vida às comunidades locais.

Aumentar a produção agrícola não é um luxo, é uma necessidade. Porque a população mundial, que cresce ano a ano, precisa se alimentar. É preciso aumentar a produção de alimentos para se manter o “social” beneficiado, e ainda proteger o meio ambiente.

Muitas pessoas, inclusive do campo, ainda não entendem os negócios rurais como empresas. Uma propriedade rural produtiva é como uma indústria a céu aberto. Tem todos os desafios e dinâmicas da gestão de uma indústria adicionados ainda aos fatores incontroláveis do clima, além do desafio da inconstância dos preços de compra dos insumos e vendas de seus produtos, que são, em sua maioria, comodities. Quer ambiente mais desafiador?

Então, falar de ESG no campo é ter muito cuidado em equilibrar todos os pilares. A sustentabilidade econômica deve receber a mesma atenção que as demais áreas, pois é muito sensível e, sem ela, não há desenvolvimento social ou preservação ambiental, técnicas para cuidar do meio ambiente precisam ser encaradas como um negócio, só assim poderão ser expandidas.

Ainda enxergando a agricultura como empresa, sabemos que as empresas de todos os segmentos têm investido fortemente em novas tecnologias, especialmente nas conectadas à internet, com dados salvos em nuvens, equipamentos trabalhando em rede, tecnologias machine-to-machine, inteligência artificial e assim por diante.

Por que seria diferente no campo?

Os países que se desenvolveram, se dedicaram a levar tecnologias ao campo e obtiveram êxito com isso.

Permitir o acesso à internet é oferecer dignidade e estimular a cidadania de milhões de brasileiros com poucos recursos de informação, formação e cultura. Nenhum brasileiro deveria estar privado deste direito. Levar conectividade a todos os lugares é equalizar as diferenças nas variadas regiões do país.

Durante a pandemia falamos muito sobre o acesso à educação por meio de ferramentas online. Algo muito real nos grandes centros, em especial entre as classes mais abastadas, mas totalmente inexistente em zonas rurais sem conectividade. O acesso à educação permite aos jovens terem possibilidade de trabalhos com mais tecnologia, que é um desejo de boa parte dessa geração. Com um melhor acesso, é possível que estes jovens vislumbrem um futuro no campo permanecendo lá revertendo, desta forma, o êxodo para os centros urbanos. Além disso, os produtores rurais passam a ter disponível uma gama de tecnologias que os auxiliam no ganho de eficiência em diversas frentes, com gestão detalhada e em tempo real.

Falar de eficiência na agricultura significa também, invariavelmente, falar em benefícios ao meio ambiente. Menor consumo de combustível pelos tratores e máquinas, uso racional de fertilizantes e defensivos agrícolas, economia de energia e de água etc. O mundo fala sobre absorção de CO2 e esse processo em grande escala só é possível com a aplicação de tecnologias no campo, pois o carbono só pode ser estocado nas plantas ou no solo. Nenhuma indústria ou outro setor consegue, através da tecnologia, absorver e estocar tanto carbono como o agro.

Existe ainda um tabu de que a tecnologia no campo só é acessível ao grande produtor. Os benefícios trazidos pela conectividade rural são democráticos, isto porque, os pequenos são mais sensíveis a determinadas economias e ganhos de eficiência, pois ou ele mesmo executa as funções, ou a margem desse produtor é menor que a do maior. Mais uma vez, é um benefício social advindo pela tecnologia, sem abrir mão do ganho econômico.

Para concluir, reforço que ESG deve ser perseguido seriamente por todas as empresas e que, um mundo realmente sustentável só é possível com uma agricultura equilibrada e promissora, capaz de trazer benefícios ao meio ambiente, gerar empregos e dignidade às populações de todas as regiões e movimentar a economia local e nacional.

* Anselmo Del Toro Arce, diretor de gestão da ConectarAGRO

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