ABDI vai propor ao governo uma estratégia para atração de data centers

Entidade está realizando mapeamento que vai levar à criação de uma Estratégia Nacional de Atração de Data Centers. Já identificou gargalos tributários, jurídicos e de desenvolvimento regional
Credito: Freepik
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A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) está trabalhando na proposta de uma Estratégia Nacional de Atração de Data Centers. Segundo Igor Calvet, presidente da ABDI, entidade autônoma com contratos de gestão junto ao governo federal, um estudo detalhado das oportunidades e desafios neste setor está em fase final de execução. Um de seus resultados será a proposta de melhores práticas em políticas públicas para que o Brasil dispute também este mercado.

Calvet participou hoje, 24, do Brasscom Tec Fórum. No evento, defendeu que além das redes de telecomunicações, os data centers também precisam ser vistos como estruturas economicamente críticas, uma vez que a digitalização exige disponibilidade dos serviços em nuvem, de alto desempenho computacional e de armazenamento.

“Os data centers são críticos do ponto de vista da competitividade. Segundo o Fórum Mundial, a economia digital vai movimentar nos próximos 10 anos 100 trilhões de dólares. Se não tivermos conectividade e data centers, estaremos apartados da economia mundial e não seremos competitivos”, resumiu Calvet.

Segundo ele o Brasil tem um déficit de data centers em relação ao próprio potencial. “A ABDI realizou um estudo e apresentamos, ainda de maneira preliminar, um material que pode resultar em uma estratégia nacional de atração de data centers. Identificamos gargalos, oportunidades e as melhores práticas internacionais em atração de data centers para o país. O estudo foi focado em mapear oportunidades, identificar custos inerentes a um data center, analisar ações de países bem sucedidos para replicarmos, e apresentar a proposta de política pública de atração”, contou.

Ele afirma que o estudo já apontou como desafios os custos elevados para construção e operação dos data centers no Brasil, em especial devido à elevada carga tributária, ao preço da energia, e o custo de importação de equipamentos.

“Outro gargalo é a incerteza jurídico-regulatória em relação à mudança de regras setoriais, tributárias, de fornecimento de energia, regras de negócio”, acrescentou.

O executivo apontou ainda para a falta de mão de obra qualificada e para a concentração de infraestrutura em poucas regiões metropolitanas. “Precisamos desconcentrar infraestruturas físicas de transmissão de energia e transporte”, falou. E ressaltou que o Brasil precisa agir rápido, pois a commoditização dos serviços de data center “pode ser obstáculo para entrarmos de maneira competitiva nesse mercado”.

Mais infraestrutura crítica

Presentes no mesmo painel, Atilio Rulli, da Huawei, frisou a importância de as cidades facilitarem o uso de dutos e postes para disseminação da banda larga fixa, do 5G. Com leis adequadas de uso do solo, pontuou, será possível fazer não apenas redes de acesso de maior qualidade, como também investir em backbone e backhaul de maior capacidade para o transporte rápido dos dados da ponta aos data centers.

O deputado Vitor Lippi (PSDB-SP) lembrou que tramitam na Câmara dois PL de sua autoria sobre infraestruturas críticas. Um deles, o PL 8518, estabelece o silêncio positivo para instalação de antenas. Com isso, determina que se uma prefeitura não se pronunciar sobre um projeto de rede em 60 dias, o projeto poderá ser levado a cabo.

Segundo ele, o texto tramita em urgência na Câmara, já está pacificado com os demais parlamentares, mas é preciso pressão do governo e social para que seja apreciado. “Acredito que em semanas ele possa ser aprovado”, afirmou.

O outro PL por ele mencionado, de número 3861, trata do direito de passagem. “Os estudos mostram que a construção de uma infraestrutura prevendo já o compartilhamento, o direito de passagem, eleva seu preço em 0,03%. Se não tiver essa previsão, refazer a obra depois para ter direito de passagem representa custo adicional de 34% à obra”, enfatizou. Este texto, porém, ainda tem que passar por várias comissões. Está na Comissão de Finanças da Câmara, e só depois de aprovado ali deve ser encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça.

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Rafael Bucco

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