Agricultor ainda está descobrindo como rentabilizar a conectividade

Para especialistas reunidos na Futurecom23, cobertura já não é o principal desafio da digitalização do campo, e sim, fazer o agricultor compreender como rentabilizar o investimento em soluções conectadas

painel agro futurecom 23

Levar conectividade ao campo já é visto como um desafio menor em comparação com educar o agricultor a utilizar a tecnologia e a buscar aplicações que façam a diferença em sua propriedade rural. Esta foi uma das tônicas do painel “O Agro conectado, digital, mais produtivo e com menor desperdício” que aconteceu nesta terça-feira, 3, na Futurecom23.

Aldo Clementi, diretor de desenvolvimento de negócios da IHS Tower, disse que a cobertura móvel no país atinge entre 28% e 30% da área agricultável. Mas isso não significa inviabilidade para digitalização do campo.

Ana Helena Andrade, presidente da Conectar Agro, iniciativa que reúne produtores, fabricantes de maquinários, equipamentos de telecom e a TIM, ressalta que há uma disparidade na qualidade do acesso no campo no Brasil.

Segundo ela, 10% das propriedades produzem 90% do que é exportado. Estas já têm algum nível de maturidade quanto ao uso da conectividade. O maior problema existe nas unidades menores. “Hoje, 70% das propriedades rurais ainda não têm infraestrutura [de comunicação móvel]”, afirmou.

Mas, principalmente, há um vácuo nos produtos de conectividade oferecidos por trás dessas cifras. “A questão hoje é desenvolver modelos de negócio que viabilizem o uso da infraestrutura. Os modelos oferecidos não conversam com as necessidades das propriedades”, falou.

Eduardo Polidoro, diretor de IoT da Claro, concorda que a questão já deixou de ser a mera chegada da conectividade para o agricultor.

“As três operadoras já têm atuação forte, estão em todos os lugares do Brasil. Se não tiver uma, tem outra. Precisamos que os agricultores usem. Conectamos empresas, mas tem algumas que não aproveitam todo o potencial. A conectividade está resolvida, basta querer ter. A dificuldade hoje está na forma como utilizar”, avaliou.

Tomás Balistiero, COO da Citrosuco, apresentou ponto de vista no mesmo sentido. A seu ver, os resultados de digitalizar o campo vêm em longo prazo, e obedece a um escalonamento claro: a chegada da infraestrutura, a geração de conhecimento, e finalmente, a descoberta das aplicações que fazem a diferença ao negócio do produtor rural.

“A primeira fase da nossa estratégia foi investir em infraestrutura. Colocamos mobilidade em todo o nosso processo produtivo. Mesmo assim, ainda tem elementos que são gargalos, pois o volume de dados levantados é muito significativo, e a  Citrosucco digitalizou árvore por árvore. Depois veio o treinamento das pessoas. Agora estamos na fase da descoberta de aplicações. O retorno do investimentos em conectar o agro não vem no primeiro ano. As falhas vêm primeiro ano, e o sucesso vem depois”, concluiu.

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Rafael Bucco

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